Após apresentação do artigo Aborto e câncer de mama: além de uma associação positiva, a estudante de medicina Maria Clara fez questão de fazer contato com a editora Estudos Nacionais para agradecer pela publicação do livro Precisamos falar sobre aborto: mitos e verdades, cuja leitura estimulou seu interesse pelo tema.
Segundo a estudante, a reação dos avaliadores foi positiva e de grande interesse por essa relação ser pouco estudada em universidades brasileiras.
O trabalho é de autoria da esudante Maria Clara junto com o médico mastologista Dr. Fernando Vequi Martins, e fez parte da SEMED, Semana de Medicina da UNIPLAC, em Lages, Santa Catarina. Leia a seguir o trabalho o trabalho na íntegra:
ABORTO E CÂNCER DE MAMA: ALÉM DE UMA ASSOCIAÇÃO POSITIVA
Maria Claraa Formolo de Souza, acadêmica do 3º ano de medicina na UNIPLAC.
Fernando Vequi Martins, médico mastologista membro do SBM (Soc. Bras. Mastologia).
No que diz respeito à relação entre gravidez e câncer de mama, constituem fatores bem estabelecidos: nuliparidade, primeira gestação completa tardia e prematuridade. Todavia, pouco se enaltece na comunidade científica acerca da temática do aborto induzido como fator de risco independente para o desenvolvimento de câncer de mama. O presente trabalho visa esclarecer parte das evidências que sustentam essa relação a partir da revisão literária de publicações feitas nas plataformas PubMed e Scholar Google. Sabe-se que o estrogênio promove aumento quantitativo de lóbulos mamários suscetíveis a mutações durante a gravidez (tipos 1 e 2). Entretanto, após 32 semanas gestacionais, os níveis elevados de hormônio lactogênico placentário têm como efeito a maturação completa a lóbulos tipo 4, os quais regridem ao tipo 3 após o nascimento (ambos os tipos passaram por modificações epigenéticas de base molecular que conferem proteção contra o desenvolvimento do câncer). Logo, o desfecho de uma gravidez antes das 32 semanas – parto prematuro ou indução de abortamento – prevê vulnerabilidade de grande parte do tecido mamário ao câncer, e, quanto mais próximo de 32 semanas ocorrer essa interrupção, maior a probabilidade de se desenvolver neoplasia de mama (mais células suscetíveis formadas pela exposição estrogênica). Destaca-se, portanto, o benefício protetivo conferido por uma gestação levada ao termo. Não obstante, ressalta-se ainda o fato de um aborto induzido exercer o efeito secundário de aumento na taxa de prematuridade em gestações subsequentes – por si só fator de risco já consolidado para neoplasia mamária. Por outro lado, há também estudos epidemiológicos internacionais que defendem o abortamento induzido como grande preditor de incidência de câncer de mama em países onde tal prática é incentivada, como a China, país que adota política do filho único, incluindo aborto compulsório para famílias com prole única já constituída. Do ponto de vista dos critérios de Bradford Hill, há suficientes estudos estatisticamente significantes já realizados que demonstram adequação aos nove parâmetros propostos para se comprovar associação causal. Embora estudos com conclusões contrárias sejam atualmente os mais disseminados e aceitos pela sociedade científica, quando criteriosamente analisados exibem imensas falhas. Em síntese, conclui-se que a aproximação dos termos aborto induzido e câncer de mama ultrapassa mera associação positiva, haja vista a existência de evidências biológicas e epidemiológicas que sustentam a relação de causalidade entre ambos e superam o viés ideológico calcado nos estudos contrários.
Palavras-chave: aborto induzido, neoplasias de mama.
REFERÊNCIAS:
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