Daniel Ferraz
Acabo de ler um artigo no portal “Nova Resistência” que é, no mínimo, tragicômico. O autor do artigo, Marden Samuel, tenta apontar a relação entre o Cristianismo e a Quarta Teoria Política de Aleksandr Dugin, afirmando que são “intimamente ligados entre si”.
Para tanto, o autor divide o artigo em três tópicos: anti-nacionalismo, anti-capitalismo e “comunismo cristão” e anti-individualismo. No primeiro, Marden argumenta que o cristianismo rompe a barreira da lógica racial do judaísmo, adquirindo uma perspectiva universalizante nas próprias palavras de Cristo: “Portanto, ide e fazei com que todos os povos da terra se tornem discípulos, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo”. No segundo, argumenta que o cristianismo é uma oposição muito forte a uma ideia às riquezas e adere fortemente a uma ideia anti-elitista, mostrando que o Evangelho vai na contra mão da visão capitalista moderna e da direita liberal-conservadora. E, no terceiro, o cristianismo rompe com a ideia da noção de “indivíduo” e/ou “individualismo”, pois, na Igreja, havia tão somente a ideia de comunidade eclesiástica, irmandade, comunidade, corporação, fundamentada na noção da Presença Real na Eucaristia.
Portanto, Dugin, ao estruturar a QTP, apoia-se em sua fé Ortodoxa e está completamente condizente com o cristianismo, segundo o autor.
Mas, será?!
Não é preciso uma pesquisa tão profunda para refutar esses paralelismos absurdos entre Dugin e o catolicismo. Em seu texto intitulado “O Gnóstico”, Dugin propõe a Via da Mão Esquerda, puramente esotérica e revolucionária, para destruir a Idade histórica atual – da qual considera a Idade da Escuridão, seguindo a análise dos ciclos históricos de René Guenon, completamente estranha ao Cristianismo –, assim também declara que “os gnósticos se manterão firmes em seu trabalho de vida…”. Somente nisto – e tão somente NISTO – já poderia finalizar meu comentário a este artigo um tanto quanto “duvidoso”. Contudo, posso ir mais além!
Em seu próprio livro, A Quarta Teoria Política, Dugin afirma categoricamente que os adeptos de sua teoria (portadores, para ser mais exato) estão “livres para ignorar aqueles elementos teológicos e dogmáticos, que foram afetados pelo racionalismo nas sociedades MONOTEÍSTAS…”. Assim também defende uma fundamentação sociológica baseada em Martin Heidegger – em seu Dasein – que afirma que cada sociedade é uma sociedade em si. Ou seja, ela é tradicional e legítima APENAS por existir e não deve ser alterada por elementos universais, separando-se essencialmente dos ensinamentos da Igreja Católica da qual o autor do artigo diz haver relações íntimas com à QTP. Além disso, Dugin, afirmando-se sem sombra de dúvidas um gnóstico (influenciado por René Guénon, Julius Evola, Titus Burckhardt, entre outros), segue o ensinamento mister da gnose ao distinguir Cristo da Divindade. Para Dugin, o relacionamento mais íntimo com Cristo é historicamente condicionado, enquanto com o Absoluto não requer nenhum intermediário, pois em cada sujeito há uma centelha divina que se é possível alcançar a identificação. Ora, isto foge claramente do ensinamento da Igreja quanto à substancialidade da Eucaristia. Fora que o “católico” Dugin, foge formalmente da doutrina dos dois gládios, sujeitando a autoridade espiritual da Igreja ao leviatã temporal numa mescla modernizante na forma de um Império apocalíptico.
Meus caros, creio que somente por esses elementos que consigo resumir rapidamente, vemos como as ideologias gnósticas pervertem a verdade e sujeitam seus adeptos às mentiras mais sistematizadas e ridículas! Quem de fato quer viver uma vida católica deve perceber essas mentiras que são contadas com ares de esperança e alento diante de um mundo “pós-moderno” e “decaído”. As ilusões da serpente nunca estiveram tão ardilosas…
Para vocês terem noção do quanto Dugin é ANTI-CATÓLICO, em sua teoria chamada Noomachia, Dugin AFIRMA:
“Cheguei à conclusão de que há algo além desses dois Logos, que existe um terceiro. Além do Logos Dionisíaco, algo mais está oculto. Na sombra de Apolo há Dionísio, mas na sombra de Dionísio há outro. Eu o chamei de Logos de Cibele.[…] Cibele é o nome de um deus anatólio muito antigo, a Grande Mãe dos Hatti, um povo pré-indo-europeu muito especial que vive na antiga Anatólia antes dos hititas, que mais tarde adotaram essa divindade, integrando-a em seu panteão religioso. Depois deles, o culto a Cibele também foi desenvolvido pela população indo-européia dos frígios, cuja deusa principal era precisamente a “Grande Mãe”. O culto da Grande Mãe foi baseado na castração ritual do homem. Os sacerdotes de Cibele foram castrados tornando-se eunucos e isso fazia parte da grande visão do matriarcado, do reinado da Grande Mãe, onde o papel do homem é completamente diferente do que sabemos. Uma posição completamente diferente da posição dionisíaca, já que o culto a Dionísio era o centro atraente dos bacantes, das mulheres, mas também dos homens, e, nesse caso, é o homem no centro da existência humana.”
Algum católico dirá que na teoria gnóstica do Eterno Feminino há algo de verdadeiro?
É EVIDENTE que o eurasianismo duguinista é a velha ação da serpente de parodiar o catolicismo utilizando-o como ponta de lança para enganar incautos e emocionados que apostam suas vidas e suas almas numa salvação secular e imanentista.