O jornalista Duda Teixeira, da revista Crusoé, denunciou nesta sexta-feira (11) que foi abordado por agentes russos que ofereceram Us$ 100 para cada texto favorável à Rússia de Putin. Segundo Teixeira, a pessoa que entrou em contato disse ter ligação com Raphael Machado, cabeça do movimento Nova Resistência, ligado ao ideólogo Alexander Dugin. A tentativa de cooptar financeiramente jornalistas brasileiros já foi tema de reportagem do Instituto Estudos Nacionais em 2023, quando tivemos notícia de uma lista de redatores e influenciadores de direita que haviam sido “comprados” pelo Kremlin.
O esquema funciona no Brasil e na Argentina, segundo apurou Teixeira a partir da revelação do contato russo que tentou oferecer dinheiro. Ele revela que foi oferecido um artigo pronto, que já havia sido publicado em um site argentino, com certa alteração, e no site brasileiro Plano Brazil.
A matéria revela que a pessoa por trás do telefone que tentou comprar o jornalista é um adepto do cristianismo ortodoxo que escreve frequentemente para um site que divulga a Igreja Ortodoxa em vários idiomas.
Assunto de “pouca importância”
A infiltração da ideologia russa, nova roupagem das chamadas abordagens de “terceira posição”, têm sido objeto de análise pelo Instituto há bastante tempo, um tema que vem sendo acompanhado por nós desde 2012, quando do debate do ideólogo russo com filósofo brasileiro Olavo de Carvalho, quem primeiro denunciou a natureza revolucionária e ocultista de Dugin, considerado guru de Putin.
De lá para cá, os pupilos de Dugin aumentaram consideravelmente no Brasil, tendo já avançado para o campo da política partidária, como denunciam até mesmo membros do Partido Democrático Trabalhista (PDT), que recebe quadros neofascistas do NR e outros grupos semelhantes.
As raízes ocultistas explícitas na biografia e nas ideias de Alexander Dugin, como mostraram os estudos apresentados pelo Instituto Estudos Nacionais que seguiram o caminho deixado pelos alertas de Olavo de Carvalho, demonstram grande ligação com o mesmo espiritualismo que trouxe ao mundo o fenômeno New Age sob a conta do globalismo no Ocidente. O orientalismo, assim como a teosofia e suas versões pseudo-naturalistas, estão na base das crenças da nova síntese russa utilizada para cooptar conservadores órfãos do cristianismo e sedentos por uma espiritualidade no mundo moderno. Tudo isso foi explicado em detalhes no curso Raízes Espirituais do Globalismo e Eurasianismo, oferecido pelo Observatório, plataforma do Instituto.
O tema não goza de muita atenção por conservadores no Brasil, embora os contatos entre movimentos eurasianos e conservadores venham se aproximando cada dia mais. Recentemente, o influencer Kim Paim demonstrou claras simpatias às narrativas prediletas dos movimentos eurasianos existentes no Brasil. Paim é amigo de ativistas e já fez live com eles.
Com uma narrativa que combina conservadorismo e marxismo ortodoxo, readaptando o discurso anticolonialista da esquerda latino-americana, apoiando Maduro e Cuba, esses novos comunistas seduzem facilmente o eleitorado conservador devido à sua oposição às pautas identitárias. Putin é conhecido e admirado por muitos direitistas simplesmente por ter proibido movimentos LGBT em seu país. Tais conservadores, que veem na subversão moral o único problema do globalismo, tendem a minimizar a óbvia relação de complementaridade entre o globalismo ocidental e o neoeurasianismo de terceira posição, como um adversário criado sob medida para cooptar conservadores.
A facilidade dessa operação chama a atenção pela inaptidão de conservadores que, politizados prematuramente pela sensação de vitória em 2018, suspenderam a análise racional para adentrar na esfera superficial das narrativas, acreditando estarem no comando delas enquanto, na verdade, convertem-se paulatinamente no mais servil dos instrumentos de uso revolucionário.