A associação feita de forma criminosa por uma colunista da Folha de S.Paulo, que acusou uma cidade catarinense de pintar saudação nazista nos telhados sem apurar se tratar de um sobrenome conhecido na cidade, está longe de ser um simples erro. A Folha se desculpou pelo erro, mas o crime já foi consumado e terá seus efeitos de qualquer forma. No entanto, é preciso contextualizar o crime para constatarmos como agem os criminosos.
Quase um mês antes, no dia 11 de maio, a Agência Pública, site tradicionalmente apoiado por entidades internacionais de esquerda, acusou a Secretaria de Educação do município catarinense de Dona Ema, de um suposto crime de nazismo por simplesmente exibir no museu da cidade fotos antigas que continham símbolo nazista.
Tratava-se de um registro histórico de uma cidade que abrigou células nazistas durante a Segunda Guerra Mundial, o que é obviamente repudiado pela cidade atualmente e cujos registros mostram exatamente isso. Mas valendo-se de um especialista em direito, a Pública aventou a estranha interpretação de que aquele registro histórico poderia configurar apologia. Imaginemos se isso for aplicado contra documentários, exposições dos horrores nazistas e tantas outras iniciativas que visam manter viva a memória do episódio mais tenebroso da história. Ora, é claro que eles não irão fazer isso porque não acreditam que a BBC ou a National Geographic tenham a intenção de fazer apologia ao nazismo. Mas um órgão de um município catarinense é claro que pode. Trata-se, portanto, de um evidente preconceito estruturado que busca juntar fundamentação com base em associações falaciosas para impulsionar uma onda de ódio nacional contra os catarinenses. Parece teoria conspiratória?
Essa campanha contra Santa Catarina começou a ficar evidente no jornalismo da esquerda desde que o estado teve uma das maiores votações em Jair Bolsonaro. Mais recentemente, críticas ao atual governador Jorginho Mello como um governador que “insiste em ser bolsonarista” impulsionam matérias como a da Agência Pública e, evidentemente, a criminosa associação feita pela colunista da Folha. Trata-se de uma campanha politizada e abertamente difamatória, que se vale de episódios dolorosos da história catarinense.
A colunista da Folha, assim como a Agência Pública, deveriam responder na justiça por falsa imputação de crime coletivamente associada e discriminação racial, além de óbvia xenofobia. Mas por que nenhum político ou advogado irá arriscar entrar com esse pedido? A resposta é simples: a campanha de difamação dos catarinenses mediante associações com o nazismo não está inscrita nos fatos juridicamente perceptíveis, mas dos culturalmente construídos ao longo do tempo, cuja denúncia aberta exigiria um risco político e midiático que muitos veem como desnecessário. Quase que inconscientemente, portanto, o crime cometido pela Agência Pública e pela Folha vai se sedimentando como prática jornalística usual, passível apenas de uma crítica pontual ou apontamento de erro técnico.
Não é preciso ser um gênio para prever o que irá acontecer: em breve a associação não será mais nem mesmo percebida como tal, mas como um fato inegável, demandando uma vigilância permanente e consequente punição de políticos catarinenses e até de cidadãos, criando uma “onda de nazismo” e uma “emergência nacional” para fundamentar perseguição a opositores do governo. Essa perseguição passará a ser uma reivindicação legítima de grupos e movimentos que gostam de se ver como zelosos com os direitos humanos, sem que se possa licitamente reclamar de qualquer coisa.
Ao utilizar a memória do nazismo como método de perseguição, a esquerda ajuda a resgatar essa doutrina do seu ostracismo. Células neonazistas que antes abrigavam apenas pessoas com problema sociais e mentais, passaram a ser objeto de atenção por grupos de esquerda para tentar associá-los à população normal, defensores da família e de valores cristãos, como forma de criminalizar essas posições.
O verdadeiro nazismo
Ao mesmo tempo, o verdadeiro nazismo do século XXI cresce em nossas terras sem ser incomodado, impulsionado por doutrinas de terceira posição que atuam em formidável conexão com o atual governo Lula, como mostrei recentemente.
No documento enviado à transição petista, que visava associar massacres em escolas às ideias conservadoras para fundamentar uma perseguição contra opositores, aparecia na lista de “grupos conservadores”, nada menos que o Nova Resistência, movimento de seguidores do ideólogo russo e ocultista Aleksandr Dugin, que criou uma doutrina que resgata símbolos e crenças do misticismo nazista para uma luta contra democracias liberais, usando como isca críticas ao globalismo e à esquerda identitária. Quando confrontados com essa realidade, os duguinistas costumam esquivar-se dizendo que essa crítica parte de um “pressuposto liberal”, classificando dessa forma a rejeição ao nazismo, comunismo e doutrinas de força apoiadas por eles.
No entanto, mais liberal do que criticar o nazismo é exatamente abstrair doutrinas de suas fontes espirituais e associá-las às meras ações desses governos ou políticas.
As fontes espirituais dos atuais neofascistas e neonazistas que se dizem discípulos da “quarta teoria política”, são as mesmas dos ícones da ideologia de gênero e da eugenia que leva aos movimentos abortistas e de controle populacional que eles tanto criticam. Em suas crenças, Dugin repete a mitologia da russa Helena Blavatsky sobre o messianismo russo de uma nova era espiritualizada antiocidental. Blavatsky também acreditava em uma hierarquia ancestral das raças, embora sua teosofia repudiasse o racismo. Uma de suas seguidoras, porém, foi ao mesmo tempo o ícone da teosofia racista e eugênica e a “mãe” do aborto e da contracepção, sendo ainda hoje uma inspiradora figura para feministas: Margaret Sanger. Isso para citar apenas uma “coincidência” entre doutrinas da esquerda ocidental e liberal e os neoeurasianistas que crescem pelo país bem protegidos pela mídia “liberal”
A doutrina geopolítica extraída desse emaranhado doutrinário de crenças messiânicas tem sido muito popular entre jovens revoltados com a modernidade, que se alinham tanto à direita quanto à esquerda, como podemos ver. O Nova Resistência infiltra membros em partidos como o PDT e está presente em diversos movimentos ligados ao “trabalhismo”, getulismo, neointegralismo, entre outros. Por fim, há que se notar a incrível coincidência dessa geopolítica com a nova política externa petista, defendida envergonhadamente pela esquerda jornalística, que tolera apenas uma ou outra crítica.
Portanto, a esquerda precisa associar seus críticos ao nazismo justamente porque ela está até o pescoço metida na defesa de um novo regime fascista que, no entanto, se considera antifascista. A verdade é que essa onda de neofascismos que cresce discretamente está “politizando” células neonazistas que estavam estagnadas por sua própria inutilidade ou exotismo, desconexão com a atualidade, cultuando meros símbolos de um passado por jovens desajustados e inconformados com a normalidade.