O frei Gilson vem se notabilizando nas redes sociais por enfatizar a realidade concreta do combate espiritual existente entre o mundanismo, o diabo, nossas inclinações, contra a alma humana para precipitá-la nos infernos. Nas últimas décadas, o enfraquecimento dessa realidade nos discursos católicos levou a uma situação bastante ambígua, na qual o próprio demônio parecia tolerar que as vozes católicas estivessem em evidência, já que pouca ameaça elas representavam aos seus desígnios diabólicos. Mas quando surge uma voz combativa, as forças do mal não podem ficar indiferentes. Este é, porém, o verdadeiro catolicismo.
O catolicismo água com açúcar pode ser bem tolerado pelo demônio, que faz até gosto que se difunda no católico a alma de um pacifista indiferente à Justiça divina e que desfigura a misericórdia num relaxamento moral. A imagem do hábito religioso do frei Gilson, do Santo Rosário diante do Santíssimo Sacramento, atormentou de tal forma as hostes infernais, que imediatamente mobilizaram a reação por meio daquelas almas das quais mantém o controle total da vontade.
Toda vez que um católico, leigo ou clérigo, ordem religiosa ou movimento, se reveste de um discurso ou pregação verdadeiramente combativa, o inferno treme e precisa reagir. Esta realidade impõe-nos um duro desafio: o enfrentamento é inevitável, pois sem esse combate e seu acirramento mais radical, estaremos longe da salvação. O católico que vive em paz está certamente garantido para o demônio.
Como diz o Livro de Jó, “a vida nesta terra é uma batalha”. Nada nem ninguém pode escapar a essa realidade. Quem deseja a paz necessita, primeiro, entregar-se de corpo e alma à guerra incessante cujo campo de batalha é a alma humana neste mundo. Essa verdade se impõe ainda por uma realidade mais ampla: a de que a paz verdadeira só pode preceder da ordem. Essa ordem, por sua vez, muitas vezes só pode ser obtida pela ação, pelo combate e pelo ataque aos domínios do inimigo.
Uma das formas de fazer isso foi o tradicional assalto às realidades temporais pela realidade espiritual, perpetrado pela Igreja ao longo de sua história: se Santo Tomás dizia que há atos bons, maus e neutros, a Igreja e os santos cedo perceberam que apenas manter os atos bons e afastar-se dos maus não seria suficiente. Era preciso alcançar o domínio dos atos neutros, o que a Idade Média conheceu como a sacralização dos hábitos e costumes, os ordos das ordens monásticas etc. Infelizmente, o papel do demônio foi análogo e ele buscou convencer os homens de que era necessário existir um domínio neutro na vida. Simultaneamente, o pai da mentira tomava para si esses costumes vistos como neutros, tornando-os maus em si mesmos pela forma e pela intencionalidade. O mundo se tornou revolucionário em poucos séculos.
Ora, a internet poderia ser um meio neutro de comunicação. Mas tem sido há muito tempo apropriado pelo demônio. Nada mais óbvio, justo e meritório, do que a Igreja apropriar-se com muito mais direitos desse campo de batalha.
Outra realidade odiada pelo demônio no caso do frei Gilson é, gostem ou não, o fato dele ser um clérigo. A “revolução leiga”, embora legítima e legitimada pela Igreja e pelo Espírito Santo em muitos casos, tem sido uma ocasião de fácil ação para as tentações diabólicas. O clero é, no entanto, a instância legítima da autoridade eclesiástica e a vida religiosa aquela mais odiada pelo mal.
A revolução foi o modelo de rebelião angélica traduzido para a humanidade, que procedeu num sem número de conflitos e dispersões, sob a forma da revolta individual, coletiva e espiritual, conduzindo aos modelos políticos que lograram estabelecer modos de vida ao homem a partir de um novo conceito humano.
Desde os primórdios da Cristandade, a Igreja Católica enfrentou períodos de perseguição, mas poucas foram tão sistemáticas e ideologicamente motivadas quanto as promovidas por movimentos revolucionários. Do Iluminismo francês ao comunismo soviético, passando pelo anticlericalismo republicano, o ódio revolucionário à Igreja Católica foi uma constante na história dos últimos séculos.
A Revolução Francesa (1789) marcou o início de uma perseguição feroz à Igreja Católica. Inspirados pelo racionalismo iluminista e pela ideia de um Estado laico absoluto, os revolucionários consideravam a Igreja uma aliada da monarquia e um obstáculo ao novo regime. Em 1790, a Constituição Civil do Clero obrigou os sacerdotes a jurar lealdade ao governo, separando-os da autoridade papal. Aqueles que resistiram foram perseguidos, presos ou guilhotinados. A fase do Terror (1793-1794) viu a profanação de igrejas, a conversão de templos em espaços dedicados ao culto da Razão e a execução de centenas de religiosos.
Com a Revolução Russa de 1917, os bolcheviques adotaram um programa radical de ateísmo estatal. A Igreja Ortodoxa Russa foi a principal vítima, mas a Igreja Católica também sofreu duramente, especialmente nos territórios sob influência soviética. Padres foram executados ou enviados a gulags, igrejas foram fechadas e a propaganda oficial retratava a religião como um instrumento de opressão.
Na Espanha, durante a Guerra Civil (1936-1939), grupos comunistas e anarquistas incendiaram igrejas, assassinaram milhares de religiosos e tentaram erradicar a fé católica da vida pública. O fenômeno se repetiu em países como Cuba e China, onde os regimes comunistas mantêm rígido controle sobre as atividades da Igreja até os dias atuais.
No século XXI, a perseguição à Igreja Católica assumiu novas formas, com ideologias revolucionárias promovendo uma crescente marginalização da fé cristã. Em muitos países ocidentais, movimentos políticos e culturais buscam restringir a presença da Igreja na vida pública, difamando suas doutrinas e minando sua influência na sociedade. O “cancelamento” de valores cristãos e a repressão à liberdade religiosa são formas contemporâneas desse antigo ódio.
A história mostra que, apesar das perseguições, a Igreja resistiu e continua a exercer sua missão. O ódio revolucionário pode mudar de forma, mas o testemunho da fé católica permanece inabalável.