André Figueiredo
Porque a maioria dos “analistas geopolíticos da direita conservadora” vai continuar fazendo análises toscas da política do dia, levados à deriva pelas correntes delineadas pelos movimentos totalitários? Em geral, as análise partem, no máximo, de elementos da história oficial dos países envolvidos, justificados por um enquadramento das notícias do momento. Mas qual a razão por trás do déficit de compreensão?
Primeiro porque a grande maioria dos analistas da direita está mais perdida do que cegos em tiroteio. A razão disso é que, em primeiro lugar, não reconhecem por trás do ordenamento político-jurídico das ideologias exista um componente metafísico atuante. Segundo, porque embora tenham certa bagagem literária, não parecem conseguir relacionar seus conteúdos em um nível simbólico. Em terceiro lugar está a postura vaidosa característica dos que são tratados como analistas. Mas quanto maior o nível da sua arrogância, menor o nível de conhecimento.
Um ponto que sempre fica evidenciado nessas pessoas é o quanto virou lugar comum dar alfinetadas em Olavo de Carvalho e seus alunos, de maneira a transmitir uma imagem de que superou-os.
Um personagem chave e suas referências
Vamos analisar rapidamente o perfil do Pepe Escobar, jornalista brasileiro e amigo do Aleksandr Dugin, responsável pela coordenação do eurasianismo em território tupiniquim.
É interessante como o componente ocultista do eurasianismo é escancarado diante da cara dos mais desatentos, com os símbolos de sua corrente ideológica e suas relações místicas, demarcando o território de sua verdadeira vertente “geopolítica”. Aparentemente ninguém nota. Ou finge ignorar.
Em sua página do Twitter o Pepe Escobar coloca uma foto das Montanhas de Hunza, na região do Himalaia, no Paquistão, próximo da fronteira entre China, Índia. O interessante é que existe uma lenda que o povo Hunzakuts, como é conhecido o povo de Hunza, de que são descendentes de cinco soldados errantes do exército de Alexandre. Algumas pessoas têm um aspecto “ariano”, com cabelos loiros e olhos azuis ou verdes.
Existem duas histórias que foram inspiradas na região do Vale de Hunza, uma com ligação mais mística e outra foi a primeira história que expôs o Grande Jogo Oriente Ocidente.
Hunza foi o provável modelo para o Shangri-La do romance Horizonte Perdido de James Hilton, onde todas as regras dos Lamas são repassadas para o protagonista que passa a entender como é o elixir de juventude que envolve aquele paraíso onde não se consegue precisar a idade daqueles seres que chegam a viver mais de 100 anos. O presidente dos Estados Unidos, Franklin D. Roosevelt, nomeou o refúgio presidencial em Maryland, agora chamado de Camp David, em homenagem a Shangri-La. Em 1942, para garantir a segurança do retorno das forças dos EUA, Roosevelt respondeu à pergunta de um repórter sobre a origem do ataque Doolittle (resposta ao ataque a Pearl Harbor a partir da costa japonesa), dizendo que ele havia sido lançado de ” Shangri-La “.
Outro romance inspirado em Hunza é Kim, de Rudyard Kipling em que sua história se desenrola tendo como pano de fundo o Grande Jogo, o conflito político entre a Rússia e a Grã-Bretanha na Ásia Central.
Prefigurando a polaridade que persistiria durante a Guerra Fria e o Choque de Civilizações, em um poema publicado pela primeira vez em 1889, Rudyard Kipling – um maçom que usava a suástica como seu emblema pessoal – declarou: “Oh, leste é leste e oeste é oeste, e nunca os dois se encontrarão.” O contexto da expressão de Kipling é o Grande Jogo. Também conhecido como Torneio das Sombras na Rússia. O Grande Jogo refere-se à rivalidade estratégica e ao conflito pela supremacia na Ásia Central, o que Mackinder chamou de “Heartland”, entre o Império Britânico e o Império Russo no século dezoito. O período clássico do Grande Jogo é geralmente considerado como indo do Tratado Russo-Persa de 1813 até a Convenção Anglo-Russa de 1907. O termo foi introduzido na consciência dominante por Kipling em seu romance Kim (1901), sobre um menino órfão de seu pai maçom (filho da viúva), que acabou trabalhando para o serviço secreto na Índia.