[Trecho do livro: Superpoblación, la conjuntura contra la vida humana, de José Alfredo Elias Marcos]
O crescimento ou equilíbrio demográfico mundial é um dos principais desafios enfrentados pela humanidade no início do século XXI. Passados os dias da ameaça nuclear planetária, a superpopulação converteu-se no principal temor de nosso mundo. Previsões catastróficas se repetem nos congressos internacionais e suas conclusões pessimistas abastecem manchetes dos principais jornais: a organização WWF alerta que o planeta Terra já consumiu suas reservas naturais para 2014 e adverte que, se a tendência se manter, em 2050 a humanidade precisará de no mínimo três planetas para satisfazer as suas necessidades.
No entanto, essas afirmações contradizem o fato de que 97% da superfície terrestre está vazia. Enquanto a densidade populacional se concentra nas cidades, o restante do planeta ainda sofre com grande despovoamento. Além disso, segundo estudos da própria ONU, Europa e Japão enfrentarão nas próximas décadas uma crise de redução populacional.
Se é verdade que a população está aumentando, também é certo que a expectativa de vida duplicou no último século. Os avanços alimentares e sanitários trouxeram uma redução na mortalidade infantil, assim como materna, em mais de 90%.
A primeira revolução demográfica observada foi seguida por uma segunda revolução, baseada em uma brusca queda de natalidade. Ao mesmo tempo, vem ocorrendo um envelhecimento da população nos países desenvolvidos, fenômeno que alguns denominam “inverno demográfico”. Esses fatores produzem um desequilíbrio das estruturas etárias, a partir da redução da população ativa e aumento do número de pessoas mais velhas, que dependem de pensões pagas por um segmento ativo que se vê cada vez menor. Alguns governos apontam como solução a eutanásia, uma proposta que não faz outra coisa senão degradar a solidariedade entre as gerações.
A doutora em economia, Jacqueline Kasun, denuncia essa situação como uma autêntica “guerra contra a população”:
“A ideia de que a humanidade está se multiplicando a uma velocidade terrível e acelerada é um dos falsos dogmas do nosso tempo…”
Essas ideias são a base de uma enorme indústria internacional de controle da população, que consome milhões de dólares em impostos, bem como o esforço de tempo de dezenas de organizações filantrópicas privadas. Essa agenda é o tipo de planificação social que exige o controle draconiano sobre as famílias, as igrejas e outras instituições voluntárias em todo o mundo” (Kasun, 1993).
Essa guerra pode ter sido declarada a partir da obra do britânico Thomas Malthus, “Ensaio sobre a lei da população” (1789), que alertava para o perigo do crescimento populacional para a estabilidade do estado. Para Malthus, a população deve ser controlada e cabe às autoridades determinar a vida ou morte das pessoas, uma forma de governo que Michel Foucault chamou de biopolítica. Para isso, o estado considera fundamental a conscientização e a propaganda sobre as medidas anti-humanas. Assim, exige como prioritário o controle sobre a educação, mediante uma escola laica-estatal, e o controle da informação através da cooperação com os meios de comunicação.
As estratégias desta guerra contra a população vêm se modificando ao longo do tempo e suas distintas etapas estruturam o conteúdo deste livro:
Malthusianismo (1789-1822): Iniciado pelo reverendo inglês Thomas Malthus, esta fase configura as bases ideológicas da guerra contra os pobres e deficientes. Guerra, pobreza, doenças e fome são apresentadas como ferramentas à disposição do estado para controlar o número de habitantes.
Neomalthusianismo (1822-1883): Introduz a anticoncepção, a dissolução de matrimônios, o “amor livre”, assim como a perversão dos costumes, como meios limitadores do crescimento populacional.
Eugenismo (1883-1914): Idealizada por Francis Galton, a eugenia surge como uma pseudociência para “a melhoria da raça”, mediante o controle dos matrimônios entre pessoas “saudáveis”, melhorar a criação dos filhos e evitar a descendência dos “débeis” e “defeituosos” da sociedade.
Controle de nascimentos (1914-1942): herdeira do pior do eugenismo, do racismo e anarquismo, Margaret Sanger desenvolveu a estratégia moderna do controle de natalidade (birth control): ampliação do acesso de pessoas pobres aos métodos anticonceptivos por meio da instalação de clínicas de bairros; esterilização massiva de deficientes e “degenerados”; liberação do aborto e sua garantia gratuita; plano de métodos anticonceptivo seguro e massivo administrado por via oral, e a necessidade de coordenação internacional dos esforços para reduzir a população mediante congressos e conferências sobre população.
Criptoeugenia (1942-1960): Com o fim da Segunda Guerra Mundial e a criação das Nações Unidas, para garantir a paz dos povos, os movimentos anti-vida se veem obrigados a adotar uma nova linguagem e, com isso, novas estratégias. Substitui-se “controle de natalidade” por “planejamento familiar”. Um novo tipo de família começa a se desenhar, o dos casais que preferem a comodidade e o bem-estar econômico aos incômodos inerentes à criação e educação dos filhos.
Revolução sexual (1969-1974): Iniciada a partir do pensamento de Wilhem Reich, Alfred Kinsey e Herber Marcuse, e com a difusão da pílula anticonceptiva promovida por Sanger, a revolução sexual transforma a família e as relações de amor entre homem e mulher: o prazer sexual (exclusivamente genital) converte-se no centro da busca da felicidade humana tão buscada desde os tempos iluministas.
Neocolonialismo (1974-1994): Diante da descolonização, novas nações na África e Ásia começam a sair do subdesenvolvimento e a desenvolver educação e criação de escolas e universidades. No aspecto sanitário, cria-se hospitais e centros de saúde, trazendo novas vacinas capazes de salvar vidas. Além disso, o crescimento econômico propicia novas técnicas agrárias, pequenas indústrias etc. No entanto, as antigas potências coloniais tratam de continuar exercendo poder e controle sobre os recursos naturais de seus antigos domínios. Para tanto, desenvolvem novas estratégias de controle mundial da população, tais como: imposição de métodos artificiais de controle de natalidade, controle de meios sanitários e farmacêuticos, venda de armas e instigação de conflitos armados no Terceiro Mundo (Ruanda, Angola, Serra Leoa, Camboja etc), além daquela que foi denominada “guerra de fome” (Somália, Etiópia etc). Neste sentido, são reveladoras as políticas de planificação populacional aplicadas em diferentes países do mundo: política do filho único, na China, campanhas de esterilização massivas, legalização do divórcio e do aborto etc.
Direitos reprodutivos (1994-2014): Nas conferências de população do Cairo (1994) e da mulher, em Pequim (1995), propõe-se como estratégia de controle populacional global a defesa dos chamados “direitos reprodutivos” e os “direitos sexuais”. Eles se referiam à defesa de todo tipo de método anticonceptivo artificial, incluindo a esterilização e o aborto.
Ideologia de gênero (2001): Uma nova ideologia, de caráter anti-humano, foi criada no final do século XX para ser implantada nas agendas políticas dos países ricos. O gênero é apresentado como uma construção social na qual se nega a existência de uma natureza masculina e outra feminina. Com isso, pretendeu-se combater uma suposta superioridade de um sexo sobre o outro, mas também destruir a naturalidade da sexualidade humana e as estruturas sociais ligadas a ela, como o matrimônio, a família e a educação.