André Figueiredo
O homem mais importante para a transmissão do Sufismo ao Ocidente foi Réne Guénon, ex-membro da Irmandade Hermética da Luz. Guénon fundou a escola oculta do Tradicionalismo, que sugere que todas as religiões exotéricas compartilham uma única tradição oculta subjacente. Portanto, de acordo com Guénon, alguém poderia escolher qualquer religião como crença externa. Ele escolheu o Islã.
Em sua Introdução générale a` l’étude des doutrinas hindoues (“Introdução Geral ao Estudo das Doutrinas Hindus”), Guénon refere-se ao mito da origem ariana das civilizações como uma “ilusão clássica”. Guénon estava, no entanto, convencido de que a tradição hiperbórea era a mais antiga da humanidade e se espalhara por diferentes civilizações a partir do Pólo Norte.
O Tradicionalismo de Guénon desenvolveu-se a partir da noção da crença na decadência do mundo moderno. Por influência de Papus (Gérard Anaclet Vincent Encausse) que o iniciou no Martinismo, Guénon insistiu na tese, já formulada antes dele por Joseph de Maistre e Fabre d’Olivet, da existência de uma Tradição primordial. Por tradição, Guénon entendia a Filosofia Perene. Esta noção era a mesma da Teologia Prisca, ou “Sabedoria Antiga”, do filósofo renascentista neoplatônico, Marisilio Ficino. Para Ficino, porém, era a Cabala judaica que ele considerava a “tradição pura” transmitida aos sábios da antiguidade e a chave para estabelecer uma religião universal que pudesse reconciliar a crença cristã com a filosofia antiga.
A ideia de tradição primordial também era conhecida por Helena Blavatsky, criadora da Sociedade Teosófica, com o nome de “Sabedoria Antiga” ou “Religião-Sabedoria”. A adesão de Papus, antigo mestre de Guénon, à Sociedade Teosófica foi uma fonte importante para o Perenialismo da Ordem Martinista e, consequentemente, do Perenialismo Tradicionalista, proclamando que:
“a verdade é Uma, e que nenhuma escola, nenhuma religião pode reivindicá-la apenas para si… Em cada religião pode ser encontrada manifestações da verdade única”.
Papus acreditava que a Filosofia Perene havia sido transmitida por Hermes a partir de fontes do Antigo Egito, e eles viram nesta transmissão a fonte da iniciação. Para Guénon, a Filosofia Perene era a base de uma única tradição esotérica, que era a fonte secreta de todas as principais tradições exotéricas. Guénon escolheu o Islã, vendo no Sufismo um reflexo dessa Filosofia Perene ou Sabedoria Antiga.
A abordagem particular de Guénon – que mais tarde influenciaria a Maçonaria – refletiu-se no universalismo de Ibn Arabi, um interesse que ele compartilhava com a ordem Sufi Shadhilli, à qual aderiu, que incluía Abdul Qadir al Jazairi e o círculo de agentes teosóficos. O Livro das Paradas de Abdul Qadir revela que ele se dedicou a uma interpretação universalista da religião e se interessou pelos “estados alterados de consciência” como etapas de uma jornada espiritual através de diferentes níveis do ser. Abdul Qadir também era conhecido por seu conhecimento do neoplatonista muçulmano Ibn Arabi, de quem derivou seus princípios gnósticos e universalistas. No entanto, o Islã não propõe que todas as religiões sejam válidas. Existe apenas uma religião reconhecida como tal: o Islã. Portanto, o universalismo de Ibn Arabi era profundamente herético, abrindo caminho para a sugestão de uma verdade gnóstica original subjacente a todas as religiões. Estas ideias foram adaptadas por Abdul Qadir para justificar que o Sufismo representava tal tradição e forneceram a base para a sua relação com a Maçonaria.
Refletindo as ideias sinarquistas de Saint-Yves, Guénon pensava que o problema da sociedade moderna era que ela não era ordenada de acordo com a hierarquia natural, de modo que as castas eram atribuídas às suas funções impróprias. Para Guénon, a democracia era uma “inversão” porque a classe mais baixa, os Sudras, dominava a classe sacerdotal, os brâmanes.
Guénon acreditava que o Ocidente só poderia ser salvo através do renascimento de uma elite espiritual, uma espécie de Irmandade Rosacruz dos tempos modernos, que compreendesse a necessidade de um regresso a uma Tradição primordial e que atuaria como uma sociedade secreta governante.
“A verdadeira elite”, diz Guénon em A Crise no Mundo Moderno, “não teria de intervir diretamente nestas esferas [sociais e políticas], ou participar em ações externas; dirigiria tudo por uma influência que as pessoas desconheciam e que, quanto menos visível fosse, mais poderosa seria.”
A iniciação de Guénon
Tendo denunciado a atração da Teosofia e do neo-ocultismo na forma do Espiritismo, Guénon foi iniciado em 1912 na ordem Sufi Shadhili. A iniciação de Guénon foi efetuada pelo sueco convertido ao Islã, Ivan Aguéli, que assumiu o nome de Abdul Hadi. Aguéli estava interessado tanto no Sufismo quanto na Cabala Judaica. A iniciação de Guénon foi realizada sob a autoridade do amigo de Abdul Qadir, Sheikh Abder Rahman Illaysh al Kabir, maçom e chefe do Maliki Madhhab na Universidade Al Azhar. Foi uma Fatwa produzida por al Kabir e seu pai Muhammad Illaysh, grande Mufti do Malaki Madhhab, no Egito, que levou à revolta Urabi e, pela qual, os dois foram posteriormente presos. Al Kabir acabou sendo exilado na ilha de Rodes antes de finalmente retornar ao seu papel em Al Azhar. O xeque Abder Rahman também se tornaria mais tarde o chefe do Maliki Madhhab na Universidade Al Azhar. Como maçom, al Kabir também pretendia demonstrar a relação entre os símbolos da Maçonaria e do Islã.
Quando Abdul Qadir morreu, em 1883, al Kabir oficiou seu funeral, onde foi enterrado perto do túmulo de Ibn Arabi. Al Kabir apresentou Aguéli a Ibn Arabi, cujos ensinamentos ele passou a considerar como a doutrina essencial do Islã. Aguéli fundou a Al Akbariyya, como uma sociedade sufi secreta, em Paris, em 1911. Foi nomeada em homenagem ao apelido de Ibn Arabi de Sheikh al Akbar, que significa “o maior xeique”. O seu objetivo era promover os ensinamentos de Ibn al-Arabi, através da prática dos caminhos Sufi Shadhili e Malamati. Guénon foi um dos seus primeiros membros.
O Simbolismo da Cruz, de Guénon, é dedicado à “venerada memória de Esh-Sheikh Abder-Rahman Elish al Kabir”. O objetivo do livro, segundo Guénon, “é explicar um símbolo comum a quase todas as tradições, fato que parece indicar a sua ligação direta à grande tradição primordial”. Por “cruz”, Guénon quis dizer o símbolo oculto da suástica, utilizado pelos nazistas como símbolo da sua herança “ariana”. Guénon considerava a suástica como “um símbolo verdadeiramente universal”. Os alemães não usaram a palavra sânscrita suástica, entretanto, mas a chamaram de Hakenkreuz. Mas Guénon insistiu que não estava de forma alguma relacionado com “o uso artificial e até mesmo antitradicional da suástica pelos ‘racialistas’ alemães que lhe deram o título de Hakenkreuz, ou ‘cruz em forma de gancho’, e de forma bastante arbitrária a tornaram uma símbolo do antissemitismo”. No entanto, Guénon aparentemente espionou, tanto para os nazistas quanto para os ingleses durante a década de 1940, no Cairo, e começou “a aceitar somas cada vez mais consideráveis pelos serviços que prestou ao Terceiro Reich”.
Guénon e a Irmandade Polaires
A Irmandade Polaires surgiu em Paris em meados da década de 1920, inspirada nos contos de Agartha, relatados pelo explorador polonês, Ferdiand Ossendowski. Mais se saberia sobre a Irmandade Polaires se a sede da Sociedade Teosófica, em Paris, não tivesse sido saqueada durante a ocupação nazista, juntamente com os arquivos de muitas organizações maçônicas e esotéricas. Christian Bernadac supõe que Alfred Rosenberg queria estes materiais para a sua academia em Frankfurt. A base para o que viria a ser a Irmandade Polaires começou em 1908, quando um jovem italiano chamado Mario Fille conheceu um misterioso eremita chamado Padre Julian durante um feriado em Bagnaia, ao norte de Roma. O padre Julian forneceu a Fille alguns pergaminhos velhos e murchos que continham operações matemáticas que lhe permitiriam entrar em contato com os “Superiores Desconhecidos”.
Em 1920, Fille teria feito uma visita ao Egito, onde conheceu outro italiano, Cesare Accomani, que se autodenominava Zam Bhotiva. Juntos, eles conseguiram fazer contato com uma fonte chamada “O Oráculo da Força Astral”, um canal para o “Centro Iniciático Rosacruz da Ásia Misteriosa”. Eles também eram chamados de “Grande Irmandade Branca”.
Em 1929, eles receberam uma ordem do oráculo para fundar La Fraternite des Polaires, de Thule en Shamballah (Irmandade Polaires, de Thule em Shambhala”). As comunicações regulares com as “Inteligências”, afirmaram Fille e Accomani, ressuscitaram um movimento que anteriormente era conhecido como cátaros, gnósticos, albigenses, templários e essênios. Entre aqueles que foram reivindicados como Irmãos encarnados estavam Jesus, São João, Shakespeare, Francis Bacon e Arthur Conan Doyle. A Ordem original consistia em um grupo central liderado pelos “Nove”, um conselho de nove membros, em alusão ao culto dos Nove Desconhecidos. A liderança da Ordem estava nas mãos do “Le Grand Maitre de L’Ordre secret”, Grão-Mestre da Ordem Secreta, que foi escolhido com a ajuda do Oráculo da Força Astral.
Foi provavelmente através dos canais martinistas que Ossendowski soube da lenda de Agartha. Ossendowski escreveu um livro em 1922, intitulado Bestas, Homens e Deuses, no qual conta uma história que afirma ter sido contada a ele sobre um reino subterrâneo que existe dentro da terra. Este reino era conhecido pelos budistas como Agharti, que está associado a Shambhala. Em Ossendowski and the Truth (1925), o explorador sueco do Tibete, Sven Hedin, rejeitou as alegações de Ossendowski de ter ouvido falar de Agharti dos lamas mongóis. Edin suspeitou que Ossendowski derivou o mito de Agharti de Saint-Yves d’Alveidre e o adaptou à sua história, a fim de atrair um público leitor alemão familiarizado com o ocultismo.
Ossendowski foi informado dos poderes milagrosos dos monges tibetanos – e do Dalai Lama em particular – poderes, disse ele, que os estrangeiros mal conseguiam compreender, e continuou:
Embora o mito de Agartha não tenha quaisquer raízes asiáticas reais, ele influenciou Guénon na sua obra amplamente lida Le Roi du Monde (Rei do Mundo), publicada em 1927 e traduzida para muitas línguas, na qual apoiou as reivindicações de Ossendowski. Guénon escreveu sobre uma grande cultura hiperbórea que floresceu em torno do Círculo Polar Ártico e sobre seus postos avançados, Shambhala, no Oriente, e Atlântida, no Ocidente. O reino sinarquista subterrâneo de Agartha e seu governante oculto foram os temas de O Governante do Mundo, de Guénon. Segundo Guénon, Agartha representa “um centro espiritual existente no mundo terrestre”, abrigando “uma organização responsável por preservar integralmente o repositório da tradição sagrada que é de origem ‘não-humana’… e através da qual a sabedoria primordial se comunica através dos tempos para aqueles capazes de recebê-lo”
Quem é o Rei do Mundo
Na Cabala, segundo Guénon, o Rei do Mundo é Metatron, “o Príncipe do Mundo” e consorte da Shekhinah. Para as sociedades iniciáticas, o Senhor do Mundo é o mesmo que a misteriosa figura conhecida na Bíblia como Melquisedeque, “rei de Salém”. A mesma figura é reverenciada entre os sufis como um grande professor místico conhecido como al Khidr, ou “o Verde”. Os Irmãos Asiáticos também eram conhecidos como Lojas de Melquisedeque. Para essas escolas de iniciação, no Novo Testamento, os três reis magos eram os líderes do Agartha.
Da suástica, Guénon sustentou:
“…este centro constitui o ponto fixo conhecido simbolicamente por todas as tradições como o ‘pólo’ ou eixo em torno do qual o mundo gira. Esta combinação é normalmente descrita como uma roda nas tradições celtas, caldeus e hindus”.
Tal é, afirma Guénon, o verdadeiro significado da suástica, vista em todo o mundo, do Extremo Oriente ao Extremo Ocidente, que é intrinsecamente o “sinal do Pólo”. Supunha-se que ela derrotaria e substituiria a cruz, assim como o neopaganismo derrotaria e substituiria o Cristianismo.
Julius Evola
Guénon também pertenceu à Irmandade Hermética da Luz (Hermetic Brotherhood of Light) , que teve como influência Maria Naglowska, também pertencente à Irmandade Polaires que Guénon também fez parte. Naglowska foi uma ocultista russa que escreveu e ensinou magia sexual. Dizia-se que ela foi iniciada por judeus hassídicos ou por Rasputin, ou pela seita russa de Khlysty à qual se dizia que Rasputin pertencia.
Naglowska mudou-se para Roma por volta de 1920, onde conheceu Julius Evola. Em 1929, ela se mudou para Paris, onde conduziu seminários de ocultismo sobre suas idéias sobre magia sexual. A participação nessas sessões incluiu notáveis escritores e artistas de vanguarda como Evola e André Breton. Essas reuniões eventualmente levaram ao estabelecimento da Confrerie de la Flèche d’Or (Irmandade da Flecha Dourada). Naglowska referiu-se a si mesma como “uma mulher satânica” e proclamou que “a razão está a serviço de Satanás”. Ela encorajou explicitamente seus discípulos a imaginar Satanás como uma força dentro da humanidade, em vez de um espírito externo, mau e destrutivo. Em 1931, Naglowska compilou, traduziu e publicou em francês uma coleção de escritos de Paschal Beverly Randolph, que teve uma profunda influência na Irmandade Hermética da Luz. A publicação dela dos ensinamentos até então pouco conhecidos de Randolph foi a fonte de sua influência subsequente na magia europeia. Naglowska, junto com outros membros da Irmandade Polaires, Arturo Reghini e Julius Evola, também fez parte do Grupo Ur.
Importante dizer que Evola foi o sucessor mais importante do Tradicionalismo de Guénon. Após a Primeira Guerra Mundial, Evola foi atraído pela vanguarda e brevemente associado ao movimento futurista de Marinetti, tornando-se um representante proeminente do dadaísmo na Itália.
Evola foi apresentado ao Tradicionalismo por volta de 1927, depois de se juntar à Liga Teosófica fundada por Arturo Reghini, membro de Polaires, um ocultista romano imerso em alquimia, magia e teurgia, e que era correspondente de Guénon. Em 1927, Reghini, Evola e outros ocultistas, incluindo Giovanni Colazza, discípulo de Rudolf Steiner, fundaram o Gruppo di Ur, que realizava rituais destinados a inspirar o regime fascista da Itália com o espírito da Roma imperial, como os últimos memes que tem surgido.
Segundo Julius Evola, “com base na sua convicção de que, se o Ocidente teve uma tradição, foi o catolicismo”, [Guénon] “acreditava que o ponto de partida de tal retificação seria ter que estudar uma integração do catolicismo ‘tradicional’, não descartando a vantagem dos contatos com elementos orientais”. Já para os seus muitos correspondentes, Guenón designou claramente o Sufismo como uma forma mais acessível de iniciação tradicional para os ocidentais ansiosos por encontrar um caminho iniciático que já não existe no Ocidente.
Mark Sedgwick, em Contra o mundo moderno: tradicionalismo e a história intelectual secreta do século XX, relata que Guénon começou a contribuir com artigos para Regnabit em 1925, escrevendo sobre a lenda do Santo Graal e tentando demonstrar a unidade essencial de várias formas tradicionais, comparando o Sagrado Coração ao terceiro olho de Shiva.
Julius Evola se inspirou na visão de Guénon, de uma conspiração de forças “contra-iniciáticas”, onde acusou Aleister Crowley de ter encenado seu suicídio para se tornar um “conselheiro secreto para Hitler. Guénon insistiu consistentemente que a Tradição Primordial…
“…é nórdica, e ainda mais exatamente polar, uma vez que isto é expressamente afirmado nos Vedas, bem como em outros livros sagrados”.
O pensamento de Evola pode ser considerado um dos sistemas mais radicais e consistentemente anti-igualitários, antiliberais, antidemocráticos e antipopulares do século XX. As influências de Evola incluíram Platão, Jacob Boehme, Arthur de Gobineau, Joseph de Maistre, Friedrich Nietzsche e Oswald Spengler, cuja obra Declínio do Ocidente ele mais tarde traduziu para o italiano. No artigo final do Livro Três da Introdução à Magia, Evola traduz várias seções do Liber Aleph, de Aleister Crowley, o Livro da Sabedoria ou Loucura, onde Evola afirma que, “No anfiteatro mágico contemporâneo… Crowley é uma figura de primeira categoria”. Como representante italiano da O.T.O. (Ordo Templi Orientis), Reghini também tinha Crowley como um amigo comum com Evola.
Evola foi um autor de livros que cobrem temas como Hermetismo, metafísica da guerra, magia sexual, Tantra, Budismo, Taoísmo e o Santo Graal. O interesse de Evola pelo Tantra foi inspirado pela correspondência com John Woodroffe, também conhecido como Arthur Avalon. Sobre o Budismo Tântrico no Leste Asiático, Richard K. Payne, Reitor do Instituto de Estudos Budistas, argumentou que Evola manipulou o Tantra a serviço da “violência da direita”, conforme revelado em sua ênfase no “poder” em The Yoga of Power, pois anteriormente apenas o “caminho da Mão Esquerda” abraça a violência como meio de transgressão. Evola afirmou que “indivíduos diferenciados” seguindo o Caminho da Mão Esquerda usam poderes sexuais sombrios e violentos contra o mundo moderno. Para Evola, estes “heróis viris” são generosos e cruéis, possuem a capacidade de governar e cometem atos “dionisíacos” (possível ligação com o meme do Chad Fino, representando normalmente por um Moai da ilha de Pascoa com uma taça de vinho) que podem ser vistos como convencionalmente imorais.
Em 1928, Evola escreveu o texto Imperialismo Pagão, que propunha a transformação do Fascismo com base nos antigos valores romanos pré-cristãos e no Antigo Mistério, além da restauração do sistema de castas e da aristocracia da antiguidade. A trilogia central das obras de Evola é geralmente considerada como Revolt Against the Modern World, Men Among the Ruins e Ride the Tiger. Evola defende uma reestruturação radical da sociedade com base na sua versão da “Tradição”. Tal como Guénon, Evola acreditava que a humanidade vive no Kali Yuga, uma Idade das Trevas de apetites materialistas desencadeados, esquecimento espiritual e dissolução.
Evola também foi uma das fontes do conceito do Santo Graal e da falsa linhagem da farsa do Priorado de Sião. Evola se referiu a uma qualidade especial do sangue, que ele alegou, que já existiu em uma casa real. Acima de tudo, ele admirava Godofredo de Bouillon, primeiro governante latino da Palestina após a Primeira Cruzada, como o governante ideal, o lux monarcorum (“luz dos monarcas”). Em O Mistério do Graal, escrito em 1934, Evola interpretou o Santo Graal e seu mito heróico como um símbolo da iniciação cavalheiresca ou kshatriya, derivada da antiga tradição celta-hiperbórea. Kshatriya é uma das quatro varna (ordens sociais) do sistema de castas hindu e constituiu a elite governante e militar. Evola ligou o mito do Graal às aspirações dos gibelinos medievais, que tentaram a restauração do Sacro Império Romano.
Alexander Dugin
Estas ideias inspiraram Dugin a imaginar um confronto entre o Ocidente democrático e liberal, ou a “Ordem da Atlântida”, contra a “Ordem da Eurásia”, abrangendo séculos e milénios, e como o principal fator “conspirológico” subjacente da história. No entanto, como observa Dugin, este confronto não deve ser simplificado demais como uma mera luta entre o “bem” e o “mal”. Pelo contrário, são dois aspectos de uma luta dualista necessária para o desenrolar da história.
Dugin adaptou sua interpretação à tradicional dicotomia sinarquista entre Hiperbórea e Atlântida. Guénon escreveu sobre uma grande cultura hiperbórea que floresceu em torno do Círculo Polar Ártico e sobre seus postos avançados, Shambhala, no Oriente, e Atlântida, no Ocidente. De acordo com a tradição oculta, a Atlântida chegou ao fim após um longo período de caos e desastre provocado, nas palavras de Madame Blavatsky, porque a “raça da Atlântida tornou-se uma nação de mágicos perversos”.
Dugin acredita que Hiperbórea foi o lar de uma raça pura ariana ou hiperbórea, os ancestrais dos russos de hoje. Os hiperbóreos estavam em contato com uma realidade espiritual transcendente. Mais tarde, migraram para o sul através da Eurásia, onde estabeleceram grandes civilizações, mas também perderam a pureza racial original e os poderes espirituais. Os arianos se opõem aos povos de pele escura, mais primitivos e terrestres, do sul tropical.
De acordo com Dugin, na “conspiração” planetária, o confronto secreto e a luta invisível entre estas duas forças “ocultas” opostas predeterminou o curso da história mundial. Estas forças são representadas por “terra” e “mar”. Na história antiga, o poder “marítimo” da Fenícia (Cartago) tornou-se o símbolo histórico da “civilização marítima” como um todo. O império terrestre que se opunha a Cartago era Roma. As Guerras Púnicas foram, portanto, uma expressão do confronto entre a “civilização marítima” e a “civilização terrestre”.
Em tempos mais recentes, a Inglaterra tornou-se o império “insular” e “marítimo”, a “senhora dos mares”, sucedida pela gigante ilha-continente da América. O tipo geopolítico fenício-anglo-saxão gerou um modelo especial de civilização “comércio-capital-mercado” baseado em interesses económicos e materiais e nos princípios do liberalismo económico. Contrariamente ao modelo fenício, Roma serve como um modelo de estrutura militar-autoritária baseada no controle administrativo, na religiosidade civil e na primazia da “política sobre a economia”.