Ocupando a 92º posição no ranking de liberdade de imprensa publicado nesta semana pela organização de esquerda Repórteres Sem Fronteiras (RSF), o Brasil ainda permanece atrás de países com situação preocupante, como Butão, Serra Leoa e Moldávia. O mapa é construído a partir de um questionário feito a profissionais de imprensa, que no Brasil se mostraram otimistas após a vitória do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
O ranking oficial do Repórteres Sem Fronteiras pode ser lido aqui. Abaixo, veja a lista da liberdade de acordo com a organização.
O viés de esquerda do ranking fica evidente no resumo apresentado no site da organização, que se refere ao Brasil como tendo recém saído de uma espécie de ditadura na direção de uma recuperação trazida pela eleição de Lula.
Os ataques do ex-presidente Jair Bolsonaro à imprensa duraram até o último dia de seu mandato, ao final de 2022. O novo governo de Lula devolve ao país um clima de estabilidade institucional em sua relação com a imprensa.
O RSF se posiciona ao lado da pauta da “democratização da comunicação”, base da atual agenda de regulação das redes sociais que privilegiará os grandes grupos de comunicação, de quem a organização obteve as respostas de seu questionário.
Mas a violência estrutural contra os profissionais da informação, um panorama midiático marcado por forte concentração privada e o peso da desinformação seguem impondo desafios para a liberdade de imprensa no país.
O Brasil vive situação de risco de liberdades enquanto debate possível aprovação do PL 2630, que segundo críticos, pode devolver o país ao período pré-internet, prevendo graves limitações à interatividade e participação nas redes sociais, dando mais direitos aos grandes grupos de comunicação, de maneira a devolvê-los o monopólio da informação com a justificativa de conter as “fake news”.
Países melhores que o Brasil
Apesar do viés, o relatório acaba admitindo a situação ainda precária de países como a Serra Leoa, país que figura à frente do Brasil em matéria de liberdade de imprensa. Ainda assim, segundo o RSF, o país registra detenções arbitrárias de jornalistas. O mesmo reporta sobre a Malásia, outro país que figura à frente do Brasil, mas cujo governo “dispõe de um arsenal legislativo draconiano para reprimir a liberdade de imprensa”.
O mesmo se diz do Congo, cuja posição 11 pontos melhor que o Brasil, ainda encontra uma situação preocupante, com um quadro de autocensura mediante ameaças de prisão de jornalistas.
Limites metodológicos e viés
O mapa da liberdade de imprensa é feito mediante o questionário enviado a profissionais da imprensa tradicional do país, inseridos em grandes grupos de comunicação. Em geral, jornalistas inseridos nesses grupos tendem a defender o monopólio de suas empresas, além do comprovado viés de esquerda da grande mídia de maneira geral, resultado do aparelhamento político das universidades.
No Brasil, assim como em vários países, o conteúdo dos jornais vem sendo progressivamente determinado por entidades sem fins lucrativos financiadas por grandes grupos cujas pautas não contam com a aprovação da maioria da sociedade, como Open Society Foundations, Ford Foundations, Oak, entre outras, em um modelo de influência midiática que, embora existente há décadas, não costuma ser mensurado por organismos internacionais ou levado em conta neste tipo de ranking.
Os indicadores do RSF dizem analisar o grau de pressão ou repressão estatal e acrescentam ainda “outras organizações políticas”, sem, no entanto, especificá-las.
Dados referentes ao papel do lobby ou advocacy mantido por organizações não governamentais ficaram ausentes das análises. No entanto, em um recente pesquisa publicada pela Sembra Media, ONGs financiadas por grandes grupos internacionais alcançam um grau de mais de 50% de determinação do conteúdo das notícias dos veículos tradicionais (onde trabalham os profissionais entrevistados pelo RSF), conforme apontamos recentemente.
Em análise do estudo do Sembra Media, de 2017, a porcentagem de republicação do seu conteúdo das ONGs na grande mídia foi de 66%. Já em 2021, a taxa chegou a 72%.
O otimismo dos jornalistas em suas respostas para o Brasil, que subiu posições, é facilmente explicável pela profunda oposição mantida pela imprensa ao governo anterior, marcado pela criação de escândalos envolvendo até mesmo compras de leite condensado pelo governo, uso de máscaras, menção a medicamentos e, mais recentemente, carteirinha de vacinação do ex-presidente.
Jornalistas vêm progressivamente se declarando apoiadores do atual governo. Como é o caso de agências de checagem, cuja maior parte do conteúdo se baseia em defesa do regime petista e perseguição a críticos através de monitoramento de redes sociais.