Assim como os protestos de 8 de Janeiro, o massacre ocorrido em uma escola de Blumenau (SC) deu fôlego a projetos que enfrentam resistência da oposição no Parlamento, como o desarmamento civil, regulação das redes sociais, o monitoramento da opinião, entre outros. A defesa dos projetos que remontam à campanha eleitoral petista mobilizou atores governamentais e milícias digitais de defesa da censura, como o Sleeping Giants, que deu início a mais uma campanha, agora contra o Twitter.
Em uma reunião de membros do governo com representantes do Twitter, o ministro da Justiça, Flávio Dino se irritou com a executiva da big tech devido à insistência desta em não classificar como violação aquilo que o governo queria. Mais de 400 perfis já foram removidos por ordem do governo e o teor das mensagens não é revelado “para não atrapalhar as investigações”, mas segundo informou o governo, tratam-se de incitação a novos massacres.
O que foi tratado pela imprensa como um descaso do Twitter, ou falta de sensibilidade com os massacres em escolas, porém, pode ser explicado pelo fato de Elon Musk estar acompanhando há meses o avanço da censura no Brasil e a clara tentativa de se utilizar de narrativas para controlar a plataforma em território nacional, a exemplo do que já é feito em países como a China e Rússia.
Na Rússia, fundadores do Telegram vivem exilados fora do país depois após sofrerem pressão do governo Putin para revelarem dados pessoais de usuários ucranianos considerados pelo Kremlin como terroristas. Ameaças à segurança ou à paz social, como ataques cibernéticos ou os massacres em escolas contra crianças, têm sido utilizados como justificativa para impulsionar uma agenda de controle à moda do que ocorreu na pandemia, sob a desculpa da saúde pública. Por outro lado, medidas que poderiam auxiliar a conter esses ataques e proteger de fato as vidas humanas são rejeitados, como a inserção de seguranças ou professores armados ou o simples monitoramento das redes especificamente já associadas a grupos de desafios entre jovens, como a plataforma Discord.
Censura a perfis vêm ocorrendo desde o governo Bolsonaro, na época por suposta ameaça à democracia, o que acabou ganhando força com os atos de 8 de janeiro. Os ataques a escolas deram ao governo a justificativa para ampliação do controle.
Ao contrário, membros do governo insistem em associar os massacres a um conjunto cada vez mais amplo de ideias de maneira a abarcar seus críticos e, em última análise, a oposição. Parlamentares da oposição já quase perderam o mandato por questionarem ou criticarem plataformas ideológicas de apoio ao governo, como no caso do deputado Nikolas Ferreira.
Os protestos de 8 de Janeiro, sobre os quais pesam suspeitas de envolvimento do governo, trouxe a imediata sugestão do cerceamento e perseguição a opositores cujas ideias foram, ao longo do governo Bolsonaro, tachadas de “criminosas” desde o início. Pautas como a defesa da vida humana desde a concepção, por exemplo, sempre foram rotuladas como apologia a uma espécie de “tortura” ou restrição de direitos humanos às mulheres. A cooperação entre o jornalismo tradicional e membros do Judiciário atuam em incrível sintonia com as pautas da esquerda cultura, financiadas amplamente por entidades estrangeiras.
Apatia da direita
O medo de representar confirmação da culpabilização exercida pela direita contra setores conservadores tem feito com que parlamentares e jornalistas da oposição hesitem em criticar as medidas de controle. O problema é ainda mais grave quando a oposição passa a defender abertamente um maior monitoramento, ainda que com maior critério, o que no entanto não enfraquece a agenda governista, mas ao contrário.
Diferentemente do governo e seus mil tentáculos que abrangem terceiro setor, grande imprensa e Judiciário, atores conservadores raramente conseguem implementar algum item de suas pautas a partir dos fatos narrados pela imprensa. Diante de ataques a escolas, parlamentares da oposição sugerem aumento das forças tradicionais de repressão e policiamento, como um tradicional reforço da violência oficial que jaz nas mãos do poder Judiciário, como espécie de “empoderamento policial”, pauta cara ao bolsonarismo, ao invés de sugerir imediata aprovação do ensino domiciliar, de maneira a dar aos pais o controle do ensino e da segurança de seus filhos diante do assédio ideológico e discurso de ódio contra crianças e a família cristã, a exemplo do que houve em Nashville, nos EUA.
Na sanha de “lacrar” o policalismo e a apologia da segurança, pauta que a esquerda tem nas mãos por abrigar em suas asas o Judiciário da Repressão, conservadores ficam constrangidos pelo poder da grande mídia e, temendo reações como a que enfrentou Nikolas Ferreira, deixam de dizer que casos como o de Nashville são exemplos mais do que representativos do fenômeno dos ataques a escolas nos EUA. Críticos dos EUA repetem à exaustão que o fenômeno vem das terras americanas, mas deixam de lado que lá o perfil dos atiradores é, quase invariavelmente, antiamericano, antiocidental, anticristão e antifamília, tendo o caso da ex-aluna trans do Covenant School um exemplo de um upgrade desse fenômeno: a onda de ódio LGBT contra cristãos. O fenômeno mantém-se quase oculto pela omissão de quem tem poder de falar e se cala por medo da opinião pública e prefere, no lugar da denúncia do fato, repetir a condenação da violência genérica, endossando a narrativa que será melhor aproveitada pela esquerda para colocar na cadeia quem ela desejar.
Panoptico report
No final da última semana, o EN publicou com exclusividade um relatório que apelidou de Minority Report Petista. O nome é uma referência ao filme, estrelado por Tom Cruise, que se passa no ano de 2054 e o mundo é governado por um regime jurídico que consegue utilizar a tecnologia para prever o cometimento de crimes e prender os potenciais criminosos antes que os cometam. O relatório, obtido após divulgação pela comentarista do Twitter, Steh Papaiano, busca fazer uma associação falsa entre os massacres em escolas e as ideias conservadoras e de direita, supostamente responsáveis pelo que se classifica como “discurso de ódio”.
A narrativa exposta no relatório, escrito por ativistas, defende abertamente a criação de meios de monitoramento e controle de discussões na internet a fim de supostamente evitar a cooptação de jovens para grupos radicais que cometeriam esses crimes.
Desde a pandemia, a esquerda tem demonstrado uma incrível capacidade de utilizar os fatos para as suas agendas. Diferente do que disse certa vez o jornalista Nilson Laje, para quem “os fatos não são de direita nem de esquerda”, a realidade parece estar demonstrando incrível boa fé com a esquerda. A outra hipótese é um controle dos acontecimentos tão abrangente que escaparia de um imaginário menos chapéu de alumínio.