Em 31 agosto de 1943, há 70 anos, circulou a última edição do Frankfurter Zeitung durante o regime nazista. O jornal, existente ainda hoje, foi fechado naquele momento pelo governo depois de publicar textos críticos a um dos membros do governo envolvendo o uso de morfina. A ordem de fechamento partiu do próprio ministro da Propaganda, Joseph Goebbels. Apesar de óbvias as razões do fechamento do jornal, o governo alegou cortes relativos à “economia de guerra”.
Jornal tradicional alemão do tempo da era Bismark e frequente crítico do nazismo no início do regime, o Frankfurter acabou sendo tolerado por algum tempo para aparentar tolerância com o liberalismo ocidental pelo regime nazista. Com a revelação das atrocidades nazistas, como os campos de Auschwitz, porém, a manutenção dessa vitrine de liberdade perdeu a razão e o jornal acabou fechado.
Mesmo tendo se submetido diversas vezes a humilhantes agrados do governo para se manter, os nazistas não tiveram misericórdia pela sua colaboração quando exerceu o pouco da independência que era tolerada.
Apesar da alegação do governo, porém, uma das razões apontadas como justificativa paro fechamento do jornal foram a publicação, duas semanas antes, de artigos que criticaram as obras do arquiteto Paul Ludwig Troost, preferido por Hitler, e críticas a Dietrich Eckart, mentor de Hitler e criador do principal slogan do regime (“Acorda, Alemanha”). O jornal apresentou Eckart, que também era cofundador do partido nazista, como indivíduo sem caráter e viciado em morfina. Mais do que isso, o jornal fez um paralelo do mentor de Hitler com Hermann Göring, um dos nazistas mais poderosos do regime e que havia ficado viciado em morfina após ferimentos de guerra.
Crítica tolerada
Com o fechamento, o jornal teve de suspender publicações após de dez anos de humilhação ao funcionar sob o emblema oficial do partido nazista e do Terceiro Reich. Crítico antigo dos nazistas, a sua manutenção surpreendeu depois de 1933, já que a imprensa alemã foi quase totalmente amordaçada pelo regime nazista.
Como informa o site alemão Deutche Welle, o jornalista Fritz Sänger, que foi correspondente em Berlim e diretor da agência de notícias DPA, depois de 1945, lembra que durante o nazismo toda a imprensa alemã foi amordaçada, sendo o Frankfurter Zeitung uma exceção que combatia o regime. Mas Hitler acreditava que esses jornais serviriam de cartão de visita do nazismo no plano internacional. Só até essa vitrine perder a necessidade ou efetividade.
Goebbels queria tornar o nazismo socialmente aceitável nos meios burgueses e achava que o Frankfurter poderia servir de prova da liberalidade do regime no exterior. A defesa exterior e fingida de liberdade era cara ao nazismo no início, tanto que a invasão da Polônia foi justificada por Hitler devido à ausência de democracia no país vizinho.
Antes de ser fechado, os redatores do Frankfurter, aceitaram passivamente a demissão dos colegas judeus e a verdadeira limpeza étnica na empresa. Como órgão de oposição, o jornal oscilava entre o oportunismo e uma certa autonomia, explica a reportagem do DW. Mas foi com o início da Segunda Guerra Mundial, em 1939, que a redação começou a silenciar sobre o regime. Não foi o suficiente.