Certamente você já ouviu ou leu em algum lugar que a modernidade é fruto do materialismo da ciência e que o individualismo liberal é fruto de um racionalismo ou ideologia da razão, que impõe uma cosmovisão ateia e utilitarista na construção de um mundo tecnocrático que nega Deus e as realidades espirituais. Pois esta é apenas a propaganda das novas espiritualidades anti-sistêmicas que se colocam como solução espiritual para o erro materialista. Mas onde está a mentira desta propaganda antiglobalista que cresce enganando até mesmo meios ditos conservadores?
A grande pegadinha do globalismo é parecer que é uma ideologia meramente materialista, vinda do ateísmo e de um individualismo utilitário apenas. A confusão que tem feito com que muitos católicos conservadores ataquem ou critiquem essa ideologia com base nessa premissa errada tem explicações históricas bastante razoáveis.
Da antiguidade à modernidade
Uma das possíveis explicações para isso pode estar na recuperação, pelos humanistas da Renascença, do dualismo platônico-aristotélico, que havia sido descartado como erro pela Escolástica medieval e associado ao dualismo agostiniano. Santo Tomás, junto de Santo Agostinho, limparam o legado platônico em Aristóteles durante a Idade Média, mas séculos depois os humanistas o sujaram novamente ao recupera-los junto dos erros pagãos.
Foi o dualismo dos humanistas que abriu as portas para o início da modernidade, na qual corpo e alma são distintos e separáveis, assim como fé e razão. Esta separação retornou às interpretações gnósticas, possibilitando o uso do corpo, da matéria (vista como má pelos gnósticos), como mero instrumento da transcendência. Afinal, aqueles humanistas nada tinham de ateus. Eles criticavam o cristianismo, mas o aceitavam nas premissas básicas, tendo sua principal plataforma o ataque exclusivo à Igreja Católica. Isso porque aquela classe dos humanistas representava os hereges ao longo da história, reunidos agora sob uma nova aparência, apetitosa à vaidade da nova arte, nova ciência e nova sociedade que surgia.
As raízes ocultistas do globalismo e do neoeurasianismo que se propõe como solução para o materialismo, hoje, já foi objeto de um curso oferecido no espaço do Observatório (clique aqui e conheça).
É assim que, tanto o comunismo ateu quanto o transumanismo cientificista, surgem como uma busca pelo transcendente secreto, a gnose de mão esquerda que busca subjugar a matéria má, seja pela indiferença ou pelo ódio a ela, na intenção de elevar o homem a uma libertação metafísica alcançada, como diria a Serpente, apenas pelo conhecimento. No livro O Sol Negro da Rússia, demonstrei as raízes pagãs e ocultistas do comunismo supostamente ateu da União Soviética, seu simbolismo e práticas secretas que atravessaram os séculos desde a Renascença. O espiritualismo que caracterizou o movimento New Age, no século passado, instrumento da religião global do globalismo, vem encontrando caminhos para retornar agora como crítica ao mesmo globalismo através de uma suposta restauração das tradições.
Vemos, assim, uma série de novas ideologias se colocarem como antiglobalistas, parasitando e abafando qualquer reação conservadora autêntica. Sua identidade, porém, se observa pelo espiritualismo com o qual se diz opor ao globalismo, tendo precisamente a mesma raiz daqueles contra os quais diz lutar.
O próprio transumanismo nada tem de materialista, mas possui sua raiz no anseio de se sobrepor à Criação por esta ser vista como má e o ser humano como um deus. Esta crença gnóstica está longe de uma mera presunção cultural ou filosófica, mas está no centro das intenções da elite globalista, assim como dos neotradicionalistas que resgatam a mesma mística resgatada pelos nazistas na Segunda Guerra Mundial. Certamente até mesmo alguns conservadores desconhecem, por exemplo, que os nazistas buscavam contatos com extraterrestres por acreditarem nestes como deuses. Desde então, a ufologia experimentou espantoso crescimento por meio de um discurso cada vez mais científico. No entanto, a sua raiz é o mesmo espiritualismo e encontra origem nas teses de Helena Blavatsky e seus sucessores.
A crença numa ampliação da vida humana por meio do relacionamento crescente com as máquinas, encontrado também no avanço da Inteligência Artificial, busca igualmente abrir espaços “neutros” para a ação preternatural por representarem, em sentido mais amplo, a negação de Deus e afirmação do homem, tese própria do Anticristo.
Estes princípios podem ser defendidos e avançam sobre a cultura através de discursos cientificistas (como ocorreu no nazismo), políticos ou religiosos com matizes tradicionais e apelo às tradições antigas como fizeram os humanistas que construíram a modernidade. A afirmação do indiferentismo religioso é a marca que identifica o autor das revoluções, sejam elas libertárias, igualitárias ou conservadoras.
Alvo é a Igreja Católica
Como foi no humanismo e no liberalismo, a marca destas heresias é o anticatolicismo. Como mostra a história do protestantismo, pode-se até mesmo afirmar Cristo, a oração, a Graça, tudo pode ser aceito desde que não haja a comunhão com a Igreja Católica, que é o que liga alguém àquilo que é mais odiado pelo pai das revoluções, e é o que torna alguém perigoso para ele nesta guerra, apto a lutar ao lado de Deus na verdadeira guerra que ocorre nos ares. Neste sentido, são partícipes deste processo todas as formas ideológicas ou culturais que defendam moralidades ou virtudes sem o recurso da Graça obtido exclusivamente na Igreja Católica por meio dos sacramentos. O próprio termo “espiritualidade” foi cunhado com o objetivo de desviar desta verdade, relativizando por meio de uma ampliação o indiferentismo proposto por estas seitas ao longo dos séculos.
E é por esta razão que qualquer oposição globalista que não ataque também o espiritualismo pós-moderno de matiz tradicionalista típico dos neofascismos não pode nem será conservador de fato, mas apenas um disfarce, voluntário ou involuntário.
Da mesma forma, vemos por toda a parte o globalismo, a cultura woke etc, ser atacado por grandes nomes da cultura e da política, num crescimento da reação contra estas ideologias, sendo rejeitado por parte da própria elite mundial, como no caso de Elon Musk. Veremos uma mudança de rumo que enganará muitos por prescindir da Igreja Católica como única militância capaz de enfrentar as potestades infernais que estão na raiz dos erros da modernidade, pós-modernidade e da antimodernidade gnóstica.
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