A versão de que o vandalismo ocorrido durante as manifestações de 8 de janeiro teriam sido provocados por infiltrados ligados ao próprio governo vem ganhando força. Documentos obtidos pela revista Oeste trazem nomes de ex-integrantes de partidos de esquerda que estiveram presentes nos protestos que acabaram favorecendo a perseguição do governo petista contra seus opositores.
São as informações obtidas sobre presos no dia dos atos na Praça dos Três Poderes que trazem os nomes de militantes esquerdistas como:
- Elisiane Lucia Harms, de Foz do Iguaçú (PR), filiada ao PT desde 2009;
- Marina Camila Guedes Moreira, de Barueri (SP), filiada ao PCdoB desde 2015 e:
- Ana Elza Pereira da Silva, há mais de 20 anos no atual Cidadania (antigo Partido Popular Socialista, PPS).
As duas primeiras estão atualmente em liberdade provisória, utilizando tornozeleira eletrônica em seus estados de origem, e Ana Elza segue presa na Colmeia, prisão feminina do Distrito Federal. Além de militantes filiados a partidos, como os três nomes acima, foram encontrados também ex-filiados, mas que mantém ativa participação em partidos de esquerda. Uma responde processo na justiça por organização criminosa e a outra revelou, na prisão, ser de esquerda.
Edna Borges Correa, que após 10 anos filiada ao PT deixou a legenda em abril do ano passado e também já foi integrante do Cidadania. Ela é ré em um processo por participar de organização criminosa. A outra é Jupira Silvana da Cruz Rodrigues, petista entre entre 2001 e 2007. As duas foram presas juntas, sendo que Jupira tem revelado ser de esquerda na prisão e advogados informaram que ela provoca confusões nas celas entre outras detentas.
A presença desses militantes dá ainda mais força à tese de que o vandalismo ocorrido no dia 8 de janeiro tenha sido parte de uma operação de falsa bandeira. No mês passado, o vazamento do vídeo de segurança que mostrava o general Gonçalves Dias ajudando militantes a entrar no prédio do Planalto, já fortaleceu a hipótese. O episódio levou ao afastamento de Dias.
Operações de falsa bandeira são comuns em guerras. Militares e agentes de inteligência, assim como militantes de partidos de esquerda, possuem experiência neste tipo de atuação e se define por provocar situações com o uso de pessoas infiltradas com o objetivo de incriminar adversários políticos.
Desde o dia dos atos, circulam nas redes sociais vídeos de manifestantes apontando para a presença de possíveis infiltrados. Apesar disso, jornais têm ignorado a hipótese e aceitando a versão oficial do governo, que liga os vândalos aos apoiadores do governo anterior, oposição do atual governo.
Parlamentares de oposição pretendem levar essa versão adiante como linha principal de investigação na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) de 8 de Janeiro, no Congresso Nacional. Este pode ter sido um dos temores do governo ao buscar impedir a instalação da Comissão, que deve ser instalada nas próximas semanas.
Os protestos de 8 de janeiro foram marcados por milhares de prisões políticas já na primeira semana de governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Foram mais de 2 mil pessoas presas em flagrante no dia dos protestos. De acordo com o jurista e criminalista Eduardo Cabette, as prisões puderam ser consideradas políticas, seja devido ao uso indevido da tipificação de terrorismo, usada nos autos e pela mídia, seja pelos abusos jurídicos cometidos no decurso das prisões.
Entre as prisões políticas, pessoas idosas, gestantes e até crianças foram encaminhadas a um galpão da Polícia Federal, em Brasília, onde permaneceram em condições subumanas, conforme denúncias feitas por parlamentares que visitaram o local.
Ainda permanecem presas 253 pessoas, sendo 67 mulheres e 186 homens, pelos protestos e jornais ainda utilizam o termo “terroristas” para definir os manifestantes que protestaram contra o governo petista.