[Primeira parte do artigo publicado originalmente na primeira edição da Revista Estudos Nacionais (dezembro/2017), revisado e aumentado em 9/08/2019]
Entre 1974 e 1984, na Inglaterra, existiu um movimento de pedófilos chamado P.I.E. (Pedophile Information Exchange), que, entre outras coisas, trabalhava abertamente em um lobby no congresso britânico para diminuição da idade de consentimento para relações sexuais, em um período muito peculiar da história britânica, quando a defesa da pedofilia encontrou ouvidos atentos na mídia e apoio governamental. Durante 10 anos, eles falavam abertamente sobre pedofilia, inserindo a prática na pujante liberação gay que assolava a Europa e o mundo, como resultado fortuito da Revolução Sexual.
O movimento até recebia dinheiro do governo britânico para a sua atividade, por meio de verbas do Serviço de Voluntários do Ministério do Interior. O P.I.E. foi criado em 1974, dizendo defender a “sexualidade das crianças” por meio da diminuição da idade de consentimento para parceiros menores de 18 anos.
Em uma matéria da BBC, o jornalista Christian Wolmar lembra das táticas dos pedófilos da época: “Eles não salientavam que eram homens de 50 anos que queriam fazer sexo com crianças de cinco anos. Eles apresentaram isso como liberação sexual de crianças, ao dizer que as crianças deveriam ter o direito ao sexo”, conta.
Ainda nos parece absurdo pensar nisso, mas os ativistas pela pedofilia, durante aqueles 10 anos de existência da PIE, alcançaram grande apoio de políticos, acadêmicos e uma cobertura favorável dos meios de comunicação. Isso não quer dizer que o grupo era tolerado pela sociedade. Havia muita indignação entre os britânicos e apenas as elites, com o apoio da mídia, festejavam-os como sinônimo de vanguarda dos direitos.
Mesmo entre acadêmicos alguns protestos ocorreram e, aos poucos, os ativistas da PIE começaram a ser malvistos e rejeitados pela sociedade. Quando o grupo decidiu fazer seu primeiro congresso aberto, no University College, enfrentaram tumulto de manifestantes contrários a eles.
Mas nos meios de comunicação eles continuavam tendo algum prestígio, apesar da cobertura dos protestos.
Em uma entrevista à BBC, em 1983, o ex-diretor do PIE, Steven Adrian Smith dizia:
Os pedófilos não abusam da sexualidade infantil, mas desenvolvem uma sexualidade mútua com a criança. É uma relação inteiramente recíproca. (…) Um pedófilo gentil e responsável sempre busca conhecer os desejos firmes da criança (BBC, 1983).
Outros membros do mesmo grupo tiveram cargos importantes no setor público e privado, como Peter Righton, assistente social, especialista em proteção infantil e consultor do Escritório Nacional da Criança. Righton, que morreu em 2007, escreveu abertamente em defesa da pedofilia, mesmo enquanto trabalhava em órgãos de defesa infantil, na década de 1970.
A ação de lobby do movimento chegou a pedir a redução da idade de consentimento para quatro anos de idade, o que só então começou a despertar indignação. Mas houve resistência do governo, pois a atividade do movimento estava abrigada pelo Conselho Nacional para Liberdades Civis e contava com altos funcionários.
O principal motivo do seu sucesso na época foi a inserção do grupo entre os movimentos homossexuais, que frequentemente aprovavam suas resoluções em favor de redução de idade de consentimento para homossexuais. Embora alguns homossexuais ficassem também horrorizados com a associação entre sexo e crianças, a verdade é que, como lembra o jornalista Matthew Parris, qualquer ideia que levasse a palavra “libertação” no nome, seria altamente atrativo a quem quisesse ser um jovem descolado nos anos 1970. A juventude rebelde rapidamente aderiu a essas ideias, lembra Parris.
Relações com a KGB
As coisas começaram a mudar para a P.I.E. depois da descoberta de um espião da KGB inserido no grupo. Geoffrey Prime era membro do movimento pedófilo e foi acusado de espionagem por ter revelado segredos britânicos à União Soviética. Prime tinha uma dupla importância estratégica, tanto para a KGB quanto para o movimento pedófilo: como parte do seu trabalho de espionagem, Prime havia se infiltrado no Conselho Nacional de Liberdades Civis do Reino Unido. Foi graças a essa posição privilegiada que o movimento pedófilo manteve poder e influência ao longo da sua existência.
Prime utilizava seus conhecimentos de espionagem para perseguir e molestar jovens e crianças. Seus crimes foram descobertos e ele foi preso em 1983, condenado a 38 anos. Em sua garagem, foram encontradas centenas de exemplares das revistas da PIE, junto de correspondências soviéticas que recomendavam que pedófilos recebessem mesmos direitos de homossexuais, de acordo com reportagem histórica do site DailyMail.
O P.I.E. acabou sendo fechado, na década de 1980, depois que as investigações de frequentes escândalos de pedofilia acabaram levando à exposição pública membros do movimento e funcionários públicos. A atividade política do grupo foi divulgada e começou a se tornar ultrajante para a sociedade britânica. A polícia inglesa continuou investigando vínculos entre altos funcionários com redes de pedofilia e, em 1992, acabou prendendo Peter Righton, quando encontraram correspondências que acusavam uma rede de pedofilia, juntamente com Terry Shutt, um dos fundadores do PIE, que foi acusado de importação de pornografia infantil.
Ficou claro, na época, que nenhuma iniciativa pedófila teria êxito enquanto a prática mantiver um estigma negativo na sociedade, isto é, contrária a valores tradicionais ainda em voga.
O N.A.M.B.L.A.
Nos EUA, em 1978, foi criada a Nambla. (sigla para: Associação Norte-Americana do Amor entre Homens e Garotos, em inglês) com o mesmo objetivo do P.I.E. Nambla é considerada a organização mais importante do ativismo pedófilo da atualidade. Entre 1984 e 1994, o Nambla estava integrado à ILGA (Associação Internacional de Gays e Lésbicas), integrante da ONU, mas foi expulsa. O movimento pedófilo alega que a expulsão da ILGA foi devido ao objetivo do movimento internacional de conseguir um status consultivo como ONG na Organização das Nações Unidas.
A ONU chegou a dar esse status ao ILGA em 1993 mesmo com a associação com o Nambla, mas com a ameaça do governo dos EUA de cortar financiamento às Nações Unidas enquanto abrigasse movimentos pedófilos, o ILGA decidiu pela dissociação com o Nambla, sendo então admitido pela ONU no ano seguinte após protestos de organizações pedófilas de outros países.
O ILGA é um dos principais promotores da Ideologia de Gênero na ONU por meio da UNESCO, embora haja hoje centenas de outros movimentos e ONGs feministas empenhadas na causa da educação sexual para idades cada vez menores.
Os movimentos atuais para a aceitação da pedofilia se revestem de motivos humanitários em favor de vítimas de acusações de abuso. O site Childhood, pautado na luta contra a violência sexual com crianças e abusos, conclama as pessoas a lutar também contra a depressão e o suicídio de pedófilos. Para isso, recomendam um tratamento mais respeitoso com pedófilos, com mais compaixão e menos estigmatização.
Para Matthew Hutton, que admite sentir atração por crianças, o mais difícil nessa condição é ter de lidar com a visão de que pessoas assim são sempre monstros com más intenções. “É completamente fora da realidade pensar que somos todos perigosos”, diz o texto no site Childhood.
O ativismo atual busca, com isso, contornar as alternativas criminais contra pedófilos, a partir da redefinição de um problema social. Com isso, associa-se um potencial criminoso a um doente, tal e qual foi feito com a homossexualidade décadas atrás, em países como a Inglaterra, onde a homossexualidade era crime.
Apesar de existir a distinção clara entre pedófilo e abusador, ela é tão complexa que torna difícil lidar. Na verdade, essa distinção hoje está nas mãos de ativistas interessados na normalização da sexualidade infantil, o que naturalmente atente aos mesmos interesses dos financiadores de movimentos LGBT, apesar desses últimos em geral abominarem essa associação.
continua…
Próximo episódio da série: A relação entre a pedofilia e o ocultismo