Nas últimas semanas, o canal do Youtube do Estúdio 5º Elemento entrevistou o ideólogo russo, Aleksandr Dugin. O influencer Kim Paim fez lives com os líderes do Nova Resistência e começam a circular boatos sobre outros grupos e movimentos ditos conservadores que aderem ao que Nossa Senhora, em Fátima, chamou de erros da Rússia. Se foi a ingenuidade ou o oportunismo que bateu à porta, não sabemos. Na mesma semana, Dugin parabenizou o site petista Brasil247 pelo bom tratamento que deu à sua pessoa.
Durante a entrevista, dada ao até então pouco conhecido entrevistador Arthur Pinheiro Machado, Dugin discorda dele sob o ponto de que o liberalismo é contra o cristianismo apenas. Elogiando as perguntas, Dugin disfarça mas discorda totalmente, apontando como alvo do liberalismo “todo o senso de sagrado e sacralidade”, que inclui tanto o cristianismo quanto as culturas africanas, chinesas etc. Mas que tradição é essa que abarca tudo o que é “sacro”? Como Dugin explica o seu significado de “multipolaridade”? O que está por trás disso?
Em primeiro lugar, é amplamente conhecido entre alunos do filósofo Olavo de Carvalho, o caráter de propaganda russa da obra de Dugin, não sendo, portanto, desculpável por parte de um aluno o desconhecimento dessa realidade. No último mês, o Instituto Estudos Nacionais ofereceu um curso sobre as Raízes Espirituais do globalismo e do eurasianismo. O curso está com as inscrições ainda abertas para quem se interessar, no qual expliquei diversos termos resumidos em alguns artigos neste site.
O que tem sido deixado de lado por parte dos curiosos ou entusiastas midiáticos da nova proposta russa de Dugin é a natureza ocultista do sentido que Dugin dá à palavra “tradição”, termo sobre o qual o canal do 5º Elemento convocou Dugin a esclarecer na condição de “especialista”.
A tradição, para Dugin, está alinhada à compreensão dos seus mestres espirituais e políticos, ligados a duas principais correntes esotéricas, o tradicionalismo de René Guénon e o ocultismo völkish ou wotanismo (culto nórdico de Odin). Este último foi resgatado originalmente pelos ariosofistas pangermânicos que influenciaram a mística do nacional socialismo alemão. A ariosofia é uma versão germânica da teosofia, criada pela alemã-russa, Helena Blavatsy. A doutrina das raças-raiz, de Blavatsky, é considerada precursora tanto do nazismo quanto do movimento nova era, sendo particularmente influente na criação da engenharia genética moderna, base do atual transumanismo globalista do qual Dugin afirma ser um ferrenho opositor.
Do tradicionalismo guenoniano, Dugin retirou a crença da existência de uma tradição primordial que uniria, na origem, todas as religiões tradicionais, sendo a base para o atual “diálogo inter-religioso”, segundo Guénon, “deturpado” pelo movimento nova era. Para Guénon, o tradicionalismo é muito superior ao mero sincretismo da nova era. No entanto, se a nova era se define como um indiferentismo religioso, o perenialismo de Guénon e outros se define facilmente como uma versão gourmetizada do mesmo indiferentismo, transposto da visão exotérica (externa) para um aspecto interno e esotérico, ao invés da mera religiosidade ou espiritualidade, ligado agora ao termo mais elevado: a tradição. Essa tradição, gnóstica na sua base, portanto, é aquela acreditada por Dugin e sobre isso há infindáveis confissões do ideólogo a respeito.
Pior do que isso é a sua confissão de que a sua linha gnóstica preferida é aquela a que Guénon chamava “contra-iniciática”, isto é, o caminho da mão esquerda, o mesmo aderido por Hitler e a base mesma de toda a mística revolucionária: o caminho da revolta metafísica, da destruição e da guerra.
Portanto, a tradição duguinista é a tradição anticristã por excelência e esta é a razão pela qual o “pensador” desconversou da pergunta sobre o alvo do liberalismo no cristianismo. Só existem duas tradições primordiais na história humana: a tradição católica e a tradição gnóstica, cuja bifurcação foi gerada da interpretação sobre a Queda.
Para a tradição abraâmica e judaica, da qual decorreu o cristianismo, Adão e Eva foram expulsos merecidamente do Paraiso por desobediência a Deus ao cederem à tentação da serpente, o Demônio. Na outra tradição, a serpente representa o conhecimento e a tentação teria sido, na verdade, a libertação do homem das trevas impostas pelo Deus criador, mau em sua essência. Esta última tradição começou a se disseminar por volta do século II a partir de evangelhos apócrifos e foi combatida por diversos padres da Igreja, como Santo Inácio de Lyon.
Conheça em detalhes essa história e não passe vergonha como o pessoal do 5º Elemento