Contrariando a maior parte da comunidade internacional, para quem a Crimeia é parte da Ucrânia, o presidente Lula tentou mais uma vez passar a imagem de neutralidade sobre o conflito entre Rússia e Ucrânia. Lula disse não saber ou não ser capaz de decidir se a Crimeia pertence à Rússia ou à Ucrânia. A região foi tomada por russos em 2014, em uma ação militar que não é reconhecida por países do mundo.
Passados nove anos da invasão russa à região, apenas ditaduras comunistas como a Coreia do Norte e a Venezuela declararam reconhecer a península como parte da Rússia. Para esses países, a maioria alinhados ao BRICS, a invasão russa é legítima e a reação da Ucrânia contra a invasão, uma “conspiração” do ocidente. Lula já fez declarações neste sentido ao culpar países por enviarem armas para que a Ucrânia se defenda.
No início de abril, porém, Lula disse acreditar que a Ucrânia deveria ceder a Crimeia à Rússia, alinhando-se aos projetos do Kremlin. Na ocasião, o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, disse que a reconquista da região é um ponto inegociável para o fim da guerra. O alinhamento de Lula a Putin ficou evidente por diversas vezes, como quando o presidente afirmou que Zelensky “não pode querer tudo” e que a “Otan não vai poder se estabelecer na fronteira [com a Rússia]“.
Depois de ser alvo de protestos em Portugal devido ao seu posicionamento sobre uma guerra que ameaça todos os países da Europa, Lula se complicou ao responder jornalistas e buscou uma postura neutra, o que não tem convencido a opinião pública internacional. Diante de ameaças da Rússia de uma guerra mundial e de planos expansionistas que incluem o avanço sobre toda a Europa, como já declarou o ex-primeiro-ministro russo, Dimitri Medvedev, Lula finge pacifismo desinteressado e age em claro apoio ao lado russo do conflito. Essa postura preocupa países europeus que estão na linha de frente da guerra da Rússia por seu “espaço vital”.
Ainda assim, Lula insiste em uma postura de aparente neutralidade ao dizer que é “contra a guerra”. Para Lula, é mais importante parar a guerra que apontar quem está certo ou errado.
“Ninguém pode ter dúvida que nós, brasileiros, condenamos a violação territorial que a Rússia fez contra a Ucrânia. O erro aconteceu, a guerra começou. Agora, não adianta ficar dizendo quem está certo ou errado, o que precisa é fazer a guerra parar. Você só vai discutir um acerto de contas quando pararem de dar tiros”, declarou o presidente.
Lula se vê como único líder mundial interessado na paz, incompreendido e “gritando no deserto”.
“Acho que ninguém está falando em paz no mundo. Não tem ninguém, a não ser eu, que estou gritando paz, como se estivesse isolado no deserto. Já falei em paz com o [Joe] Biden, com o Olaf Scholz, com o [Emmanuel] Macron, fui conversar com Xi Jinping, falei com o presidente Pedro, com o presidente e o primeiro-ministro de Portugal.”
Na Espanha, Lula se reuniu na manhã desta quarta-feira com o primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, no Palácio de Moncloa, sede do governo espanhol, em Madri. Além da guerra, Lula falou sobre negociação do acordo entre o Mercosul e a União Europeia; investimentos internacionais na Amazônia; e a cooperação Brasil−Espanha.
O tema da guerra da Ucrânia divide a esquerda no Brasil e no mundo. Parte dela se alinha à Rússia e a outra parte aos países ocidentais. A criação de uma espécie e neofascismo russo por Putin confunde muitas vezes os apoiadores, entre os quais se unem esquerdistas e pretensos conservadores. A nova ideologia russa, porém, vai além de esquerda e direita por apelar ao tipo de ideologia de “terceira posição”, que unem extrema direita com extrema esquerda em um grande guarda-chuvas revolucionário e totalitário.
Esse retorno de ideologias fascistas e nacionalistas seduz tanto direitistas militaristas quanto comunistas históricos, saudosos de suas ditaduras populistas, cujo bloco representativo passou a ser o BRICS. O governo brasileiro mostra alinhamento com essa parte da esquerda, em oposição à social-democrata e europeia ou do partido democrata dos EUA.