O movimento chamado de Dissidência Tradicionalista nasceu de uma influência indireta do trabalho de Olavo de Carvalho, sendo uma agremiação formada por críticos dele em matéria política e cultural, que passaram a se associar mais ao esoterismo e ao perenialismo tradicionalista de René Guénon e Fritjoff Schuon, terminando por se tornar uma das mais influentes bases ideológicas e espirituais do eurasianismo, ideologia russa contemporânea, e das novas ideologias políticas de terceira posição – vertentes neofascistas em ascensão. Também formaram parte importante do ecossistema editorial e cultural que age na perseguição e limitação da influência de Olavo de Carvalho, especialmente após o debate deste com o ideólogo russo Alexander Dugin.
Como dissemos, esse movimento surge da crítica, de uma fratura com o que chamaríamos de olavismo, o que demanda compreender historicamente. A ruptura entre a Dissidência Tradicionalista e o olavismo se deu por diferentes razões. O presente texto é extraído de uma série de relatos de membros e ex-membros destes grupos.
Em primeiro lugar, muitos dos dissidentes rejeitavam o alinhamento de Olavo ao conservadorismo político, preferindo uma abordagem mais distanciada das disputas partidárias e mais voltada para a busca de uma renovação espiritual e filosófica. Além disso, enquanto Olavo enfatizava a necessidade de um combate direto às ideologias modernas, os dissidentes estavam mais interessados na reconstrução de uma elite intelectual baseada nos princípios tradicionais.
Outro ponto de divergência dizia respeito à postura diante da modernidade.
Enquanto Olavo considerava possível resgatar certos valores tradicionais dentro da sociedade contemporânea, alguns membros da Dissidência Tradicionalista adotavam uma visão mais radical, considerando a modernidade como um fenômeno irreversível e apostando na necessidade de uma ruptura completa com o mundo moderno. Essa visão se aproximava mais do pensamento de Evola, especialmente em sua ideia de uma “revolução conservadora” que rejeitava tanto o progressismo liberal quanto o conservadorismo tradicionalista.
O Impacto nos Debates Virtuais:
Nas comunidades do Orkut e nos primeiros fóruns dedicados ao tradicionalismo, essas tensões se manifestavam em discussões acaloradas. A influência olavista ainda era forte, mas, aos poucos, surgiam núcleos mais independentes que começavam a desenvolver uma leitura própria das obras perenialistas. Nomes como Uriel Araujo e Dídimo Matos foram fundamentais nesse processo, ao trazerem novas perspectivas e incentivarem a tradução e a publicação de textos inéditos no Brasil.
Além disso, a dissidência começou a se distanciar do tom combativo do olavismo e a buscar um caminho próprio, focado mais na reflexão filosófica e menos na disputa política imediata. Isso não significava um afastamento total da esfera política, mas sim uma tentativa de abordar os problemas contemporâneos a partir de um referencial mais profundo, que transcendia as lutas partidárias e ideológicas do momento.
Os Encontros Evolianos e a Estruturação da Dissidência – A Transição do Virtual para o Presencial
Após anos de intensos debates em fóruns e comunidades online, a Dissidência Tradicionalista começou a dar seus primeiros passos no mundo físico. O desejo de aprofundar discussões sem as limitações dos espaços virtuais levou à organização dos chamados Encontros Evolianos, eventos que reuniam intelectuais, estudiosos e interessados no pensamento de Julius Evola, René Guénon e outros autores da tradição esotérica.
Dídimo Matos, Uriel Araujo e Maurício Oltramari foram algumas das figuras centrais nessa transição. Com a experiência adquirida na articulação de debates virtuais, esses nomes passaram a organizar encontros presenciais que tinham como objetivo consolidar uma rede mais estruturada de pensadores dissidentes. Os eventos ocorriam de maneira reservada, muitas vezes sem ampla divulgação, garantindo que apenas os realmente interessados tivessem acesso às discussões.
Os Encontros Evolianos representaram um marco importante porque permitiram que a dissidência se tornasse um movimento concreto, com uma base de participantes que ia além das interações digitais. Foi nesses encontros que muitas colaborações futuras foram estabelecidas, incluindo traduções de obras, criação de editoras independentes e articulações políticas.
As Temáticas dos Encontros
Os temas abordados nos Encontros Evolianos eram variados, mas giravam sempre em torno das questões centrais do tradicionalismo: a crítica à modernidade, a necessidade de uma aristocracia espiritual e a busca de um caminho para restaurar a tradição em um mundo dominado pelo materialismo.
Entre os principais temas debatidos estavam:
- A crítica ao mundo moderno de Guénon e Evola – Comparação entre suas visões e suas possíveis aplicações no contexto brasileiro.
- O conceito de “Revolta contra o Mundo Moderno” – A ideia de Evola sobre a resistência de uma elite espiritual contra o declínio civilizacional.
- A relação entre tradicionalismo e política – Discussões sobre se era possível (ou desejável) intervir no cenário político a partir de uma perspectiva tradicionalista.
- As influências sufis, védicas e herméticas no pensamento tradicionalista – Abordagens comparativas entre diferentes correntes esotéricas e seus pontos de convergência.
- A questão da iniciação e da transmissão da tradição – Reflexões sobre a possibilidade de uma prática espiritual autêntica no contexto contemporâneo.
Além das palestras e discussões, os encontros também serviam para a troca de livros e materiais de difícil acesso, muitas vezes importados ou traduzidos pelos próprios membros. Esse intercâmbio foi fundamental para a formação de uma biblioteca comum entre os dissidentes, permitindo que o conhecimento se espalhasse de forma mais ampla.
A Formação de uma Rede Intelectual:
Com o passar do tempo, os Encontros Evolianos começaram a atrair não apenas indivíduos isolados, mas também grupos que já tinham suas próprias iniciativas. Algumas editoras independentes passaram a colaborar com os dissidentes, traduzindo e publicando livros que dificilmente encontrariam espaço no mercado editorial convencional.
A Editora Austral, por exemplo, teve um papel importante ao trazer ao público brasileiro textos inéditos de Evola, Guénon e outros pensadores da tradição. Outras editoras menores, como a Estrela da Manhã e a Bismilah, também se envolveram em projetos de publicação ligados à Dissidência.
Além das editoras, surgiram colaborações com acadêmicos que, embora não se identificassem totalmente com a Dissidência, viam nela um fenômeno intelectual relevante. Isso levou a um diálogo produtivo entre os dissidentes e certas vertentes da filosofia e das ciências humanas, permitindo que suas ideias fossem discutidas em um nível mais sofisticado.
O Papel dos Encontros na Consolidação da Dissidência:
Os Encontros Evolianos marcaram uma nova fase da Dissidência Tradicionalista, dando-lhe uma estrutura mais concreta e organizada. A partir deles, deixou de ser apenas um fenômeno de Internet para se tornar uma rede de contatos reais, com colaborações duradouras e projetos ambiciosos.
A partir desse momento, a dissidência começou a ter um impacto mais visível no cenário cultural e intelectual brasileiro. Se antes suas discussões estavam restritas a fóruns e blogs, agora elas começavam a se manifestar em livros, conferências e até mesmo em alguns espaços acadêmicos.
As Divergências Internas e o Pluralismo Tradicionalista – O Crescimento da Dissidência e o Surgimento de Facções:
À medida que a Dissidência Tradicionalista se consolidava, novas tensões começaram a emergir. O próprio crescimento do movimento trouxe consigo uma diversidade de perspectivas que, com o tempo, levaria a inevitáveis rupturas. Enquanto alguns participantes se inclinavam para uma abordagem mais acadêmica e filosófica, outros adotavam um viés mais militante, buscando uma intervenção direta na cultura e até mesmo na política.
As divergências giravam em torno de questões centrais, como a relação entre espiritualidade e política, a interpretação da obra de Julius Evola e René Guénon, e o papel das organizações iniciáticas no mundo contemporâneo. Embora houvesse um consenso geral sobre a decadência do mundo moderno, cada grupo dentro da dissidência propunha uma resposta diferente para esse problema.
Com o tempo, a Dissidência Tradicionalista se fragmentou em três grandes tendências:
1. Os Perenialistas Estritos – Este grupo permanecia mais fiel à visão de René Guénon e Frithjof Schuon, defendendo uma abordagem contemplativa e espiritual da tradição. Para eles, qualquer envolvimento político era visto como uma distração ou mesmo um desvio da busca pelo conhecimento metafísico e pela iniciação legítima. Esse grupo manteve laços com círculos sufis e védicos e enfatizava a necessidade de uma filiação tradicional autêntica.
2. Os Evolianos Ativistas – Inspirados na obra de Julius Evola, estes dissidentes viam a modernidade como um campo de batalha e defendiam uma postura mais combativa. Diferente dos perenialistas estritos, acreditavam na possibilidade de uma ação transformadora dentro da sociedade, mesmo que em pequena escala. Eles se aproximavam da ideia de uma “revolta aristocrática” e estavam mais dispostos a interagir com certos movimentos políticos que refletissem seus princípios.
3. Os Sincretistas e Experimentadores – Esta vertente reunia indivíduos que transitavam entre diferentes escolas de pensamento, incorporando elementos do esoterismo ocidental, do neoplatonismo e até mesmo de tradições não diretamente ligadas ao tradicionalismo. Sua abordagem era mais aberta e experimental, o que gerava atritos com os grupos mais ortodoxos.
Essas três correntes não estavam rigidamente separadas, e havia indivíduos que transitavam entre elas. No entanto, as diferenças tornaram-se mais acentuadas à medida que a dissidência crescia e cada facção começava a desenvolver suas próprias iniciativas, publicações e eventos.
Divergências sobre o papel na política
Uma das discussões mais acaloradas dentro da dissidência dizia respeito à relação com a política. Enquanto os evolianos ativistas acreditavam que era possível influenciar a sociedade por meio da política e da cultura, os perenialistas estritos consideravam isso um erro, argumentando que qualquer envolvimento com o mundo profano levaria à corrupção da tradição.
Essa divergência ficou evidente nos Encontros Evolianos, onde debates sobre temas como a “revolução conservadora” e a viabilidade de uma aristocracia espiritual geravam discussões intensas. Alguns defendiam uma ação cultural mais incisiva, enquanto outros alertavam para os perigos de se misturar com as disputas políticas mundanas.
Com o tempo, as diferenças entre essas correntes se tornaram mais visíveis, levando a conflitos internos. Acusações de desvio doutrinário, sectarismo e até mesmo disputas pessoais começaram a surgir. Em alguns casos, houve rupturas definitivas, com grupos se distanciando e criando suas próprias redes de contato.
Ainda assim, apesar das tensões, a Dissidência Tradicionalista continuou a crescer e a se diversificar. Se por um lado as divergências geraram conflitos, por outro também permitiram que novas perspectivas fossem exploradas, enriquecendo o debate e garantindo que o movimento não se tornasse uma doutrina rígida e monolítica.
Publicações e a Disseminação das Ideias Tradicionalistas – O Papel das Editoras Independentes:
Com o crescimento da Dissidência Tradicionalista, a necessidade de material bibliográfico tornou-se cada vez mais evidente. Embora autores como René Guénon e Julius Evola já tivessem algumas obras publicadas no Brasil, muitas dessas edições eram raras ou estavam esgotadas. Além disso, diversos textos fundamentais do pensamento tradicionalista permaneciam inacessíveis ao público de língua portuguesa.
Diante desse cenário, algumas editoras independentes começaram a desempenhar um papel crucial na disseminação das ideias tradicionalistas. A Editora Austral foi uma das pioneiras, trazendo edições de Evola e outros autores perenialistas.
Já a Estrela da Manhã, ligada a Marcelo Cipolla, que é padrasto e sócio de Luiz Gonzaga de Carvalho Neto (o Gugu), além de padrasto e sogro de Tales de Carvalho, focou na publicação de textos de Guénon, Titus Burckhardt e Ramana Maharshi, expandindo o acesso a obras fundamentais para o estudo da tradição sob o ponto de vista perenialista.
A editora Bismilah, que era apenas um selo da mesma editora Estrela da Manhã, por sua vez, teve um viés mais específico, promovendo traduções de autores ligados ao esoterismo islâmico e ao sufismo. Essa editora tornou-se uma referência entre os perenialistas estritos, reforçando a importância da iniciação legítima dentro da tradição.
Embora não pareça muito claro para alguns, fica evidente que os primeiros filhos de Olavo de Carvalho não seguiram a mesma orientação espiritual do pai, que retornou ao catolicismo após experiências nefastas no tradicionalismo perenialista. Essa é uma posição importante para que alunos do Seminário Online de Filosofia não pensem que o ICLS é uma continuação do trabalho do filósofo – muito pelo contrário. Essa observação é fundamental especialmente para aqueles que estão entrando agora no meio conservador e estão interessados no trabalho do Olavo de Carvalho – a metafísica espiritual e política é divergente, o que não anula os vínculos sanguíneos.
Marcelo Cipolla é tradutor ligado à editora Martins Fontes, responsável por traduzir obras com teor iniciático, bem como tradutor da Editora Pensamento/Cultrix, grande responsável por conquistar leitores interessados em conteúdos místicos e Wicca, sendo possível encontrar publicações desse tipo em muitas gôndolas de supermercados.
Aqui não há incongruência, pois foi exatamente a mesma estratégia de outros iniciados em Tariqa já haviam utilizado, como o Idries Shah, que através de sua editora Octopus, publicou as principais obras do pai do Wiccanismo, Gerald Gardner, um seguidor de Aleister Crowley. Os irmãos Shah tiveram desavenças com Olavo de Carvalho, assim como Schuon.
Ana Cipolla, esposa de Tales de Carvalho, filha de Marcelo Cipolla, e a proprietária do ICLS e também tradutora. Traduziu obras pela Pensamento/Cultrix como Princípios de Vida Pleiadianos, da escritora New Age, Christine Day.
A Importância das Traduções:
A tradução de textos tradicionalistas foi um dos esforços mais significativos da dissidência. Além das editoras, alguns membros começaram a traduzir obras de forma independente, compartilhando PDFs e trechos comentados em grupos fechados. Esse trabalho foi fundamental para a difusão do pensamento tradicionalista, permitindo que novos estudiosos tivessem acesso direto às fontes primárias.
Entre os textos mais influentes que passaram por esse processo de tradução estavam:
“O Reino da Quantidade e os Sinais dos Tempos” – Obra essencial de Guénon que critica a modernidade e o materialismo.
“Revolta contra o Mundo Moderno” – Livro central de Evola, que apresenta a ideia de uma aristocracia espiritual como forma de resistência ao declínio da civilização.
Textos de Frithjof Schuon e Ananda Coomaraswamy (ex professor da FSSPX, afastado por Dom Williamson a mando de Dom Marcel Lefevbre) – Focados na metafísica e na estética tradicional. Um parêntese interessante aqui é que Dom Williamson, poucas semanas antes de falecer, concedeu uma entrevista negando conhecer o perenialismo.
Além das traduções de livros, também surgiram traduções de artigos e ensaios que circulavam em blogs e fóruns, ajudando a consolidar um repertório teórico mais amplo dentro da dissidência.
Revistas e Jornais Tradicionalistas:
Outro passo importante na disseminação das ideias foi a criação de revistas e jornais digitalizados. Publicações como “Axe Tradicional” e “Aurora Perenialista” reuniam artigos escritos por membros da dissidência, abordando desde estudos aprofundados sobre a tradição até críticas diretas ao mundo moderno e suas ideologias.
A pluralidade de visões dentro da dissidência também se refletia nessas publicações. Enquanto algumas revistas mantinham uma abordagem mais acadêmica e filosófica, outras adotavam um tom mais militante, aproximando-se das correntes evolianas ativistas. Essa diversidade garantiu que diferentes perspectivas dentro do tradicionalismo encontrassem espaço para se expressar.
A grande projeção nas Redes Sociais:
Com o avanço das redes sociais, a Dissidência Tradicionalista encontrou um novo meio de difusão. Twitter, Telegram e YouTube tornaram-se ferramentas essenciais para divulgar ideias, organizar debates e atrair novos interessados. Alguns membros da dissidência passaram a produzir vídeos comentando obras tradicionalistas, enquanto outros criavam perfis dedicados à crítica cultural e à análise simbólica de fenômenos contemporâneos.
Se, por um lado, essa presença digital ampliou o alcance do movimento, por outro, trouxe novos desafios. A superficialidade das redes sociais muitas vezes levava à deturpação das ideias tradicionalistas, resultando em simplificações exageradas ou apropriações inadequadas. Além disso, a exposição pública gerou atritos com setores do conservadorismo político e da academia, que passaram a ver a dissidência como um grupo reacionário ou esotérico demais.
Apesar dos desafios, as publicações continuaram sendo um pilar central da dissidência. A busca por traduções mais rigorosas, o incentivo à pesquisa e a criação de novos espaços de debate garantiram que o movimento permanecesse vivo e em constante evolução.
O Conflito entre Ortodoxia e Experimentação – A Tensão entre a Fidelidade Doutrinária e a Adaptação
À medida que a Dissidência Tradicionalista se expandia, surgia um dilema inevitável: até que ponto era possível adaptar as ideias de Guénon, Evola e outros tradicionalistas ao contexto contemporâneo sem comprometer sua essência? Essa questão levou a um embate entre aqueles que defendiam uma fidelidade estrita às fontes originais e aqueles que viam necessidade de reinterpretar e atualizar certos conceitos.
Os perenialistas estritos, por exemplo, argumentavam que qualquer tentativa de “modernizar” o tradicionalismo era um erro. Para eles, a tradição só poderia ser acessada por meio das formas iniciáticas legítimas, e qualquer tentativa de inovação resultava em um desvio doutrinário. Em contraste, os evolianos ativistas e os sincretistas estavam mais abertos a adaptações, buscando formas de aplicar os ensinamentos tradicionais à realidade contemporânea. Essa tensão ficou evidente em debates internos, especialmente nos Encontros Evolianos e nos fóruns digitais, onde se discutia a validade de certas práticas e interpretações.
O Debate sobre Iniciação e Linhagem
Um dos temas mais sensíveis dentro da dissidência era a questão da iniciação legítima. René Guénon defendia que apenas tradições vivas e ininterruptas poderiam oferecer uma verdadeira transmissão espiritual. Isso gerava um problema para muitos membros da dissidência, já que várias das tradições tradicionais estavam enfraquecidas ou inacessíveis.
Enquanto alguns tentavam se conectar com grupos sufi, védicos ou taoístas para buscar uma iniciação autêntica, outros questionavam a necessidade de uma filiação formal, argumentando que era possível seguir o caminho da “via heroica” de Evola, na qual o indivíduo busca a realização espiritual sem depender de uma linhagem iniciática reconhecida.
Esse debate levou a divisões internas, com acusações mútuas de sectarismo e falta de rigor. Alguns perenialistas viam os evolianos ativistas como “esoteristas autodidatas” sem real conexão com a tradição, enquanto os ativistas acusavam os perenialistas de serem excessivamente acadêmicos e passivos diante da decadência da civilização moderna.
Os Sincretistas e a Experimentação Esotérica
Dentro desse panorama, um terceiro grupo emergiu – os sincretistas, que exploravam múltiplas influências, misturando elementos do esoterismo ocidental, do hermetismo, da alquimia e de outras correntes espirituais. Esses membros da dissidência buscavam novas formas de espiritualidade, reinterpretando os ensinamentos tradicionalistas e incorporando práticas que, para os ortodoxos, eram questionáveis.
Alguns, por exemplo, tentaram estabelecer pontes entre o tradicionalismo e correntes neopagãs, enquanto outros investigavam conexões entre Guénon e a mística cristã ortodoxa. Essas experimentações foram vistas com desconfiança pelos mais conservadores, que acusavam os sincretistas de diluir o tradicionalismo em um ecletismo sem rigor.
Com o tempo, essas tensões se intensificaram, levando a novas rupturas dentro da dissidência. Certos grupos passaram a se isolar, focando exclusivamente em suas próprias interpretações e recusando qualquer diálogo com vertentes divergentes. Por outro lado, algumas dessas disputas geraram reflexões mais profundas e estimularam a produção de novos textos e debates.
Nos próximos capítulos desta análise histórica, veremos como essas divergências influenciaram o futuro da dissidência, resultando na consolidação de grupos distintos e na busca por novos caminhos dentro do pensamento tradicionalista.