[Subcapítulo do livro As portas do inferno, sobre a história da esquerda na Igreja Católica, ainda inédito]
A Ação Católica foi um conjunto de iniciativas iniciadas pela Santa Sé para ampliar a participação dos jovens na Igreja utilizando, para isso, a grande isca da moda: a ação social. Com o objetivo de conter a onda de ateísmo na juventude, a Igreja flertou tanto com as ideias mundanas que acabou, ela própria, ficando ateia. Se hoje padres e bispos negam a comunhão de joelhos aos fiéis, é porque foram ensinados a não priorizar o mistério da ação sobrenatural sobre a alma, mas enfatizar, antes, a construção humana e pessoal de cada um em sua própria narrativa, de maneira a encontrar Deus como a pessoa bem quiser (exceto de joelhos e na boca, é claro).
Desde o início do século, a Ação Católica era submetida ao Papa e tinha como modelo as estruturas criadas na Itália, o chamado modelo italiano, no qual as moças e rapazes eram separados e havia uma formação linear de conteúdos espirituais e sociais.
Em 1948, porém, a organização sofreu uma transformação importante. Em alternativa ao modelo italiano, opta-se pelo modelo belga, do cardeal Josef-Léon Cardijn, baseado no método de análise social “ver, julgar e agir”. O método era visto como grande novidade no campo da ação pública dentro da doutrina cristã, considerado historicamente como, segundo o padre Ney Souza, a “descoberta da dimensão política da fé; o protagonismo dos jovens e a presença de Deus libertador nas lutas do povo”.