O presidente Lula está cada vez mais perto da Rússia e de seus projetos globalistas, como o capitaneado pelo guru de Putin, o ideólogo Aleksandr Dugin, e sua “Quarta Teoria Política”, que pretende somar nazismo e comunismo para formar uma nova frente contra a civilização ocidental sob o disfarce de um antiglobalismo e antiliberalismo. Dugin e seus seguidores defendem a reorganização do mundo com base em um relativismo filosófico de raízes gnósticas. Como o leitor verá abaixo, embora talvez Lula nunca tenha ouvido falar de Dugin (ou finja não saber), ele está seguindo esse projeto à risca.
No Brasil, esse movimento é mantido pelo grupo neofascista Nova Resistência, um movimento apoiado diretamente por Dugin, que organiza lives e debates com líderes de movimentos análogos pelo mundo. Ultimamente, o grupo tem conseguido aproximar o guru russo das Forças Armadas do Brasil, através de reuniões com membros da Escola Superior de Guerra, que convidou Dugin para publicar um artigo em sua revista. Muitos militares brasileiros já estão seduzidos pela doutrina da multipolaridade e da Quarta Teoria Política através de expoentes como o comandante Robson Farinazzo, entre outros.
Em março de 2022, um dos líderes do Nova Resistência, Raphael Machado, resumiu os 9 pontos que devem seguir seu movimento no mundo. Pontos como o estabelecimento da “integração da América Latina” e a utopia da “Pátria Grande”, a forçada anexação de Taiwan à China e da Ucrânia e Bielorrússia à Rússia, além da defesa da Palestina contra Israel, o reforço a grupos de orgulho étnico como pan-africanistas e pan-arabistas, tudo o que possa enfraquecer o “imperialismo”.
Leia abaixo o resumo elucidativo do quadro doutrinário e geopolítico do movimento e compare com o programa petista de relações internacionais (grifos meus e notas, ponto por ponto, abaixo):
“Consistência nos posicionamentos é fundamental para qualquer organização política. Apesar de, sozinho, isso não dizer muito (até o PSTU é consistente na defesa do lado errado sempre) é ruim quando um partido ou movimento parece não saber bem a direção a seguir (caso da maioria dos partidos brasileiros, até na “esquerda anti-imperialista” ou no “trabalhismo”). A Nova Resistência, porém, é absolutamente consistente. Defendemos, por exemplo, desde sempre a construção da Pátria Grande ibero-americana pela integração de todos os países do continente em uma única estrutura estatal de nível superior e a libertação das possessões neocoloniais no continente (das Malvinas às Guianas).
E, no que concerne o plano internacional, tudo que enfraqueça a hegemonia unipolar, os EUA e as estruturas internacionais vinculadas à unipolaridade americanocêntrica, portanto:
1) A China contra Taiwan e contra qualquer projeto separatista;
2) A construção da União Eurasiática pela Rússia, com a reintegração dos territórios bielorrussos, ucranianos e cazaques;
3) A causa palestina, pelo direito de construir um Estado palestino, no território tradicional do povo palestino;
4) O Irã e o Eixo da Resistência contra o separatismo curdo, o terrorismo salafista, a agressão sionista, a tirania saudita e todas as ameaças semelhantes;
5) A ascensão populista na Europa, pela dissolução da OTAN, a ruptura com os EUA, o fim das migrações irrestritas, etc.;
6) O projeto pan-africanista da União Africana contra o neoimperialismo da “Françáfrica” e projetos similares;
7) A reintegração “igual” da península coreana ou, sendo isso impossível, a Coreia Popular contra tudo e contra todos, e por aí vai;
8) A recuperação do Cosovo pela Sérvia, de Gibraltar pela Espanha, de Artsakh pela Armênia, de Ulster pela Irlanda;
9) A fragmentação dos EUA.E por aí vai.
Citando Alain de Benoist: “tudo o que contribui para enfraquecer o projeto americano-ocidental no mundo é uma boa coisa, tudo o que tende a engrandecê-lo é ruim”. Sem essa percepção não pode haver um projeto patriótico brasileiro.” – Raphael Machado
Vejamos agora, ponto por ponto, a que se refere cada tópico e como eles reúnem causas nas quais Lula é garoto propaganda global há muito tempo, inserindo agora o Brasil no verdadeiro Eixo da nova guerra fria, o upgrade neofascista de todo o globalismo.
O projeto da Pátria Grande é a apropriação do suposto sonho de Simon Bolívar, capitaneado por movimentos de esquerda e projeto principal do Foro de São Paulo, criado por Lula e Fidel Castro. O Foro foi fundado oficialmente em 1990 e enfatizava o desejo de recuperar nas Américas o que foi perdido no Leste Europeu. Neste objetivo, reuniu todos os movimentos de esquerda do continente, incluindo narcoterroristas como as Farc e outras facções criminosas em uma presença discreta, para uma luta contra o “imperialismo” e iniciativas supostamente “neocolonialistas”. Durante décadas, este projeto abasteceu e articulou as tomadas de poder, pela via eleitoral, de partidos e líderes populistas de esquerda no continente, sempre sob o bojo do antiamericanismo, com alianças permanentes com a Rússia, China, grupos terroristas islâmicos com ligação da “causa palestina” e contra Israel.
1) No primeiro ponto está a defesa de que Taiwan pertence à China. Essa tese é cara aos “imperialistas do bem”, cuja defesa da “soberania” comunista chinesa não permite a criação do novo país fundado após a fuga do antigo governo nacionalista da China, expulso pela revolução sangrenta de Mao. Essa tese foi expressada claramente por Lula em sua última viagem à China, com direito a documento conjunto assinado pelo Itamaraty, comprometendo-se ao projeto de “uma só China”, com o qual a ditadura chinesa ameaça a existência de Taiwan.
2) Sobre o segundo ponto, não há dúvidas. Mais de uma vez, Lula tem enfatizado o apoio à invasão russa, criticando a Ucrânia por meio de críticas a Zelensky. Recentemente, o presidente brasileiro disse que “nunca igualou Rússia e Ucrânia”, mentindo publicamente. Afinal, à revista Times ainda nas eleições, Lula disse que “Zelensky é tão culpado quanto Putin”, literalmente igualando os dois. Obviamente a postura é dúbia por motivos de manutenção da imagem internacional.
3) Quanto à causa palestina, Lula tem dado declarações recentes sobre a nova posição do governo brasileiro, diametralmente oposta à de Bolsonaro, defendendo a ideia da criação de um “estado palestino”. Lula chegou a mentir dizendo que a ONU criou o estado de Israel e não o da Palestina, quando na verdade, o organismo ofereceu a ambos, mas os palestinos recusaram. A causa palestina é sabidamente uma causa de aluguel para diversos grupos terroristas.
4) “O Irã e o Eixo da Resistência contra o separatismo curdo, o terrorismo salafista, a agressão sionista, a tirania saudita e todas as ameaças semelhantes”; O quarto ponto complementa o terceiro, declarando o apoio ao Eixo de Resistência. Trata-se de uma aliança anti-Israel e declaradamente antiocidental entre o Irã, a Síria, o grupo militante libanês Hezbollah e o terrorista sunita Hamas. A causa palestina está obviamente associada a esse movimento como uma fachada aparentemente libertária que nos últimos anos ficou evidente com o apoio da esquerda mundial.
5) “A ascensão populista na Europa, pela dissolução da OTAN, a ruptura com os EUA, o fim das migrações irrestritas, etc”.; Aqui há uma pequena divergência aparente. “Ascensão populista na Europa” é uma referência à nova direita antimigração surgida lá, que vem sendo apropriada por movimentos pró-russos e obtendo até mesmo financiamento indireto do Kremlin (por meio dos oligarcas amigos de Putin). Esses movimentos direcionam essa direita contra os seus próprios países, ao fazê-los voltar-se contra a OTAN, deixando-os indefesos contra avanços da Rússia e ruptura com os EUA, minando assim a credibilidade dos alertas sobre isso.
6) “O projeto pan-africanista da União Africana contra o neoimperialismo da “Françáfrica” e projetos similares”; Nesta quarta-feira, Lula anunciou que dará mais poder de decisão à União Africana no G20, que inicia turno de presidência do Brasil na instituição. Com isso, não estamos dizendo que esse grupo não deva ter voz, mas enfatizando a coincidência das agendas supostamente anticoloniais, mas ligadas com a implementação de “colonialismos regionais”, os polos do multipolarismo.
Por fim, a frase final resume bem o critério desse novo projeto global, ao terminar citando Alain de Benoist: “tudo o que contribui para enfraquecer o projeto americano-ocidental no mundo é uma boa coisa, tudo o que tende a engrandecê-lo é ruim”. Neste aspecto, o Nova Resistência reduz o patriotismo brasileiro à agenda russa antiamericana, integrando o país dentro de um bloco diferente e antiocidental.
Aleksandr Dugin
Aleksandr Dugin já esteve algumas vezes no Brasil e vem se aproximando de setores militares, graças aos esforços da garotada neofascista do Nova Resistência, que se infiltram em partidos de esquerda como o PDT através de grupos defensores de Getulio Vargas. Seduzidos por toda forma de regimes de força, eles tem entre seus amigos o ex-ministro da Defesa, Aldo Rebelo, criador do chamado “Quinto Movimento”, sobre o qual já falamos. Dugin foi convidado para publicar um artigo na revista da Escola Superior de Guerra, após uma transmissão ao vivo de debates com militares brasileiros que vêm se tornando sensíveis às ideias do russo de criação de uma “ideologia nacional”, cuja matriz seria a Quarta Teoria Política.
Considerado por muitos como o guru de Vladmir Putin, filho de agentes da KGB, Dugin cresceu dentro do ambiente da inteligência militar russa e, na adolescência, coube a ele criar o Nacional-Bolchevismo ((Nazbol), junto do punk-hooliganista Edouard Limonov, um ideário inspirado no comunismo clássico e no nazismo. Em suas reflexões autobiográficas, Dugin assume que o Nazbol foi um movimento de transição para a criação do seu neoeurasianismo e da Quarta Teoria Política. Inspirado numa mistura entre misticismo nazi e ocultismo tradicionalista de Renê Guénon, Dugin reinseriu a Rússia em um sonho messiânico do século retrasado, unindo socialismo, nazismo e Nova Era em um mesmo sentimentalismo jovem sedento por resgate de tradições ancestrais, neopagãs e, por que não?, até satanistas. Dugin era um grande divulgador da obra do bruxo satanista Aleister Crowley nos anos 90, e em outra de suas reflexões autobiográficas, admite que já nos anos 80 toda a sua doutrina política estava definida (afastando definitivamente eventuais especulações de que aquilo lá era “só uma fase”).
Muitos porém, incomodados com os vínculos nazistas e satanistas de Dugin, começaram a repetir uma história de que Dugin, na verdade, não tem nenhuma influência sobre Vladmir Putin, sendo o líder russo uma espécie de “atirador solitário”, que age por sua própria luz. Pois bem, há inúmeras formas de demonstrar motivos muito claros para que essa influência se mantenha como discreta. Mas essa não deve ser a opinião de oligarcas russos amigos de Putin, como o monarquista russo Konstantin Malofeev, financiador do think tank de Dugin (Geopolitika.ru) e que compartilha do mesmo diretor espiritual de Putin. Mas digamos que seja verdade.
Em 2005, em um discurso a funcionários do Kremlin, Putin recomendou ardentemente que se restaure a memória russa, recomendando a leitura de autores como Ivan Ilyn, um exilado político antibolchevique que emigrou para a Alemanha e lá se tornou adepto, fã e admirador fascinado pelo nacional-socialismo de Hitler.
No projeto do Mundo Multipolar, nova utopia globalista, o mundo seria dividido em impérios regionais, unidos pretensamente por uma identidade regional e cultural, não mais pela noção padronizada do estado liberal. Isso significa o não reconhecimento das fronteiras atuais e dos valores nos quais a ideia de soberania foi formada no Ocidente. Embora se possa fazer críticas ao modelo ocidental e seus resultados, a anulação dele implicará em evidente destruição de todo tipo de liberdade civil e individual, ainda mais do que está sendo feito por globalistas ocidentais, substituindo-as por critérios regionais, ficando na mão de tiranos locais o destino de seus países e sem uma hierarquia de valores morais que os possa servir de defesa.
O problema do multipolarismo reside em quem deve definir os valores e as tradições: os povos, de acordo com seus meios através das liberdades sempre dificultosas e naturalmente contraditórias, ou nas mãos do tirano imperial pretensamente representante de uma “tradição” eleita por seus parceiros e bajuladores.