O termo “guerra cultural” foi popularizado por movimentos de direita em todo o mundo depois de perceberem que haviam perdido essa mesma guerra, travada por movimentos revolucionários muito antes e com muito mais empenho. Atrasada no combate, uma direita política quis dominar a cereja do bolo, pegar o bonde andando e ainda sentar na janela. O resultado tem sido fracasso atrás de fracasso e poucos querem saber a razão disso.
A primeira razão que levou, tem levado e ainda levará, a direita, os conservadores e cristãos às derrotas seguras e certas no campo cultural, é a desistência de batalhas, o abandono das trincheiras. O medo é certamente a tônica das “iniciativas”, como se as vitórias fossem feitas mais de recuos do que de avanços. Uma das batalhas mais perdidas voluntariamente por conservadores é a batalha da linguagem, na qual muitos parecem até se gabar de estar fazendo “recuos estratégicos” sem saber ao menos a própria posição, tampouco a posição do inimigo, para efetivar uma estratégia.
Observando na linguagem dos conservadores católicos atuais, vemos erros crassos que jamais seriam cometidos por católicos do passado. Um exemplo claro disso é o uso do termo “intolerância religiosa” para acusar os ateus e protestantes que se insurgem contra os católicos. Isso parte do pressuposto de que tolerar é uma virtude, que a tolerância é um bem em si mesmo. Na verdade, sabemos que o objetivo é usar uma palavra secular, laica, contra os próprios secularistas, um método que se consagrou na direita brasileira. O problema de usar um método sabidamente errado, termos conhecidamente falsos, é nos adaptarmos à linguagem dúbia e errada, perdendo de vista o nosso próprio critério de julgamento. Ao invés disso, o católico precisa ser intolerante com o erro quando este se propõe normativo, como regra, assim como não tolera o erro em si mesmo. Mas quando a tolerância vira um valor moral emprestado, ela começa a ser praticada na política, no julgamento público e até mesmo em si, no interior da alma. Basta ver o que se tornou a direita para saber os males da tolerância consigo mesmo.
A premissa dessa retórica é que “o bem merece ser tolerado”. Não precisamos explicar muito para entendermos o quão errado está este pressuposto. Se o bem deve ser apenas tolerado, é porque já não o desejamos em nós mesmos. Ao contrário, nem o mal deve ser tolerado, tampouco o bem pode tolerar.