Renã Pozza
O ex-presidente Jair Bolsonaro, durante a corrida eleitoral de 2018, chamou atenção em várias de suas lives por ter alguns livros em cima da mesa nos quais, supostamente, ele se inspiraria e ao mesmo tempo os indicava aos brasileiros que o assistiam. Tratava-se, se não me falha a memória, dos livros Memórias da Segunda Guerra Mundial, de Winston Churchill, e do best-seller do prof. Olavo de Carvalho, O Mínimo que Você Precisa Saber para Não Ser um Idiota. Uma vez eleito, na prática, não vimos em Bolsonaro nada parecido com a sagacidade e asserção de Churchill em seu manejo diário como estadista, tampouco o domínio sobre o que está escrito no livro do filósofo Olavo de Carvalho – um livro meramente jornalístico comparado a suas grandes obras.
O Brasil vive um momento de intensa conscientização política. Um exemplo disso é que hoje se sabe de cor quem são os onze ministros do STF, mas não os onze jogadores titulares da Seleção Brasileira de futebol. O cidadão que acompanha política apaixonadamente, que gosta de comentar, palpitar, discutir, convencer seus compatriotas, espelha-se naqueles políticos em quem depusera sua confiança. Acompanha-os nas redes sociais, repete seus discursos, verifica vezes por semana sua conduta pública.
Ora, não há sociedade de sucesso em que a aquisição de cultura tenha vindo depois da organização política e distribuição de cargos. Mesmo quando a maioria das populações era literalmente analfabeta, o pai de família buscava entender o processo histórico e contexto social antes de opinar politicamente e determinar princípios peremptórios para o bem comum.
É neste ponto em que eu queria chegar.
Das duas, uma: ou nossos políticos sabem da importância de uma atmosfera rica em alta cultura e vêm negligenciando deste quinhão essencial, ou eles são asnos com uma boa retórica e oratória. Hoje, políticos são também influenciers digitais. Os eleitores seguem-nos, amam-nos, se sentem representados quando os vêem heroicamente levantando um brado de indignação em nome do povo, demonstrando, assim, que sentem a sua dor.
Se está difícil ganhar todas nos âmbitos judiciais e legislativos, resta a força da palavra, aplicada com inteligência e paciência. Foi o que fez São João Paulo II derrubar o totalitarismo na Polônia sob a Cortina de Ferro.
Queridos representantes do povo eleitos democraticamente, Suas Excelências contribuirão muito se, mediante suas popularidades estrondosas, exibirem mais literatura clássica, poesia de língua portuguesa, contos, crítica literária de qualidade, o básico da Doutrina Social da Igreja, filosofia grega, Cícero, os Doutores escolásticos, cientistas políticos, sociólogos, historiadores do Brasil e da Civilização Ocidental já validados pelo tempo e de caráter ilibado, etc. Documentários, filmes e séries, com uma breve análise didática, também são bem-vindos. Que o trabalhador comum, auxiliado por quem é fã e de quem espera bom conteúdo, aprenda o que são comunismo, socialismo, fascismo, liberalismo, conservadorismo e capitalismo, em vez de sair xingando e rotulando indiscriminadamente sem a devida referência dos termos, dando mais subsídio ao adversário do que adquirindo benefícios. Se os deputatags derem o exemplo, multidões os imitarão. Agora, feliz ou infelizmente, ninguém pode dar aquilo que não tem. Rezo para que não seja o caso – pelo menos de alguns a quem conheço a índole e nutro alguma admiração na coisa pública. Ninguém precisa entender de tudo. Longe de mim tal exigência. Ressalto apenas uma condição primária para um debate sadio e a formação de uma nação promissora: valorização da cultura, em especial, da cultura por excelência, aquela sobrepujante, esplêndida e magnífica casa construída sobre a rocha, que veio a ser, com justiça, chamada de Cristandade.
Ao cidadão médio cabe saber que antes do macro vem o micro. É muito difícil mudar o Brasil após um declínio cultural e aplicação de uma psicologia coletiva degradante de décadas – ou séculos. Não conseguimos nem mesmo datar onde e quando exatamente a degradação começou. O máximo que podemos fazer é diagnosticar que a cada geração ela se agravou. Isso não é tarefa para quatro anos de presidência da República. Primeiramente, devemos cobrar de quem está mais proximamente ao alcance: vereadores e prefeitos de seu município, professores e diretores da escolinha de seus filhos, padres, catequistas, pregadores e músicos de sua paróquia e de si mesmo, alma individual, responsável por sua própria educação e pela criação de outros seres humanos.
Dito isto, nada do que falei acima anula o restante do trabalho. São apenas acréscimos salutares, porém, sem rebaixamento de sua valia, acréscimos que podem muito bem se encaixar na esfera do principal.