Atacado pela esquerda e criticado por jornalistas, o frei Gilson tem reunido em torno de 3 milhões de pessoas, entre católicos e até protestantes, para rezar o Rosário, uma devoção que começou com os monges do deserto e foi aperfeiçoada após uma aparição da Virgem Maria a São Domingos de Gusmão. A oração se tornou popular principalmente no Terço, recomendado por Nossa Senhora de Fátima em 1917. Mas essa prática é bem mais antiga.
A origem do Rosário, que é composto principalmente das orações repetidas do Pai Nosso, Ave Marias e Glória, remonta à recitação dos 150 salmos pelos primeiros monges do deserto no início da Igreja Católica, uma tradição antiquíssima que foi sendo praticada por um número crescente de fiéis desde o início da Idade Média.
Os Pai Nossos e Ave Marias são uma redução da recitação original dos 150 salmos, rezados nas horas devidas, chamado de Saltério. Com a cristianização da sociedade, nobres católicos passaram a fazer disso sua prática religiosa, mas que devido suas atribuições, optavam por rezar apenas “um terço” desses salmos, ou seja, apenas 50 salmos. Os demais fiéis, porém, por não saberem ler e não conseguirem decorar os 150 salmos, já optavam por repetir diversas vezes ao dia o Pai Nosso e a Ave Maria, o que foi se transformando numa prática de piedade popular, criando-se o Saltério Mariano.
Remédio contra heresias
No século XII, quando os cátaros se espalhavam pela Europa buscando confundir-se com os católicos, a Igreja se preocupava com a situação de fiéis que eram enredados pela heresia gnóstica daquele tempo, especialmente no sul da França. Os cátaros questionavam a hierarquia eclesiástica, propondo uma estrutura laical e professavam a crença em dois deuses, um do mundo material (que era mau) e um do mundo espiritual (bom).
São Domingos de Gusmão, fundador da Ordem dos Pregadores, que após sua morte passou a chamar-se Dominicanos, era um forte opositor dessa heresia que se espalhava pela Europa. No entanto, via muitas dificuldades de pregar contra ela e decidiu pedir a intercessão da Virgem Maria para esta luta. Em uma noite, Maria Santíssima apareceu a São Domingos e lhe recomendou que durante suas pregações contra os hereges rezasse o Saltério Mariano, isto é, a recitação das Ave Marias em contas, como já se fazia na piedade popular.
Naquela época, porém, a própria oração da Ave Maria era um pouco diferente, além do próprio Rosário — que passou a ser chamado assim devido ao fato da rosa ser um símbolo de Nossa Senhora.
Graças ao Rosário, rezado tanto por reis, nobres e santos, quanto pelos fieis, a heresia dos cátaros não prosperou. A partir daí, a oração passou a ser considerada uma arma poderosa pela Igreja, especialmente na França. No século XIX, o Papa Leão XIII disse certa vez: “Graças a esse novo método de oração […], a piedade, a fé e a união começam a retornar [à França]; assim, o projeto e as maquinações dos hereges começaram a desmoronar”.
A Ave-Maria é uma oração que tem origem no Evangelho de São Lucas, a partir da saudação do próprio Anjo Gabriel, acrescida das palavras de Santa Isabel quando da visita da Virgem: “Ave, cheia de graça, o Senhor é contigo! (…) Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre” (Lc 1, 28.42). Até o século XVI, a Ave Maria se resumia a isto, sendo acrescido mais tarde a parte final e o nome de Jesus.
Na verdade, a isso se reduzia a Ave-Maria até o séc. XIV. Somente então o nome de Jesus foi acrescentado no final. A segunda metade da oração, tal como a rezamos hoje, surgiu ainda mais tarde. Na época, o próprio Pai-nosso e a doxologia menor (“Glória ao Pai, e ao Filho, e ao Espírito Santo”) também não faziam parte do Rosário. O pendente (a cruz e as cinco contas extras) também não fazia parte dele, mas apenas as cinco dezenas.
Os mistérios do Rosário foram fixados quando o Papa S. Pio V estabeleceu oficialmente os mistérios gozosos, dolorosos e gloriosos em 1569.