O movimento Nova Era, culminado depois no maio de 68, espalhou ao mundo um conjunto de ideias esotericas, orientalistas que ficou conhecido pela iniciativa do Monte Veritá, um moda que originou tanto o nazismo quanto a ecologia. Atualmente, essas ideias estão na raiz do novo movimento neopagão de Aleksandr Dugin, nova síntese russa que traveste as mesmas ideias esotéricas sob uma forma tradicionalista e autoritária que vem seduzindo uma juventude ávida por violência contra o mundo moderno.
O Monte Veritá foi um grande acampamento, espécie de Woodstock do século XIX, existente na Suíça e baseado na moda orientalista chamada lebensreform, que unia naturismo, veganismo e práticas xamânicas. Dele saíram utopias sociais e políticas diversas, como o socialismo, a ariosofia, teosofia e outras. Dele participaram muitos anarquistas russos, incluindo Mikhail Bakunin.
Em um artigo publicado em 2019, o jornalista norueguês, Lasse Josephsen, publicou um resumo das ligações estreitas entre as ideias de Julius Evola, um dos inspiradores de Dugin, e o ecofascismo, amor pela natureza que orienta os veganismos da nova era na modernidade, ideias presentes há décadas mas que vêm ganhando as cores de um “tradicionalismo” e direitismo. O próprio Josephsen não resiste a chamar esse movimento de “extrema direita”, dada a propensão revolucionária a ocultar a identificação da sua própria mentalidade presente no desenvolvimento das ideias provenientes do mesmo neopaganismo que originou o nazismo e o globalismo.
Seguindo pistas como a do atentado perpetrado por Anders Behring Breivik, na Noruega, em 2011, a compreensão do movimento que está por trás dos atentados em escolas nos últimos anos parece estar muito distante do mundo encantado da grande mídia (e mesmo de conservadores brasileiros, cujo desinteresse por esse tema os custará caro). As ideias que unem os grupos de extrema esquerda, financiados por globalistas como George Soros, e os ávidos leitores de Aleksandr Dugin, Julius Evola e proponentes da nova ordem multipolar, possuem a mesmíssima fonte inspiradora, um conjunto de crenças místicas neopagãs e esotérico-orientalistas que promoveu a intensa movimentação cultural na direção de práticas alternativas de vida como o próprio veganismo, direitos dos animais, até a ação violenta de ecoterroristas e antifascistas, Black Lives Matter e tantos impulsos revoltosos ao longo das últimas décadas.
Em 2005, o The Guardian nos informou que Jeff Weise, jovem de 17 anos responsável pelo tiroteio numa escola de Red Lake, EUA, havia sido investigado no ano anterior por suspeita de conexão com uma ameaça contra a escola, de acordo com postagens feitas em um site nazista. Durante um período de cinco meses entre março e agosto de 2004, alguém se identificando como Weise postou várias mensagens em um talkboard hospedado pelo Nazi.org, o site do partido Libertário Nacional-Socialista Verde. O partido promove uma filosofia nazista de pureza racial.
O que “verde” tem a ver com nazista, pouca gente se perguntou na época. Mas as conexões são muito mais íntimas do que se imagina, embora a atmosfera superficial da opinião pública cada vez mais conduzida por narrativas da própria esquerda, raramente permite que essas ligações sejam feitas. Elas são, no entanto, muito mais óbvias do que se imagina.
Josephsen recorda que o nazismo e o fascismo sempre foram ecologicamente conscientes. A ideologia de Sangue e Terra do nazismo tinha elementos claros de um culto à natureza e ao campo. A Alemanha nazista também tinha leis de bem-estar animal que estavam muito à frente de seu tempo. A mesma matiz “campesina” e ecológica era encontrada naquela época na Noruega, país com densa literatura épica ligada à terra e ao cultivo, preservação ambiental fundamentada na identidade racial e nacional.
A doutrina do Blunt und Boden (Sangue e solo) foi uma das bases da doutrina do Lebensraum (espaço vital), ligação tradicional entre o povo (raça) e a terra, na qual se estriba o nacionalismo alemão, somado à concepção de “estado proletário” de Enrico Corradini, explorada tanto por Mussolini quanto por Stalin. O spazio vitale de Benito Mussolini , por outro lado, não se baseava no genocídio das nações subjugadas, mas percebia a raça italiana como “cuidadora e portadora de uma civilização superior “, cuja missão era exportar a revolução fascista e “civilizar” os territórios que conquistaram.
A ideia do sangue e solo se mostrou evidente na política e nas obras de Richard Walther Darré, ministro da Agricultura da Alemanha e general da SS. Como estudioso da terra, buscava no território a origem racial e dizia ter encontrado na Noruega uma “cepa mais perfeita” de homens cuja ligação com o solo, portanto, devia embasar a doutrina do espaço vital baseado na raiz racial nórdica. Como expliquei em grande parte no recente curso Raízes Espirituais do Globalismo e Eurasianismo, a busca por uma origem nórdica levou aos alemães do século XIX às pesquisas orientalistas, que culminaram no Lebensreform, a reforma da vida, que acabou dando origem a uma espécie de “mini” movimento hippie vegano e naturista nas décadas que precederam o início do período mais nacionalista da Alemanha.
O simbolismo da árvore, com sinônimo de raízes, sejam culturais, tradicionais, raciais ou de solo, também são encontrados em grupos neofascistas, tal como nos de new age (constelações familiares).
Esta é uma das raízes comuns que explicam o radicalismo verde, assim como sua ligação com o (nacional) socialismo, e trabalhismo, mas principalmente na fundamentação da sua matiz terrorista e neofascista. Os duguinistas do Nova Resistência, assim como os neotrabalhistas infiltrados em partidos de esquerda como o PDT de Ciro Gomes e nos grupos de Aldo Rebelo e seu “Quinto Movimento”, repercutem e resgatam este tipo de sentimento que vem atraindo cada vez mais jovens e adultos para uma ideia de resgate nacional, rural, valendo-se analogicamente à oposição estimulada por Dugin.
Josephsen recorda a ligação existente e óbvia entre os neofascistas da web atual, que debatem em fóruns sobre ataques em escolas, com essa raiz macabra que vai se alastrando. Embora vincule a uma “extrema direita”, sabemos que essa vertente é revolucionária e intimamente ligada com todas as pautas da esquerda. Providencialmente, classifica-se como “direita” todo aspecto que leve ao extremo e inconveniente aquelas propostas originadas e reunidas historicamente nos movimentos revolucionários, de extrema esquerda, que ligam apego a sistemas totalitários, simbolismo neopagão e satanismo.
O fascínio por escritores como Julius Evola , Corneliu Codreanu e Savitri Devi , tradicionalistas que encontram eco em René Guenon e sua luta contra o mundo moderno, o Kali Yuga que os nazistas viam como sendo os judeus. Esses autores se preocupavam com o romantismo europeu da natureza e, no caso de Devi, o veganismo e bem-estar animal. Foi Evola quem promoveu a ideia de que o homem vive no Kali Yuga , a última era decadente, caracterizada pela falta de alma, falta de identidade, superficialidade e ganância. Blavatsky dizia que essa seria a decadência das “raças espirituais”.
“Segundo Evola, a batalha contra a modernidade já estava perdida, e a única coisa que os homens de verdade podiam fazer agora era ‘montar no tigre da modernidade’ e esperar até que o tigre se esgotasse”, diz Josephsen. Ai vemos alguns princípios vivos no duguinismo, como o uso de doutrinas e ideias modernas e contraditórias para um fim político destruidor, que coincide perfeitamente com a sua própria nova “suástica”, a estrela do caos, que com suas pontas de número 8 (caro ao simbolismo nazista), aponta para todos os lados, remetendo à prática do Chaos Magik, criada pelo ocultista britânico Aleister Crowley. Não por acaso, uma leitura habitual na vida de Dugin.
Para os atuais neonazistas, representados pelo duguinismo e evolianismo, essa ideias se liga perfeitamente com o chamado aceleracionismo, já mencionado inclusive por Dugin em uma de suas postagens. Em seu manifesto, Tarrant escreve sobre essa tática de maximização da crise . O discurso público deve ser destruído “apoiando, atacando, difamando, radicalizando e exagerando todos os conflitos sociais”.
Essa forma de explorar os conflitos para empurrar o mundo à destruição e crise se liga tanto ao terrotismo islâmico quanto à prática histórica da subversão executada contra os Estados Unidos e países ocidentais durante o período soviético, como bem descrito por Yuri Bezmenov. Não por acaso, talvez, isso apareça no livro Fundamentos da Geopolítica, de Dugin, livro usado por militares russos a pedido de Putin.
“Esta é a maneira de pensar que também é vista em terroristas islâmicos: o objetivo é criar discórdia e hostilidade entre muçulmanos e ocidentais. Posições moderadas e áreas cinzentas apenas atrapalham e devem ser removidas. Uma era radical requer homens radicais, e então é preciso tomar uma posição clara de um jeito ou de outro”, diz Josephsen, que faz pesquisas imerso nos fóruns de onde saem atiradores em escolas.