Como é possível que conservadores ocidentais prestem continência e admiração ao regime de Putin, sendo a Rússia a causadora de toda a revolução cultural, por meio da ação soviética, e culpada de mais de 100 milhões de mortos pelo comunismo? Uma das respostas para isto está no modo como a direita mundial tem sido capturada, em suas bases ideológicas, pela premissa revolucionária mais fundamental.
Em uma de suas conferências, o prof. Plinio Corrêa de Oliveira falava sobre o espírito revolucionário do igualitarismo, tópico especialmente esquecido e até rejeitado atualmente pela via que se considera conservadora — nossos direitistas atuais são mais igualitários que apóstolos de maio de 68. Dizia o dr. Plinio que a Rússia, em matéria de revolução, era provavelmente o país mais evoluído do mundo. De fato, tanto o globalismo quanto o eurasianismo vieram em grande medida da própria Rússia, seja durante o espírito soviético ou na atual proposta eurasiana de Putin.
No livro O Sol Negro da Rússia, expus uma boa parte da história do ocultismo na Rússia e de como as correntes espiritualistas que depois viram para o Ocidente na forma do movimento New Age, já estavam em ebulição em muitos países da Europa no século XIX, mas encontraram um terreno extremamente fértil na Rússia agrária e ortodoxa, uma igreja cismática que não possuía instrumentos de controle da ortodoxia doutrinal, tampouco uma doutrina clara. O espiritualismo individualista, de base gnóstica, transcorreu livremente conforme vários historiadores. Isto sedimentou uma condição espiritual e religiosa propícia para que surgisse o ateísmo — que tem profundas raízes no ocultismo — dos bolcheviques. Até mesmo o monarquismo dos brancos, cuja bandeira é a atual bandeira da Federação Russa, estava já incrivelmente absorvido pelo ocultismo.
A verdade é que a Rússia não conseguiria manter um mesmo império messiânico sem um fundamento capaz de unir o comunismo soviético com o eurasianismo fascista contemporâneo. Este fundamento é o que une as revoluções e confirma o caráter uno desta mentalidade revolucionária. A sua marca é o igualitarismo, uma base essencial que torna a revolução um fenômeno universal e profundamente anticristão.