Muita gente conhece a origem nazista e racista da pauta da legalização do aborto como uma mera fundamentação histórica, perdida e abandonada no passado. No entanto, há muitos elementos para sugerir que essas raízes estejam, na verdade, mais presentes do que se imagina. Além do aborto, essas raízes sugerem ainda uma nem tão nova explicação que vincula o racismo esotérico à ideologia de gênero.
Na verdade, Margaret Sanger, a famosa antropóloga e ícone do feminismo fundadora da Planned Parenthood, não foi somente uma eugenista e racista convicta devido ao pensamento da época, influenciado pela doutrina evolucionista e higienista da medicina. O racismo das suas ideias teve mudanças, mas foi se ampliando ao longo do tempo justamente devido ao seu contato com a teosofia, doutrina ocultista criada por Helena Petrovna Blavatsky.
Embora os teosofistas sustentassem objeções ao racismo, mesmo naquela época, um ramo racista começou a crescer. Uma parte dele teria dado origem ao nazismo, na Alemanha, e a outra foi para os EUA. A influência de Sanger na seita da Ku Klux Klan fica mais compreensível se entendermos que a estrutura de raças e sub-raças, as tais “sete raças divinas” referidas por Blavatsky, poderiam ter a sua culminação nos EUA, enquanto os alemães acreditavam que ocorreria por meio dos arianos na Alemanha. O ramo racista foi obviamente sufocado após a Segunda Guerra por motivos óbvios. Mas segundo vários estudiosos do assunto, a narrativa apenas mudou de aparência para se travestir de termos mais amenos. O âmago da crença na superioridade racial, porém, pode ter permanecido muito vivo. É o que sugere o artigo do escritor italiano Massimo Introvigne.
Foi seguindo o esoterismo de Blavatsky que os ocultistas alemães concluíram que o cristianismo iria poluir a Alemanha com a sua influência judaica, o que explica o resgate do pangermanismo ancestral por meio do paganismo e das runas (símbolo da SS) nórdicas como forma de atingir as “raças divinas”. Para Sanger, essa raça surgiria nos EUA.
Outro ramo teosofista ligado ao alemão Rudolf Steiner deu vazão a uma crença do messianismo russo, uma das bases da doutrina política de Aleksandr Dugin, considerado influente na política externa de Vladmir Putin.
Ouça abaixo a história contada no último episódio do podcast Observadores desta semana.