Origens da filantropia
A filantropia nos Estados Unidos tem raízes históricas profundas que remontam aos primeiros assentamentos coloniais. As tradições filantrópicas na América do Norte incluíam a prática da caridade cristã, a filantropia organizada por guildas e clubes de negócios, além de doações de indivíduos ricos e famílias abastadas.
Durante o século XIX, a filantropia nos Estados Unidos se tornou mais organizada e profissionalizada. O crescimento das cidades e o surgimento de uma classe média mais abastada criaram novas oportunidades para organizações de caridade e filantropia. A Guerra Civil também desempenhou um papel importante no desenvolvimento da filantropia americana, com organizações de ajuda humanitária emergindo para ajudar a atender às necessidades dos soldados e suas famílias.
No início do século XX, a filantropia americana passou por um período de transformação, com o surgimento de grandes fundações filantrópicas como a Fundação Rockefeller, a Fundação Carnegie e a Fundação Ford. Essas fundações foram estabelecidas por empresários ricos e suas famílias para promover o bem-estar público e abordar questões sociais complexas, como a pobreza, a saúde pública e a educação.
Hoje, a filantropia nos Estados Unidos é um setor próspero e diversificado, com doadores de todos os níveis de renda e interesses se envolvendo em causas e questões importantes. As fundações filantrópicas continuam a desempenhar um papel relevante no financiamento de programas sociais e na promoção de mudanças sociais e políticas de longo prazo.
No entanto, a atuação dessas entidades vem sendo cada vez mais criticada por sua influência social, econômica e política.
Poder excessivo: algumas pessoas criticam as fundações filantrópicas por terem poder excessivo sobre as políticas públicas e os destinos de comunidades. Por serem financiadoras de projetos e organizações, as fundações podem exercer influência sobre as agendas e prioridades dessas organizações, o que pode ser visto como um problema para a democracia.
Falta de transparência: outra crítica comum é a falta de transparência nas operações das fundações. Algumas pessoas questionam a falta de prestação de contas e a falta de divulgação de informações financeiras e de tomada de decisões.
Privatização do bem comum: há críticas de que a filantropia pode servir para privatizar o bem comum e retirar responsabilidades do Estado. Algumas pessoas argumentam que o governo deve ser o principal provedor de serviços públicos e que a filantropia pode desviar a atenção do governo de suas responsabilidades.
Interesses pessoais: algumas fundações são criticadas por terem agendas pessoais ou políticas. Isso pode levar a investimentos em causas controversas ou ações que podem prejudicar as comunidades em questão.
Impacto desigual: há críticas de que as fundações filantrópicas tendem a investir em áreas e causas que são atraentes para seus doadores, em detrimento de questões importantes e necessidades das comunidades mais desfavorecidas. Isso pode levar a um impacto desigual em diferentes grupos e regiões.
Benefícios fiscais: há críticas de que as fundações filantrópicas recebem benefícios fiscais excessivos, o que pode levar a uma perda de receita para o governo e uma falta de controle sobre o uso desses recursos.
Viés ideológico: algumas fundações filantrópicas são acusadas de ter viés ideológico em suas escolhas de causas e organizações a serem financiadas, o que pode levar a uma falta de diversidade de opiniões e perspectivas.
Influência sobre a pesquisa: há preocupações de que as fundações filantrópicas possam influenciar a pesquisa e os resultados científicos devido ao seu financiamento. Isso pode levar a resultados enviesados ou a uma falta de equilíbrio na pesquisa em determinadas áreas.
As mais atuantes
As fundações Open Society, Ford, Rockefeller e Bill e Melinda Gates são algumas das maiores e mais conhecidas fundações filantrópicas do mundo. Embora essas fundações tenham tido muitos sucessos em suas áreas de atuação, também enfrentaram críticas e controvérsias. Algumas delas incluem:
Fundação Open Society: A Fundação Open Society, criada pelo filantropo George Soros, é conhecida por seu apoio a causas como a democracia, os direitos humanos e a justiça social. No entanto, a fundação tem enfrentado críticas por sua influência na política internacional e por supostamente apoiar movimentos políticos que alguns consideram controversos. Alguns alegam que a fundação é usada para promover a agenda pessoal de Soros.
Fundação Ford: A Fundação Ford foi criada pela família Ford em 1936 e tem focado em questões como a igualdade racial, a justiça social e o desenvolvimento econômico. No entanto, a fundação também enfrentou críticas por sua influência sobre a política internacional e por seu papel na promoção de políticas de controle populacional. Alguns argumentam que a fundação tem um viés ideológico e que promove agendas políticas específicas.
Fundação Rockefeller: A Fundação Rockefeller, criada pela família Rockefeller em 1913, é uma das mais antigas fundações filantrópicas dos Estados Unidos e tem apoiado uma ampla gama de causas, incluindo a saúde pública, a ciência e a educação. No entanto, a fundação também enfrentou críticas por seu papel no desenvolvimento de políticas econômicas globais, que alguns consideram prejudiciais para os países em desenvolvimento.
Fundação Bill e Melinda Gates: A Fundação Bill e Melinda Gates, criada pelo fundador da Microsoft, Bill Gates, e sua esposa Melinda Gates, é uma das maiores fundações filantrópicas do mundo e tem focado em questões como a saúde global, a educação e o desenvolvimento econômico. No entanto, a fundação também enfrentou críticas por seu papel na promoção de políticas de controle populacional, por sua influência sobre a pesquisa médica e por sua abordagem de filantropia de “negócios sociais”, que alguns argumentam ser insuficiente para lidar com questões complexas de justiça social e desenvolvimento.
Algumas das ideologias de esquerda presentes em fundações filantrópicas incluem o marxismo, o feminismo, o ambientalismo, o antirracismo e o movimento LGBT. Essas fundações podem se concentrar em questões como a desigualdade econômica, os direitos trabalhistas, a justiça ambiental, a igualdade de gênero e a igualdade racial. Algumas das fundações filantrópicas de esquerda mais conhecidas incluem a Fundação Ford, a Fundação Open Society, a Fundação Rockefeller e a Fundação Rosa Luxemburgo.
Como trabalham as ideologias
O tema da igualdade racial vem sendo apropriado por fundações como forma de um racialismo, isto é, uma práxis ideológica marxista para gerar conflitos sociais análogos à luta de classes, da mesma forma como fazem movimentos LGBT e o feminismo. Ao induzirem uma separação entre explorados e exploradores, oprimidos e opressores, esses movimentos buscam catalisar sentimentos e emoções ligados à dualidade inaugurada pelo marxismo, sob a forma da desconstrução de comportamentos.
Essa metodologia, ou praxis, fica evidente quando se compreende as problemáticas teóricas da história dos debates entre marxistas, como as vertentes de Antonio Gramsci e, mais recentemente, de Ernesto Laclau.
Ernesto Laclau e Chantal Mouffe, no livro Hegemonia e Estratégia Socialista, argumentam que a esquerda deve abandonar o objetivo de uma única e universal “revolução” e, em vez disso, adotar uma abordagem mais flexível e pluralista que reconheça a diversidade de movimentos sociais e interesses populares. Eles defendem a construção de uma “hegemonia” progressista, que envolve a construção de alianças entre diferentes grupos e o estabelecimento de uma cultura política comum que possa desafiar a dominação das elites.
A abordagem de Laclau e Mouffe também critica a visão tradicional de classe, argumentando que ela é insuficiente para entender a complexidade das relações sociais e as demandas das minorias e grupos marginalizados. Eles propõem uma abordagem mais ampla da luta social, que enfatiza a importância de questões como raça, gênero e identidade cultural.
Ao longo do livro, Laclau e Mouffe desenvolvem uma teoria política complexa e sofisticada que tem sido influente na esquerda contemporânea. Eles argumentam que a esquerda precisa de uma estratégia mais inclusiva e flexível para enfrentar as desigualdades sociais e políticas em um mundo cada vez mais complexo e fragmentado.
As ideias de Laclau e Mouffe influenciaram muitos movimentos de esquerda contemporâneos, incluindo grupos hoje financiados por entidades filantrópicas, embora nem todos os marxistas concordem com a abordagem deles. Alguns críticos mais ortodoxos da teoria de hegemonia socialista, por exemplo, argumentam que ela enfatiza demais a construção de alianças políticas e não presta atenção suficiente às questões econômicas e de classe. Além disso, alguns marxistas argumentam que a abordagem de Laclau e Mouffe é insuficientemente crítica em relação à relação entre poder e capitalismo, mantendo sua crítica apenas a questões culturais e comportamentais para eleger novas identidades análogas ou que substituam o proletariado quando ele não está suficientemente evidente.
No entanto, os movimentos marxistas mais influentes incorporaram a teoria de hegemonia em suas análises e práticas políticas. Grupos e organizações de esquerda têm buscado construir alianças amplas e diversificadas com o objetivo de atacar o que identificam como uma “hegemonia da direita”, encarnada em tradições e interpretações clássicas dos valores democráticos. Eles buscam, com isso, estabelecer uma cultura política “mais inclusiva e democrática”, termo usado em substituição à clássica pregação socialista, que evoca autoritarismos. A abordagem de Laclau e Mouffe também influenciou a teoria do “populismo de esquerda”, que enfatiza a importância de uma estratégia política que mobilize as classes populares em torno de demandas comuns e articule suas lutas com a luta por um projeto socialista mais amplo.
Junto de Laclau e Mouffe, o chamado “gramscismo”, oriundo do pensamento do comunista italiano e jornalista Antonio Gramsci, desempenham importante papel na prática socialista nos dias de hoje. No entanto, há importantes diferenças entre as duas linhas, apesar de serem complementares.
Para Gramsci, a hegemonia é a capacidade de uma classe social de impor sua visão de mundo e seus interesses sobre outras classes, não apenas por meio da força, mas também por meio da persuasão e do consenso. Ele argumenta que a classe dominante constrói a hegemonia por meio de instituições como a mídia, a escola e a igreja, e que a classe trabalhadora deve construir sua própria hegemonia para poder levar a cabo uma revolução socialista.
Já para Laclau e Mouffe, a hegemonia não é vista como algo que pode ser construído apenas por uma classe social específica, mas sim como um campo de forças em constante disputa. Eles argumentam que a hegemonia deve ser construída a partir de uma ampla coalizão de forças populares que compartilham algumas demandas em comum, mas que também têm diferenças e divergências. Eles propõem uma estratégia de articulação de demandas populares e a construção de um “povo” político que possa desafiar a hegemonia existente.
Além disso, enquanto Gramsci enfatiza a importância da luta cultural e intelectual como parte da construção da hegemonia, Laclau e Mouffe enfatizam a importância da mobilização política e da organização popular.
Em resumo, enquanto Gramsci enfatiza a necessidade de uma classe específica construir a hegemonia, Laclau e Mouffe enfatizam a construção de uma coalizão ampla e diversa para desafiar a hegemonia existente.
Duas linhas de ação complementares
Ambas as noções de hegemonia têm sido influentes entre os grupos de esquerda hoje em dia, embora em diferentes contextos e com diferentes ênfases.
A abordagem de Antonio Gramsci tem sido particularmente influente entre os movimentos sociais e políticos que buscam a transformação social por meio da construção de uma hegemonia alternativa, como o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) no Brasil, que constrói sua luta a partir da perspectiva da construção de uma “contra-hegemonia” a partir da classe trabalhadora. Também tem sido influente em diversos estudos e análises críticas da cultura, da mídia e das instituições sociais.
Já a abordagem de Laclau e Mouffe tem sido mais influente em grupos políticos que buscam construir uma coalizão ampla e diversa para desafiar a hegemonia existente e construir uma transformação social mais plural e democrática. Exemplos incluem o Podemos na Espanha, que se inspirou nas ideias de Laclau para construir uma coalizão política ampla e diversa que desafiou a hegemonia do Partido Popular, e o movimento Black Lives Matter nos EUA, que articula demandas por justiça racial a partir de uma perspectiva interseccional e plural.
Grupos e financiadores
Fundação Rosa Luxemburgo: A Fundação Rosa Luxemburgo é uma fundação política alemã afiliada ao partido político Die Linke. A fundação apoia projetos que promovem a justiça social e a democracia radical, incluindo projetos que buscam construir alianças entre diferentes grupos sociais e mobilizar a população em torno de demandas comuns. A fundação financia projetos e iniciativas de movimentos sociais e políticos em diversas partes do mundo, incluindo o Brasil, e tem como uma de suas referências teóricas o pensamento de Gramsci.
Fundação Friedrich Ebert: uma fundação política alemã ligada ao Partido Social-Democrata da Alemanha (SPD), que tem como objetivo promover a democracia, os direitos humanos e a justiça social. A fundação também mantém iniciativas de movimentos políticos pelo mundo e inclui o Brasil.
Open Society Foundations: As Open Society Foundations são uma rede de fundações filantrópicas criada pelo bilionário George Soros. A fundação apoia organizações e projetos em todo o mundo que trabalham para promover a justiça social e os direitos humanos. Embora a abordagem da fundação não seja estritamente baseada na teoria da hegemonia de Laclau e Mouffe, muitas das organizações e projetos apoiados pela fundação buscam construir alianças amplas e mobilizar as classes populares em torno de demandas comuns. Algumas dessas iniciativas podem estar alinhadas com a perspectiva gramsciana sobre a construção de uma “contra-hegemonia”.
Fundação Ford: Mais interessada em questões raciais e gênero, a Fundação Ford tem um histórico de apoio a projetos e organizações e projetos em todo o mundo que buscam construir alianças entre diferentes grupos sociais e mobilizar a população em torno de demandas comuns, como preconizam Laclau e Mouffe.
Fundação Heinrich Böll: A Fundação Heinrich Böll é uma fundação política alemã afiliada ao partido político Os Verdes. A fundação apoia projetos que promovem a justiça social, a democracia radical e a sustentabilidade ambiental. Muitos dos projetos apoiados pela fundação buscam construir alianças entre diferentes grupos sociais e mobilizar a população em torno de demandas comuns.
Algumas fontes bibliográficas sobre fundações internacionais
“The New Leviathan: How the Left-Wing Money-Machine Shapes American Politics and Threatens America’s Future” de David Horowitz – Este livro critica as grandes fundações e sua filantropia como um mecanismo para promover uma agenda esquerdista que ameaça os valores e interesses americanos tradicionais.
“Dark Agenda: The War to Destroy Christian America” de David Horowitz – Neste livro, Horowitz argumenta que as grandes fundações e outras instituições progressistas estão trabalhando para destruir a identidade cristã da América por meio de suas doações e outras formas de apoio financeiro.
“The Tyranny of Good Intentions: How Prosecutors and Bureaucrats Are Trampling the Constitution in the Name of Justice” de Paul Craig Roberts e Lawrence M. Stratton – Este livro critica a filantropia das grandes fundações como um mecanismo para promover uma agenda progressista que mina as liberdades individuais e os direitos constitucionais.
“No Campus for White Men: The Transformation of Higher Education into Hateful Indoctrination” de Scott Greer – Neste livro, Greer critica as grandes fundações e outras instituições progressistas por financiarem programas acadêmicos que promovem uma agenda esquerdista radical, que inclui a doutrinação ideológica e a censura da liberdade de expressão.
“The War on Charity: How Government Bureaucrats and Politicians Are Trying to Destroy Private Charitable Giving” de Martin Morse Wooster – Este livro critica as políticas governamentais que limitam a filantropia privada, argumentando que as grandes fundações são um importante contrapeso para a expansão do poder estatal.