O Ministro das Relações Exteriores da Rússia, Serguei Lavrov, chegou ao Brasil para tratar de questões referentes ao comércio, à guerra e geopolítica, depois da viagem de três dias de Lula à China, na qual o presidente brasileiro defendeu que países do ocidente parem de enviar armas à Ucrânia, país invadido pela Rússia há um ano. Esta é a primeira visita do primeiro escalão do Kremlin ao Brasil desde o início da guerra.
Em meio à guerra de invasão contra a Ucrânia, condenada por diversos países da Europa e leste, a visita do chanceler ao Brasil acabou jogando uma pá de areia na imagem de neutralidade pretendida pelo Itamaraty e no cartaz de pacificador almejado pelo presidente Lula. Líderes europeus já rechaçam o apoio do Brasil à guerra e boicotam visitas de Lula.
Lavrov disse com todas as letras algo que deve ter sido revelado em reuniões, mas que é apenas discretamente dito pelo governo brasileiro:
“As visões de Brasil e Rússia são únicas em relação aos acontecimentos na Rússia. Também estamos atingindo uma ordem mundial mais justa, mais correta e baseada no direito. Nisso, nós temos uma visão de mundo multipolar, onde estamos levando em consideração vários países, não só poucos”, disse Lavrov, segundo informou o site Antagonista nesta segunda-feira.
O chanceler russo chega ao Brasil no mesmo dia em que o ativista e jornalista russo Vladimir Kara-Murza foi condenado a 25 anos de prisão sob acusação de traição, após expressar críticas à guerra na Ucrânia, mais um dado de aproximação entre os dois países: o gosto pela prisão de opositores.
Conhecido por ser um crítico do presidente russo Vladimir Putin, Murza comparou o processo que o condenou aos julgamentos-espetáculo da era stalinista. A sentença é a mais severa aplicada a um crítico do Kremlin desde o início do conflito bélico em 24 de fevereiro de 2022. Por sua vez, o Brasil mantém ainda quase mil presos políticos detidos nos protestos contra o governo em 8 de janeiro.
Lula, apoiador de Putin
A chegada do chanceler, após declarações de Lula em favor da Rússia, feitas na China, demonstram um claro alinhamento do Brasil com a política autoritária e expansionista de Putin, embora o Itamaraty mantenha esforços para aparentar neutralidade.
Em sua viagem à China, Lula falou em fim da guerra, mas atacou os Estados Unidos, recomendou que a Ucrânia cedesse a exigências territoriais russas e assinou declaração conjunta que não reconhece a soberania de Taiwan, país que sofre crescente ameaça militar da China, um fator de instabilidade para a região.
Apesar das tentativas de atrair para si uma imagem de pacificação, diversos líderes mundiais perceberam que a longa parceria entre Brasil e Rússia, herança da época militar e aprofundada na era petista, vai muito além de comércio bilateral. Lula foi o criador do Foro de São Paulo, organismo que congrega movimentos e partidos atualmente no comando de países da América Latina há décadas, como as ditaduras da Venezuela, Cuba e Nicarágua, aliados militar e economicamente à Rússia.
Em Portugal, os partidos políticos se uniram para condenar a possível visita de Lula ao país. O presidente brasileiro foi formalmente tratado como aliado de Putin.
O Ministro das Relações Exteriores, Serguei Lavrov, foi boicotado em uma reunião do Conselho de Segurança das Nações Unidas, e causou horror ao classificar o presidente ucraniano, Zelensky, de “nazista” e, ao mesmo tempo, dizer que o presidente tinha “sangue judeu”, assim como Hitler.
Acusações de neonazismo feitas contra ucranianos têm sido uma das principais estratégias do Kremlin para legitimar a investida contra o país, cuja soberania é considerada “ilegítima” pela Rússia há décadas. Ativistas da região leste da Ucrânia, o chamado Donbass, mantém grupos militarizados financiados por oligarcas russos desde antes do início do conflito.
O site Estudos Nacionais já contextualizou em mais de uma oportunidade sobre a ideologia e a nova utopia russa do “mundo multipolar”. A geopolítica russa está baseada no neoeurasianismo, doutrina oficial da inteligência russa, fundamentada pela principal obra utilizada pela cúpula do Exército russo, de autoria do ideólogo neofascista Aleksandr Dugin, intitulado os Fundamentos da Geopolítica.