Recentemente, um site conservador alemão criticou a tendência crescente de uma parcela de direitistas que estão vendo no islamismo um “parceiro” contra o globalismo anglo-americano, o chamado “atlantismo”. Não é nada surpreendente que essa vertente seja a mesma que vem se alinhando cada vez mais à Rússia e à China, contrastando com o discurso conservador de menos de 10 anos atrás, quando a defesa da soberania e cultura nacional vinha junto com a crítica à migração islâmica, responsável pela deformação cultural e civilizacional europeia.
O site da direita alemã, que defende a unidade racial do país, pertence à ala direitista tradicionalmente ligada ao nazismo, acusada de xenofobia e racismo. Mas se eles representam o lado mais óbvio que sobrou do nacional-socialismo alemão, essa nova direita pró-islâmica representa uma outra vertente da mesma herança: aquela que buscava as raízes alemãs e arianas na cultura, línguas e religiões orientais.
O fenômeno não goza de atenção por parte da maioria dos conservadores devido à crença de que o globalismo ocidental, com seu materialismo utilitarista e transumanista, define-se como o principal e maior adversário. Esta crença pode custar caro ao país e ao mundo. Mas ela tem uma razão de ser: a propaganda russa que vem ganhando corpo na versão dos fatos da Guerra da Ucrânia e, mais recentemente, no conflito Israel x Hamas, sobre o qual a Rússia vem tomando o lado do islamismo. O recente apoio à China por parte dessa direita europeia surge para confirmar essa tendência, já que o país asiático pertence ao bloco russo (BRICS), e se prepara para ganhar terreno na opinião pública global, por meio da propaganda russa frente a uma juventude revoltada e, em alguns casos, militarizada, frente ao possível e breve conflito com Taiwan. Este, por sua vez, pretende repetir o teatro “ocidente x oriente”.
Essa tendência ganhou corpo com a influência trina Guénon-Evola-Dugin nos meios conservadores. Aleksandr Dugin, um dos mais importantes ideólogos do novo imperialismo russo de Putin, tem sido particularmente bem sucedido em redirecionar o tradicionalismo perenialista de Guénon aos seus propósitos, com o adereço do neopaganismo de Julius Evola, especialmente penetrante na cultura das novas gerações já há algumas décadas.
Um dos elementos mais importantes da atual propaganda russa é o guenonismo, através da sua contundente crítica ao Ocidente. Nela, centenas de jovens neurotizados pelos efeitos nocivos da liberação sexual e sentindo-se abandonados pelo clero católico ou mesmo as igrejas protestantes, trilham caminhos cada vez mais radicais em nome de uma resistência.
Para estes, a Rússia oferece uma batalha e um estandarte: a tradição. O perenialismo é uma opção estratégica para a política nacional russa, preocupada com a união de um território tão grande e com as mais diversas crenças religiosas. O indiferentismo tradicional oferece uma aparente oposição ao sincretismo da new age e, ao mesmo tempo, aparenta resistir ao suposto materialismo dos globalistas ocidentais. Este é outro elemento da propaganda russa: associar as seitas new age do globalismo a um tipo de materialismo utilitarista, focando suas energias contra o fantasma do liberalismo, arrancando, assim, a simpatia de católicos tradicionais.
Dugin põe como principal inimigo da humanidade o Ocidente, representado pelo arqui-inimigo soviético, os EUA, que ele encaixa na mitologia ocultista de Helena Blavatsky para relacionar ao atlantismo, suposta decadência espiritual dos povos de Shamballa, herdeiros dos hiperbóreos, nomenclatura trazida ao ocidente por Blavatsky e que o próprio Guénon comungava. Tem sido a partir dessas referências gnósticas e esotéricas que certa direita dita “tradicional” vem alargando sua influência nos meios conservadores antes mais associados ao catolicismo.
Para se opor aos mesmos globalistas que inventaram o termo “islamofobia” e fomentaram com todas as forças a migração forçada de muçulmanos para a Europa, a fim de enfraquecer as tradições ocidentais e cristãs depois da avalanche de ateísmo revolucionário, essa nova direita pensa restaurar as “tradições” exatamente cedendo ao inimigo (que agora vemos não ser tão inimigo assim). É assim que os globalistas vão criando o próprio inimigo à sua maneira.
Sendo assim, a aposta no islamismo tem sido o caminho visto como único para a tão sonhada “tradição”, já que o próprio René Guénon, francês de origem católica, recomendava a religião de Mohammed como ideal para a satisfação espiritual de ocidentais como ele. Se o professor Olavo de Carvalho alertou para um objetivo mais ou menos confessado de islamização por parte de Guénon, nem seria necessário recorrer a esse alerta quando sabemos das próprias recomendações e opções tomadas pelo escritor francês que foi iniciado numa organização esotérica islâmica aos 20 anos de idade, mas só na metade da vida revelou sua adesão ao islã.
No Brasil
No Brasil, o movimento islâmico vem crescendo não apenas dentro do Agronegócio, como há muito tempo, a partir da popularização (e até imposição) da prática do Hallal (modo de abate de gado prescrito pela religião islâmica).
A direita política tem se aproximado do islamismo através de membros do Movimento Brasil Livre (MBL), com Ricardo Almeida, assumidamente membro de uma organização iniciática. A religião dos terroristas que perseguem cristãos em diversos países vem sendo há algum tempo elogiada publicamente por gente como Renan Santos e o próprio Almeida, que chegou a defender a destruição de Israel.
Importante lembrar que desde 2013, a mídia mainstream do Brasil elegeu o MBL como a direita oficial e permitida, pouco antes do surgimento do bolsonarismo, a direita proibida (o olavismo nem se fala). Já a direita islâmica tende a sair precisamente de dentro da face atenuada e dócil dessa “direita” que, combinada a um centrão cada vez mais sensível às carências de sentido da mídia e da opinião pública, assim como da juventude revoltada.
De forma menos direta (e por isso mesmo mais eficaz), a divulgação do islã no Brasil ocorre por meio do trabalho de divulgação da obra de René Guénon, pelo ICLS (como já mencionamos) e Victor Bruno, sobre o qual apenas se pode especular a ligação com as organizações iniciáticas. A propaganda islâmica, assim, avança forte dentro dessa direita, fomentada pelo anseio de erudição e asseio cultural de uma parcela pequeno-burguesa sedenta por ostentação de intelectualidade frente ao brutalismo da esquerda LGBT. E onde é que encontraram resíduos de civilização tradicional para limpar o ocidente da degradação galopante? Na religião do terrorismo do Hamas.
Se a opção pelo islamismo seria um imenso tiro no pé dos conservadores zelosos com a tradição católica romana, sobre a qual os maometanos possuem uma outra opinião, há motivos ainda mais graves para o alerta. Especialistas católicos no pensamento de Guénon, como Antonie Motreff, alertam para o grande anjo que o inspira: Lúcifer. Em um poema escrito aos 23 anos, Guénon demonstra uma condescendência preocupante sobre o anjo caído, conforme já publicamos. Mas é claro que, com o andar da propaganda, outros especialistas já vão se colocando como autoridade, não por acaso reduzindo os alertas de Olavo de Carvalho.
O crescimento do islamismo na direita no Brasil obedece, portanto, à mesma lógica do fenômeno europeu: influência russa, cujo fermento foi sendo proposto pelos estudos orientalistas, mesmo panorama que deu origem aos fascismos e socialismos do século passado.