Em maio de 2018, mesmo mês em que o editor da Piauí revelava em seu podcast a estratégia de “fingir fazer jornalismo” para derrubar Bolsonaro, a Agência Pública, histórica agência ligada à Open Society, publicou um texto em que tentava esclarecer as supostas notícias falsas a respeito da agência. No texto, em apenas um parágrafo a agência menciona a parceria com o bilionário George Soros. Após esclarecer o boato de que o blogueiro Leonardo Sakamoto seria “dono da Agência Pública”, sendo ele na verdade apenas membro consultivo até 2017, a agência parte para “checar” o fato de a Pública ser “financiada por George Soros”.
A Agência Pública tem dois tipos de financiadores: fundações e público leitor, através de crowdfunding ou doações diretas. As fundações parceiras estão claramente identificadas em nosso site. A Open Society Foundation, fundada por George Soros, é uma dessas parceiras, responsável atualmente pelo financiamento parcial da Casa Pública, no Rio de Janeiro. Nenhum financiador interfere em nossas pautas nem tem acesso a nenhum conteúdo antes da publicação em nosso site.
Trata-se da mesma resposta dada pela Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) quando perguntada sobre seus patrões. A informação mais importante aqui é a confirmação do suposto boato. O argumento de que “nenhum financiador interfere em nossas pautas” é obviamente dispensável, uma vez que o financiamento prévio já configura um compromisso de critério de pautas, o que vai muito além de mera fiscalização de pautas. Nunca teria ocorrido aos jornalistas acadêmicos críticos da submissão da atividade ao Grande Capital, que o jornalismo das grandes empresas estaria livre de controle do setor comercial só porque as matérias não passam antes por aquele setor antes de publicadas.
Em seguida, a Pública sai em defesa dos parceiros da checagem de fatos que são, segundo eles, “alvo de ataques massivos de grupos que se organizam através da rede para difamar jornalistas”. Naturalmente, esperam apenas o silêncio submisso e obediente daqueles contra os quais aplicam o selo de mentirosos falsamente. O interessante é notar como funciona a solidarização imediata entre os checadores, evocando princípios de isenção que os une. Se estes princípios de fato são compartilhados por todos, como querem nos dizer, isso significa que a demolição deste edifício de simulacro se aplica automaticamente a toda a rede.
Na sequência, portanto, dizem eles:
“Nos solidarizamos com essas organizações, que fazem um trabalho de utilidade pública e atendem aos requisitos da rede internacional de checadores do Instituto Poynter – um deles o apartidarismo”.
Assumindo pertencerem a uma rede internacional, a Pública relembra a sua filiação ao Instituto Poynter e evoca o “apartidarismo” como valor que os une. De fato, na declaração da Poynter para filiação de agências de fact-checking, o apartidarismo é um requisito básico. Mas outros financiamentos de George Soros não obedecem a este critério, muito antes pelo contrário, como veremos a seguir.
O bilionário George Soros está presente em todas as iniciativas que estruturam a prática do fact-checking – a Open Society Foundation (OSF) está por trás dos dois grandes ramos do fact-checking atuante no Brasil: a First Draft (Comprova) e a IFCN (Lupa e outras), como ficou claro em um artigo anterior. Na verdade, como sabemos, Soros financia muitas outras coisas e, nas últimas décadas, direcionou especial interesse à área da comunicação. A sua rede de financiamentos é tão vasta que se pode facilmente chamar de império. Vejamos o que diz o levantamento da ONG Influence Watch sobre a abrangência do poder da “Sociedade Aberta” de Soros, além das informações obtidas em seu próprio site e em sites financiados por ele, o que nos concede uma credibilidade insuspeita.
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Fundada em 1993, a Open Society Foundation surgiu como um think tank de centro-esquerda chamado Open Society Institute (OSI), que continua sendo seu nome formal, embora seu escopo tenha se expandido para incluir doações gerais para outras organizações sem fins lucrativos de extrema-esquerda. Em 2018, a OSF relatou receitas de US$ 376 milhões e despesas de US$ 215 milhões (incluindo doações de US$ 20,3 milhões). A OSF é a segunda maior das fundações de Soros, com ativos em 2018 de US $ 3,7 bilhões.
A Fundação para Promover a Sociedade Aberta (FPOS) é a maior das fundações de Soros, com ativos, em 2018, de US$ 10,8 bilhões, receitas de US$ 1,3 bilhão e despesas de US $ 498 milhões (incluindo subsídios para outras organizações sem fins lucrativos que totalizam US$ 499 milhões). A FPOS recebeu, em 2008-2009, mais de US$ 1 bilhão da OSF (então fundação primária de Soros), tornando-se, então, a maior organização doadora na rede Soros. Estima-se que a entidade já tenha desembolsado bilhões de dólares para várias organizações sem fins lucrativos de centro-esquerda e extrema-esquerda pelo mundo, incluindo Media Matters for America, Liga das Mulheres Votantes, Conselho de Defesa de Recursos Naturais (NDRC) e United (ex-Conselho Nacional de La Raza). No Brasil, a fundação mantém doações a nada menos que 53 entidades, de acordo com o site da OSF. Além de ONGs, órgãos setoriais, a entidade doa também a empresas que se empenham na promoção de seus ideais, mantendo influência profunda na sociedade brasileira.
Para além dos fact-checkings, a OSF manteve ativas bolsas de doação com duração média contratual de dois anos, a entidades como Gênero e Número Comunicação LTDA, Associação Direitos Humanos em Rede, Quebrando o Tabu, Chicas Poderosas Inc, Comunitas, Terra de Direitos, Brazilian Forum on Public Safety, Fundo Brasil de Direitos Humanos, Instituto Sou da Paz, entre muitos outros. A OSF também assinou um contrato de cinco anos com a Baoba – Fundo para Equidade Racial, mais conhecida pelo nome de Fundação Marielle Franco, dedicada à vereadora do PSOL assassinada no Rio de Janeiro. Este belo “apartidarismo” de Soros concedeu nada menos que US$ 999.995 em 2018, como parte do contrato de cinco anos, bem maior do que a outros projetos investidos no Brasil. A ONG é dedicada à “formação de lideranças políticas” no país. Este é o apartidarismo que é fonte de recursos do jornalismo brasileiro da Abraji, Agência Pública e todos os ramos da atividade verificadora.
Além das fundações mais conhecidas, Soros distribui suas fontes de financiamento a outras entidades satélites de repasse, como as de seus filhos, a Fundação Alexander Soros e Fundação Jennifer e Jonathan Allan Soros, que investem igualmente em pautas de extrema-esquerda. Esta última, assim como o pai, gosta de dar dinheiro à menina dos olhos dos globalistas, a fundação “filantrópica” da maior clínica de abortos do mundo, a Planned Parenthood, que em 2015 se envolveu no chocante escândalo de venda de tecidos fetais à indústria farmacêutica.
Há ainda o Open Society Fund, a organização mais antiga da rede Soros, criada em 1979. Na década de 1980, o Open Society Fund expandiu seu foco de doações para a África e a Europa para promover a filosofia de “sociedade aberta” de George Soros, particularmente entre os ex-soviéticos países do bloco, começando na década de 1990. Esta atuação foi e tem sido usada como argumento por jornais para disfarçar Soros de “direitista”, já que seu dinheiro teria sido teoricamente “contra o comunismo”. Hoje, porém, sabe-se que a abertura da URSS foi, na verdade, um plano de expansão do comunismo, que passou a se encarnar nos discursos ambientalista e globalista. Mas a verdade é que desde os anos 90 a concessão de doações mudou do Open Society Fund para os principais veículos de financiamento de Soros: a OSF e a FPOS, que hoje derramam seu dinheiro à extrema-esquerda e ao controle do jornalismo.
Outras entidades semelhantes à Open Society Fund foram criadas de modo regionalizado ou específico, como a Open Society Institute Baltimore, a Soros Economic Development Fund (SEDF), Soros Fund Charitable Foundation, esta última dedicada à promoção do ideal da sociedade aberta na China, nos anos 1990. Essas quatro entidades constituem grupos de repasses financeiros.
Outra entidade que expõe o pensamento esquerdista de Soros e a sua militância em favor de uma nova ordem controladora global, é o Institute for New Economic Thinking (Instituto para um Novo Pensamento Econômico, INET). Trata-se de um think tank fundado por Soros, em 2010, para promover um novo consenso estatista na economia em substituição da teoria econômica do livre-mercado, surgida na esteira da Grande Recessão de 2007-2008. Soros acredita que a desregulamentação econômica produz crises financeiras. Por isso, vê na regulação estatal uma forma de alavancar a economia mundial rumo à sua sociedade aberta, uma crença conveniente a grandes investidores e obviamente dizimadora dos pequenos comerciantes do capitalismo. O elitismo econômico de Soros, como vemos, vai muito além da promoção do enciclopedismo jornalístico. O INET realiza reuniões anuais globais de economistas com ideias semelhantes. Soros continua sendo um dos principais financiadores do think tank.
Depois das entidades de repasse financeiro e de discussão econômica, Soros tem outras duas fundações que dedica ao lobby declarado de suas causas extremistas.
Uma delas é Open Society Policy Center (OSPC), considerado principal grupo de lobby na rede Soros. O centro faz doações para outros grupos de extrema-esquerda que são permitidos pelas regras do IRS que demandam significativamente mais dinheiro em atividade de lobby do que outros tipo de organizações. Os destinatários de doações do OSPC incluem o Center for American Progress Action Fund, o Planned Parenthood Action Fund e Color of Change.
Depois, Soros mantém ainda o Fund for Policy Reform (Fundo para Reforma Política), outro grupo que faz doações a organizações com foco em políticas de drogas (descriminalização de todas as drogas), justiça criminal (audiência de custódia, defesa de presos) e política de administração eleitoral. Dentro dessa instituição, funciona ainda o Fund for Policy Reform Trust.
Criado em 2009, com uma doação de US$ 100 milhões de George Soros, o Fund for Policy Reform Trust é uma organização “irmã” do grupo anterior e atua como sua câmara de compensação financeira: somente em 2018, o Trust concedeu $ 750 milhões ao Fund for Policy Reform, seu único recebedor de subsídios e o único doador para o Fundo.
Além de empresas financeiras, a rede de Soros mantém ainda uma universidade, a Universidade da Europa Central, que foi sediada em Praga, na República Tcheca e depois mudou-se para Budapeste, Hungria, terra natal de Soros. Mas em 2018, a universidade foi expulsa do país por uma lei específica que visava limitar a influência da rede de Soros no país, tamanha é a sua força pelo mundo.
Em seu site de financiamentos, é possível buscar por vários tipos de fundos e doações pelo mundo. Projetos brasileiros não recebem apenas diretamente. Por exemplo, não é possível encontrar o financiamento à Abraji no site da OSF, porque o dinheiro vai para entidades internacionais que abrigam a Abraji de outras formas. É o caso da Global Investigative Journalism Network.
Veja a lista das entidades financiadas pela Open Society que tem o Brasil como palavra-chave:
Além dessas, há diversas outras entidades e grupos de comunicação financiados no Brasil via grupos internacionais, como no caso da Abraji e checadores que recebem o apoio de Soros por meio dela. O interesse de Soros pelo jornalismo vem de longa data, como veremos mais adiante. Só em jornalismo, a OSF financia 82 projetos pelo mundo. Na América Latina são 19. Sobre todos as temáticas, os fundos envolvendo o Brasil somam 53 projetos, incluindo financiamentos com temáticas diferentes nos mesmos projetos envolvendo o Brasil e ainda os apoios indiretos e parcerias. Entre eles, estão a Escola de Jornalismo (83 mil dólares em 2018 e 19) e Repórter Brasil – Organização de Comunicação e Projetos Sociais.
A grande estratégia por trás dessa rede de financiamentos é justamente a manutenção e controle da estrutura de fontes do jornalismo. O leitor pode navegar por diversos sites da grande mídia e não encontrará reportagens sobre aborto sem a ONG Anis Bioética como principal fonte. Mais do que isso, essas entidades funcionam como definidoras de fontes. A Fundação Marielle Franco, como formadora de lideranças políticas, é a principal fonte quando o assunto é a quem ouvir sobre política nas páginas da Folha de S. Paulo. Da mesma forma, a ONG Artigo 19 é a única fonte de uma série de reportagens sobre violações e ataques a jornalistas, que a organização incluiu memes e risadas de bolsonaristas nas redes sociais.
Da mesma forma, entidades que não pertenciam propriamente a um espectro esquerdista partidário, acabam sucumbindo ao assédio financeiro exercido pela OSF, de modo que não ousam contrariar seus enquadramentos, tamanha é a estrutura de consenso fabricada no entorno social jornalístico. Órgãos como a Anistia Internacional, historicamente ligada à esquerda, ou Repórteres Sem Fronteiras, acabam vendo no comportamento de pauta dos colegas um feliz consenso em torno de suas utopias.