O encontro amigável entre o ex-presidente de direita, Jair Bolsonaro, e o comunista Aldo Rebelo, por ocasião do lançamento de um livro deste último, confirma os alertas feitos neste Instituto Estudos Nacionais sobre a tendência de alianças entre políticos conservadores com movimentos neofascistas alinhados à Rússia. O novo fascismo russo e suas raízes espiritualistas é o tema do livro recém lançado, O Sol Negro da Rússia: as raízes ocultistas do eurasianismo, já disponível à venda na livraria do Instituto.
A falta de conhecimento histórico e geopolítico, somada à indiferença sobre as implicações espirituais envolvendo os caminhos ideológicos escolhidos pela Rússia atual, tem feito com que conservadores vejam com bons olhos o governo de Vladimir Putin. No entanto, o atual alinhamento do Kremlin com países islâmicos e ditaduras comunistas, mostra que certa defesa das tradições, da família e da vida, não passam de estratégias que visam cooptar uma parcela importante da juventude cansada do identitarismo globalista.
Essa aproximação alimenta de maneira perigosa a narrativa (por enquanto falsa) de uma “internacional fascista” que inclui bolsonaristas, olavistas e duguinistas, o que será um prato cheio para os que anseiam por razões para a criminalização de conservadores. Com elementos nazistas óbvios e até mesmo satanistas, a ideologia russa atual tem todas as condições para ser criminalizada pela esquerda identitária. Com a diferença que, quando o fizerem, estarão certos em prender neonazistas e quem estiver com eles. Mas a hora de avisar pode já ter passado.
Ex-presidente do PCdoB, Aldo Rebelo tem sido figura proeminente entre jovens extremistas depois que criou seu “Quinto Movimento”, espécie de versão tupiniquim da ideologia eurasiana de terceira posição. Apesar de haver certa inconciliável dicotomia entre o eurasianismo e a posição cultural e geográfica do Brasil, há muito esforço criativo para convencer brasileiros a servir de bucha de canhão naquilo que os russos vêm chamando de “guerra metafísica” contra o Ocidente.
A Rússia, hoje, tem em suas mãos grande parte da direita europeia, como é o caso do AfD (Alternativa para a Alemanha), a direita francesa, italiana e de diversos países que, em grau maior ou menor, alinham-se à plataforma ideológica do guru russo Alexander Dugin, criador da Quarta Teoria Política. O que Dugin propõe é uma nova configuração global, chamada de Mundo Multipolar, a superar a Nova Ordem Mundial dos globalistas ocidentais em uma nova roupagem igualitarista enfeitada com motivos tradicionais contra o liberalismo, identificado com a modernidade ocidental.
Na verdade, Dugin disfarça de “multipolarismo” uma nova proposta bipolar de guerra entre continentes baseada na geopolítica de Halford Mackinder e do nazista Klaus Haushoffer, baseada na divisão entre as nações terrestres e as marítimas. Caberá à Rússia, evidentemente, “harmonizar” o mundo sob o domínio das nações terrestres depois de aniquilar as marítimas.
Para tudo isso, Dugin se vale de toda a metafísica espiritualista que deu origem ao nazismo, mais o tradicionalism perenialista e gnóstico de René Guénon, apimentado com as máximas caoístas e estratégias de subversão espiritual sugeridas pelo satanista britânico Aleister Crowley, de quem Dugin já foi importante seguidor e divulgador nos anos 90 enquanto militava pelo extinto partido Nacional Bolchevique, ao lado do punk subversivo Edouard Limonov.
Essa história é contada em detalhes assustadores no livro O Sol Negro da Rússia.