Renã Pozza
Segundo o banco de dados de saúde Worldometer, site de referência que fornece contagens e estatísticas em tempo real sobre diversas áreas, o aborto é a maior causa de mortes pelo quarto ano consecutivo. Foram 44 milhões somente em 2022.
O debate sobre o tema voltou à tona no Brasil devido à ministra do Supremo Tribunal Federal, Rosa Weber, que quer aposentar-se deixando a descriminalização do aborto até a décima segunda semana como legado – uma tentativa que, mais uma vez, a Suprema Corte legisle em lugar do Congresso Nacional. O Movimento PRÓ-VIDA, por óbvio, não ficou parado. As agitações nas redes sociais, nas Igrejas, no Parlamento e nas vigílias de oração começaram e não retrocederam.
Os adeptos da chamada Cultura da Morte, da qual o aborto é a principal pauta, têm sempre a mesma ladainha nos lábios. “É questão de saúde pública”, “é um direito da mulher”, “meu corpo, minhas regras”, “e o que acontece com o pai que abandona?” e blábláblá, velhas desculpas esfarrapadas.
Basta que façamos três perguntas e as respondamos com honestidade.
O aborto é humanitário? Não.
O aborto é cientificamente ético? Não.
O aborto é moral no sentido religioso? Não.
O sentido religioso (cristão), imagino nem precisar de explicação.
O aborto não é humanitário, uma vez que o primeiro direito do ser humano é o direito à vida, donde todos os outros direitos derivam. Mesmo em casos de violência sexual, a morte do inocente no ventre da mãe não é solução alguma. Nesses casos, a falácia costuma ser de que a mãe não conseguirá viver com tal trauma. Pois é, e com o trauma de matar seu bebê no ventre, ela conseguirá?
A solução homicida é pôr sobre os ombros da mãe desafortunada mais um trauma para lidar. Tratamento psicológico e psiquiátrico, adoção, punição severa ao criminoso, tudo isso não fará o tempo retroagir e não acontecer o abuso, mas são remédios menos nocivos à criança e à mulher. Se mesmo em caso de violência não é moralmente válido o assassinato de uma vida inocente, quanto mais em casos de concepção normal.
Por que ressaltar a questão da concepção fruto de um ato cruel?
Porque os ignorantes e as pessoas de pouca fé costumam se sensibilizar com o discurso aparentemente amoroso de quem defende essas práticas, quando, na verdade, em seus corações reina o ódio e o desejo de matar.
Certas vezes vi nomes queridos pela militância conservadora como Zoe Martinez e Cíntia Chagas (cada uma em um momento) defenderem o “direito da mulher” nesses casos de estupro.
Zoe disse que pessoalmente não faria, mas entende que a mulher tenha de ter esse direito. Até pareceu o Lula ou o Leonardo Boff dizendo que pessoalmente são contra, mas é uma questão de saúde pública.
Cíntia chamou quem é contra o aborto em caso de estupro de “extremista de direita”. Belo século XXI! Até mesmo quem se diz pró-vida caindo em bagatelas. Tudo é politicagem, questão de direita e esquerda, sem reflexão profunda sobre o problema.
Ambas se dizem católicas. Pois bem, saibam: a defesa ou concordância com o aborto, em qualquer circunstância, gera excomunhão latae sententiae (automática). E não adianta recorrer a algum padre amiguinho progressista, porque se ele der o aval é outro excomungado. Espero, haja vista que as duas possuem características admiráveis, vê-las mudando de posição.
Ao leitor cabe saber: Sempre que estiver diante de alguém que se diz pró-vida, não existe o “mas”. “Eu sou pró-vida, mas em casos de…”, aí não é pró-vida coisíssima nenhuma.
Nas imagens abaixo: Qual a diferença entre o bebê fruto do amor de um casal e o oriundo de um infeliz ato de violência?
A parte científica, por incrível que pareça, é a menos complicada. Aqui minha decepção direciona-se ao poeta Adrilles Jorge. Tão bom com as palavras, tão inteligente para algumas coisas, e tão inócuo para falar de um tema sério como este. Adrilles, em podcast, argumentou que até nove ou dez semanas não se trata de um feto, mas de um embrião, portanto não é ser vivo ainda. De onde ele tirou esse silogismo furreca e estúpido?
Um micróbio não é um ser vivo? Eu gostaria de perguntar ao Adrilles, aos cientistas modernos e aos médicos: O que é a vida? Alguém saberia me explicar?
Vida é aquilo que tem movimento imanente interior em função dos elementos externos. Uma planta, um cachorrinho, uma lombriga, um embrião, um feto estão se movimentando interiormente e se desenvolvendo a partir das exterioridades que chegam a eles. Se algum dos senhores tiver dúvida, recomendo que assista a este filme: O Grito Silencioso, produzido em 1985 pelo Dr. Bernard N. Nathanson, responsável por milhares de abortos, chegando a ser apelidado de “Rei do Aborto”. Após o surgimento da ultrassonografia, aquele que era o maior expoente dos abortistas nos EUA passou a ser fervoroso ativista PRÓ-VIDA.
A Dep. Carla Zambelli comete a proeza de, por ingenuidade – na melhor das hipóteses -, aderir à sugestão do Sen. Rogério Marinho de fazer um plebiscito para resolver o impasse. Parafraseando um digníssimo sábio, “Deputada, eu serei a favor de um plebiscito sobre o assassinato de bebês quando também pudermos fazer um plebiscito para saber se podemos arrancar sua excelentíssima cabeça”. Será que Vossa Excelência não consegue enxergar que a própria sugestão é imoral e antiética na base?
Gostaria eu de estar descendo o sarrafo nos novos Herodes com sede de sangue inocente, mas com uma “galera do bem” espetacular como essa, Herodes chega a ficar com inveja.
A quem tem preguiça de ler artigos e livros, outro documentário chocante chama-se Blody Money – Aborto Legalizado, que revela os bastidores da indústria norte-americana por trás da agenda da Cultura da Morte.
Sempre se começa com o apelo à compaixão. A mulher sendo vítima de brutalidade, um parto que deu errado, a miséria e a fome de famílias pobres, etc. Pouco a pouco, vão introduzindo causas como deficiência, redução da qualidade de vida e assim por diante. O resultado é o extermínio em massa, eutanásia, eugenia e afins.
O Brasil tem a virtude de se manter o baluarte na resistência contra a legalização dessa praga. Em revelações privadas, a Virgem Maria, outros santos, o Arcanjo Miguel e o próprio Filho de Deus, Jesus Cristo, aparecem citando o aborto disseminado como “a taça da ira de Deus transbordando”. Até quando Deus terá paciência conosco?
O Catecismo Maior de São Pio X aponta quais são os pecados que clamam por vingança aos Céus: homicídio voluntário; impureza contra a natureza; opressão dos pobres, principalmente órfãos e viúvas; e não pagar o salário a quem trabalha.
Estamos brincando de criadores e salvadores há muito tempo.
Vigiai e orai, pois, já dizia o gênio G. K. Chesterton:
“O aborto é, de fato, um holocausto silencioso”.