O provável fim da histórica Agência dos EUA para o Desenvolvimento Internacional (USAID, da sigla em inglês) pode impactar gravemente a esquerda mundial, mas também beneficiar os planos de Putin para a Ucrânia. Se de um lado a esquerda internacional perderá uma importante fonte de financiamento, muito mais do que o dinheiro de Felipe Neto, os projetos expansionistas do Kremlin sairão fortalecidos com a redução do financiamento e ajuda dos EUA à Ucrânia, o que vem sendo feito através da USAID.
Donald Trump, que na última semana sinalizou a possibilidade da extinção da USAID, tem condicionado a ajuda à Ucrânia ao acesso e direitos americanos a territórios com minerais raros. O presidente americano quer vantagens econômicas para continuar a ajudar a Ucrânia em sua cruzada de defesa contra o invasor russo. No início do ano, Trump tentou um acordo de paz entre Rússia e Ucrânia, o que não funcionou.
A relação entre Trump e a Rússia parece complexa, já que o país que sediou o maior morticínio em massa em nome da classe proletária agora vem apostando alto nos movimentos de resistência ao globalismo, favorecendo econômica e culturalmente grupos e partidos de direita pela Europa e pelo mundo. O vice de Trump, D.J. Vance, já afirmou apoiar a ação da Rússia no Leste Europeu, assim como partidos de direita europeus como o AfD da Alemanha, que recentemente festejaram a presença virtual de Elon Musk em um de seus congressos.
A esquerda cultura parece estar perdendo espaço para uma direita em todo o mundo, um crescimento que aparece especialmente condicionado ao apoio e alinhamento às causas do Kremlin.
Beneficiando Putin
O fechamento ou a suspensão das operações da USAID na Ucrânia pode beneficiar a Rússia de diversas maneiras estratégicas, tanto no campo militar quanto no econômico e social. A USAID tem sido uma das principais fontes de financiamento para a Ucrânia, fornecendo bilhões de dólares em ajuda humanitária e suporte ao governo. Com o corte dessa assistência. Sem essa ajuda, o governo ucraniano pode enfrentar dificuldades em pagar funcionários públicos, incluindo médicos, professores e militares.
Projetos de reconstrução e desenvolvimento podem ser interrompidos, afetando a capacidade do país de manter a economia funcional. Menos recursos para infraestrutura crítica, como energia e transporte, tornando a Ucrânia mais vulnerável a ataques russos. Uma Ucrânia economicamente enfraquecida tem menos capacidade de resistir militarmente e negociar em posição de força.
Prejuízo para a esquerda? Qual delas?
Por outro lado, o fechamento da USAID também pode prejudicar a esquerda, dependendo do contexto político e da atuação da agência em diferentes países, especialmente na ausência de outros modos de financiamento. Mas isso só será negativo para um certo tipo de esquerda.
Entre estes impactos estão a redução do financiamento para ONGs e movimentos progressistas típicos, como de matiz identitária, racialista e antinatalista, clássica abordagem da agência na história de sua atuação. A USAID frequentemente financia projetos de esquerda chamados de “direitos humanos, democracia, meio ambiente”, além de políticas sociais que muitas vezes são alinhados com pautas progressistas de caráter globalista. A agência também financia projetos ambientalistas radicais e está intimamente ligada a projetos como a Agenda 2030.
No entanto, há também setores da esquerda mais ortodoxa, geralmente alinhados à Rússia, que criticam a USAID por sua conexão com a política externa dos EUA e por atuar como um instrumento de influência ideológica e geopolítica, o que pode fortalecer este tipo de esquerda em prejuízo das esquerdas culturalistas e identitárias. Tal segmento esquerdista costuma ser facilmente dócil à influência russa e à ideologia terceiromundista do BRICS, em ascensão e sob direção indireta da própria Rússia.