Após a saída do apresentador Tucker Carlson da Fox News, nesta segunda-feira (25), o proprietário da maior rede de TV russa em apoio a Putin, Vladimir Solovyov, divulgou em seu canal do Telegram um e-mail que teria enviado a Carlson em solidariedade. Na mensagem, o russo aliado de Putin manifestou apoio “de todo o coração” à decisão do ex-apresentador da Fox e ainda o convidou para integrar o canal russo.
Solovyov é um influente âncora da TV russa Rússia-1, base midiática de apoio ao regime de Putin, e afirmou que os EUA “perdeu sua última voz da razão”. A mensagem foi assinada como sendo da equipe de TV de Solovyov e chegou a recomendar que Carlson se candidatasse a presidência dos Estados Unidos. A informação é do site Politico.Com.
“Você tem nossa admiração e apoio em qualquer empreendimento que escolher para si mesmo, seja concorrer à presidência dos Estados Unidos (o que você provavelmente deveria fazer, a propósito) ou fazer um projeto de mídia independente”, disse Solovyov.
“Teremos todo o gosto em oferecer-lhe um emprego se desejar continuar como apresentador e apresentador!”
Os vídeos de Carlson na Fox News se tornaram referência em grupos do Telegram em apoio à Rússia, como os do grupo de guerrilheiros putinistas Wagner, entre outros associados ao apoio da guerra de invasão à Ucrânia. O apresentador manifestou diversas vezes suas críticas aos que apoiam a Ucrânia, atuando em defesa aberta da Rússia.
Por meio de seu programa diário na TV russa, desde 2012, Solovyov atua em apoio incondicional às políticas do Kremlin e no ano passado o Youtube chegou a bloquear o canal do jornalista por “incitação à violência”.
Além da TV de Solovyov, o canal de notícias inglês RT News, ligado à Rússia, também ofereceu emprego a Carlson publicamente por meio do Twitter.
“Ei, @TuckerCarlson, você sempre pode questionar mais com @RT_com”, escreveu o RT News.
Como o Kremlin compra apoio de conservadores
Na Europa e nos EUA, a propaganda russa está intimamente ligada com canais conservadores que se opõem à agenda globalista internacional, como da ONU e da União Europeia. Algumas entidades conservadoras nos EUA e na Europa, assim como sites de notícias, são até mesmo financiados indiretamente pelo Kremlin por meio de oligarcas russos e empresários próximos a Putin, como o monarquista conservador e eurasiano, amigo de Aleksandr Dugin, Konstantin Malofeev, entre outros.
O apoio da Rússia na invasão da Ucrânia tem sido facilmente confundido com críticas aos países ocidentais ligados ao globalismo. Isso porque o projeto expansionista da Rússia atual inclui nacionalismo em oposição ao Ocidente como civilização. Com esse ideário, Putin vem atraindo para si nomes do neofascismo russo, o antigo eurasianismo, como o ideólogo Aleksandr Dugin, mas também cita e recomenda a leitura de nomes como Ivan Ilyn, já tratado em reportagem aqui no EN. Assim como Dugin, Ilyn não disfarçou suas simpatias com o nacional-socialismo alemão e Dugin repete os antigos eurasianistas no resgate de velhos símbolos que misturam a religiosidade russa com o neopaganismo germânico-eurasiático com uma moldura perenialista ligada ao sufi islâmico René Guénon.
No Ocidente, porém, essa ligação aparenta apenas uma mera preferência por religiões tradicionais e valorização de valores espirituais, fazendo com que conservadores europeus e norte-americanos confundam com pautas conservadoras de defesa nacional e oposição às agendas globalistas.
Como a principal agenda do Kremlin é a sua oposição geopolítica e estratégica à OTAN, União Europeia e principalmente o governo dos EUA, a presença da agenda globalista da esquerda financeira internacional nesses organismos serve de justificativa para a agenda russa da ampliação do antiamericanismo e antiocidentalismo. Par Dugin, a destruição do Ocidente é uma questão civilizacional e espiritual, ligada a disputas estratégicas e territoriais que se articulam com uma crença na necessidade de expansão mundial da Rússia (ler sobre messianismo russo e as fontes do eurasianismo no EN).