Dizendo ter “verificado” a declaração do ex-vice-presidente da farmacêutica Pfizer, Mike Yeadon, a agência Lupa simplesmente repetiu as teses questionadas pelo pesquisador, que alertou para os riscos da proposta de uma vacinação universal promovida por empresas farmacêuticas como a Pfizer, em convênios com a Organização Mundial da Saúde (OMS). Contra os argumentos de Yeadon, que visam confrontar a OMS, a Lupa utilizou a autoridade da própria OMS, utilizando um expediente falacioso conhecido como “petição de princípio”, muito comum na prática do fact-checking quando se busca calar um lado do debate.
Além disso, a agência se vale de manipulação do debate, uma vez que a própria OMS alertou para a insuficiência de uma vacina ampla para conter a pandemia. Ou seja, além de usar como argumento a autoridade da OMS, essa autoridade é descontextualizada.
A Agência disse ter checado a seguinte afirmação do pesquisador:
“Não há absolutamente nenhuma necessidade de vacinas para extinguir a pandemia”
Em resposta, disse a Lupa:
“A informação é falsa. No Brasil, por exemplo, a vacinação contribuiu para erradicar a febre amarela urbana em 1942, a varíola em 1973 e a poliomielite em 1989, controlou o sarampo, o tétano neonatal, as formas graves da tuberculose, a difteria, o tétano acidental e a coqueluche, segundo relatório do Programa Nacional de Imunizações (PNI), da Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde”.
A vacinação, ao contrário do que diz a declaração, é a forma mais segura e eficaz de prevenir doenças, segundo a OMS. E, portanto, necessária para a erradicação, eliminação e controle das doenças imunopreveníveis no Brasil, afirma o Instituto de Tecnologia em Imunobiologia Bio-Manguinhos, da Fiocruz.
A agência não checou informação, mas resumiu-se a discordar dela apresentando dados para confrontar a opinião do pesquisador, sem levar em conta seus argumentos, mas apenas sua conclusão. A Lupa não explicou como pandemias anteriores à invenção das vacinas foram extintas em outras épocas.
A refutação feita pela Lupa, portanto, é falsa porque apela para argumentos de autoridade que são os questionados pelo próprio pesquisador.
A agência utiliza como premissa da sua checagem a autoridade de órgãos como a OMS. Essa autoridade é justamente a questionada por Mike Yeadon e outros pesquisadores. Isso constitui a argumentação falaciosa conhecida como petição de princípio, quando se evoca como premissa de uma refutação a própria tese que está sendo refutada. Utiliza-se a conclusão atacada como premissa de uma defesa.
É como dizer: “eu não estou mentido, por isso estou dizendo a verdade”. O expediente funciona apenas para quem já não concordou e depende de uma crença na autoridade da afirmação.
Ainda assim, vale-se na verdade da autoridade da OMS e da indústria farmacêutica produtora das vacinas, ignorando alertas da própria OMS, que por diversas vezes declarou, por meio de seu presidente e outros técnicos, que outras medidas como lockdown, máscaras etc, deverão permanecer mesmo após uma vacinação, o que indica insuficiência de programas de vacinação.
Fingindo ignorar a diversidade dos debates e declarações de cientistas internacionais sobre questões que podem alterar a vida de milhões de pessoas, as agências checadoras classificaram como “informação falsa” a parte do debate que confronta o discurso dominante de entidades internacionais e da indústria farmacêutica.
Agência defende grandes grupos
Enquanto a farmacêutica Pfizer ganha as manchetes anunciando o lançamento iminente de sua vacina contra a Covid-19, o ex-vice-presidente e cientista-chefe da empresa rejeitou categoricamente a necessidade de qualquer vacina para acabar com a pandemia.
Em um artigo recente, o Dr. Michael Yeadon, que passou mais de 30 anos liderando pesquisas de novos medicamentos [alergia e respiratórios] em algumas das maiores empresas farmacêuticas do mundo, e se aposentou da Pfizer em posição sênior de pesquisas neste campo, escreveu:
“Não há absolutamente nenhuma necessidade de vacinas para extinguir a pandemia. Nunca ouvi tal absurdo sobre vacinas. Você não vacina pessoas que não correm risco de contrair doenças. Você também não planeja vacinar milhões de pessoas saudáveis e em forma com uma vacina que não foi amplamente testada em seres humanos. Isso eu sei depois de 30 anos na indústria farmacêutica”.
Ele não é o único a criticar a ideia de uma vacina universal e obrigatória contra a Covid-19. No Brasil, médicos e entidades da sociedade civil vêm protestando contra essa ideia, cuja origem pode estar, segundo alguns, no alinhamento entre a Organização Mundial da Saúde e a indústria farmacêutica.