Manchete da semana: Greta Thunberg, a combativa adolescente loira ambientalista – também conhecida como ativista pelo clima – receberá, na Suécia, uma coleção de selos postais em sua homenagem.
De fato, é muito merecida a homenagem, afinal, é um feito digno de nota viajar mundo afora, de primeira classe, com o rosto transtornado pelo histrionismo, para berrar, aqui e acolá, insultos contra os malvados destruidores da natureza – financiada por malvadões ainda piores – o que faz da mocinha uma personalidade a ser lembrada pelas próximas gerações.
Quando foi que a sociedade deixou de homenagear homens verdadeiramente fortes e importantes, que ofereceram a própria vida em sacrifício pelo progresso, como astronautas e oficiais, ou mesmo grandes escritores e grandes líderes políticos, para transformar em heróis instantâneos, metidos goela abaixo pela repetição insistente da mídia, adolescentes alçados ao estrelato militante pela máfia milionária do ambientalismo?
A resposta é muito simples: quando todos passaram a valer pelo que aparentam ser, e nunca pelo que realmente são. Se analisarmos quem é Greta Thunberg, constataremos que é uma garota nascida em família rica, em um dos países mais ricos do mundo, em uma época na qual os jovens possuem todas as facilidades possíveis, que jamais teve contato algum com pessoas que realmente sofrem por questões de meio ambiente, que experiencia o mundo apenas pela tela de seu Iphone, e que um dia teve a “sorte” de ser cooptada por ricaços interessados em espalhar o terrorismo ambientalista para despistar suas agendas políticas. Uma fantoche de tranças, nada mais.
E o que ela aparenta ser? Uma adolescente dotada de grande responsabilidade e consciência ambiental e social, corajosa a ponto de gritar na ONU que “pessoas estão sofrendo, pessoas estão morrendo, ecossistemas estão colapsando…. HOW DARE YOU?” – em um tom de justiceira social e paladina da virtude e da bondade, com os olhos esbugalhados e vidrados pela enorme importância histórica de seu ato. Quanta coragem!
As novas gerações ressentem-se da mais completa e absoluta falta de heróis, de modelos, ou de exemplos em quem se inspirar.
O fenômeno é o mesmo que levou o youtuber Felipe Neto a ser eleito uma das cem personalidades mais influentes do mundo pela revista Times, e a participar de um debate ao vivo com o ministro do STF, Luis Roberto Barroso, que deveria ser, em tese, um homem respeitável. O ministro, no entanto, para fazer um jogo de mídia e tentar elevar sua popularidade, colocou em enorme risco a sua reputação ao levar a sério um adolescente tardio de 32 anos que, embora esteja tentando emplacar opiniões políticas e sociais, não convence, e só é lembrado por imitar focas, ostentar cabelos multicoloridos para atrair audiência e estimular a sexualização precoce de crianças e adolescentes.
E o que dizer do fato de ter sido, o mesmo youtuber cover de foca, um dos entrevistados do programa Roda Viva, além do biólogo com poderes premonitórios Átila Iamarino e do “humorista” Fabio Porchat, maculando uma cadeira na qual já se sentaram Roberto Campos, Ulisses Guimarães e Nelson Rodrigues?
É lamentável constatar que nossos jovens não possuem exemplos de verdadeira virtude para cultuar como heróis, tendo que se contentar com qualquer personalidade vazia e narcisista, com relativa capacidade de comunicação e talento para fazer sucesso na internet. E eles se contentam alegremente com isso, pois sequer imaginam do que é feito o mundo real. E nem poderiam, pois vêm sendo treinados há tempos: a experiência diária de nossos adolescentes não vai muito além de babar na frente da tela de um computador e de um celular, de postar fotos, jogar e acompanhar a vida alheia e das celebridades.
A vida contemporânea é vivida entre quatro paredes, e pela primeira vez na história da humanidade, a maioria das pessoas passa a maior parte de suas vidas dentro de casa, o que restou ainda mais agravado e acelerado pela reação à pandemia de Coronavírus. Fique em casa, pelo amor de Deus!
Como notou com aguda perspicácia o professor inglês Anthony Esolen, no livro “Dez maneiras de destruir a imaginação do seu filho”1, ocorre que estamos substituindo o maravilhoso mundo que nos cerca por um mundo artificial, onde não a imaginação, mas os dispersos impulsos de nosso sistema nervoso, possam vaguear por um período e depois descansar. Estamos substituindo o ar livre por um espaço virtual.
É exatamente isso que fazem os jogos que simulam a vida real, nos quais o jogador pode construir casas, trabalhar, adquirir os bens de consumo indispensáveis para sua realização pessoal, apaixonar-se, casar e ter filhos. Outros tornam-se fazendeiros, cuidando da terra e de animais. Provavelmente, o contato mais próximo que jovens como Greta Thunberg teve com uma vaca ou uma galinha, em toda a sua vida, deu-se assim.
A introdução precoce de jargões e clichês políticos, disfarçados por afirmações de autovalorização, independência de pensamento, liberdade e autenticidade, gera um sentimento de identificação grupal, e a necessidade típica do adolescente de ser aceito pela patota determinará todos os aspectos da sua vida, inclusive seus ídolos. Neste meio, o jovem não é medido e aceito por suas qualidades, mas pela semelhança com os demais. Logo, não ousará ser diferente, escolhendo seus heróis no deprimente catálogo das figuras do entretenimento de massa.
Clichês são saídas fáceis para os grandes problemas do ser humano e isentam os jovens da enfadonha necessidade de pensar e refletir sobre o mistério da vida. Assim, surgem algumas “verdades fundamentais” estereotipadas, que não devem ser questionadas se você pretende ser “legal”: pessoas religiosas são intolerantes, homens brancos e heterossexuais são homofóbicos e machistas, mulheres que não querem matar fetos são reacionárias e vendidas, policiais são violentos e ignorantes, dignos de riso. Indivíduos normais, que só querem viver a própria vida como bem entenderem e educar os filhos com os valores em que acreditam, são fanáticos de “extrema direita”. Por outro lado, é “super do bem” ser vegano e defender os animais, mesmo que nunca se tenha visto uma vaca na vida.
A introdução dessas fórmulas ideológicas através de slogans e estereótipos impostos pela mídia é indisfarçável e só pode ser negada por quem se recusa a acreditar nos próprios olhos. Os telejornais tratam todo dia dos mesmos assuntos, repetindo à exaustão os temas interessantes e convenientes, enquanto a internet “bomba” quando o assunto é a vida milionária de um influenciador digital, ou quando ele se posiciona politicamente.
Essa visão reduzida da realidade, que desconsidera alguns fatos para repisar sempre o mesmo tipo de evento e reforçar um determinado discurso, é responsável por manter a juventude presa nessa bolha da propaganda midiática, ignorando completamente alguns dos reais problemas da sociedade.
E, assim, os jovens se mantém isolados neste mundo todo construído por conceitos e abstrações, na confortável posição de nunca ter de confrontar uma coisa perigosa chamada realidade. Não há nada de superior a aspirar, não há ideais e nem excelência alguma a ser buscada, já que seus ídolos e modelos são figuras como o idiotizado e idiotizante Felipe Neto e a pansexual e hipersexualizada Anitta, vista, ainda ontem, em uma orgia nos Estados Unidos, jogando notas de dólares para cima em meio a uma aglomeração (sem máscara) de pessoas seminuas.
No mesmo livro citado, Anthony Esolen nos adverte que, para limitar a imaginação moral, é boa medida ofuscar heróis genuínos e instalar em todos os lugares espelhos para a adulação de si mesmo. Isso tem funcionado, e o imaginário de ídolos de nossa juventude está cada vez mais despovoado de bons exemplos. Aspirar a que? Se os exemplos são esses, o objetivo é ter muito dinheiro para torrar, fazer do próprio corpo um aparato sem limites para buscar o prazer sexual e ter sucesso na internet, mesmo sem mérito algum. Aliás, ao contrário, quanto mais vazio e amoral seja o ídolo, mais ele será idolatrado como um corajoso padrão de independência e liberdade.
São, no entanto, os maiores escravos.
1 Esolen, Anthony. Dez maneiras de destruir a imaginação do seu filho. Campinas, SP: Vide Editorial, 2017.