A desconfiança e a descrença do brasileiro em relação ao governo e à situação econômica caiu nada menos do que 15 pontos percentuais desde o ano passado, apontou a pesquisa da consultoria norte-americana Edelman Trust Barometer deste ano. Trata-se de uma continuação do relatório do ano passado, que já colocava o Brasil entre os que menos confiava nas notícias, juntamente com a Rússia, país em que o governo controla, vigia e prende jornalistas que criticam o governo. A Rússia, porém, ficou de fora do relatório deste ano.
O relatório, que pode ser lido na íntegra, traz uma maior confiança do brasileiro em empresas e ONGs do que na mídia e no governo. A confiança nos governos tem uma média mundial de 51% e caiu em 14 países. Os países com governos mais autoritários lideram a lista dos que menos confiam nas instituições, entre eles a China (89%) e Emirados Árabes Unidos (86%). Na outra ponta, estão países que vivem graves crises políticas e econômicas, como África do Sul (22%) e Argentina (20%).
A confiança na mídia, por sua vez, caiu em 16 dos países pesquisados. A China, onde a maior parte da imprensa é controlada por Pequim, lidera a lista, com 79% de confiança. Na outra ponta está a Coreia do Sul, com apenas 27%. A média global é de 50%. A confiança em ONGs se mantém, um fator que mostra o desconhecimento sobre as fontes das notícias, já que os jornais não são tão confiáveis. Como mostrou um relatório recente divulgado pelo EN, as ONGs são as principais fontes dos jornais no Brasil e no mundo.
Líderes de ONGs e professores também são vistos como os únicos agentes unificadores da sociedade pelos brasileiros, enquanto pessoas ricas, autoridades governamentais e jornalistas são considerados personagens que dividem a sociedade e distanciam as pessoas.
O instituto de pesquisa não quis pesquisar a Rússia, uma forma de boicotar o país envolvido na invasão da Ucrânia. Isso, porém, deixa de fora os dados sobre confiança na mídia, o que vinha caindo em relatórios anteriores. No ano passado, a menor confiança na mídia, no mundo, se deu na Rússia, onde a imprensa livre é cada vez menor e mais censurada pelo governo, o que teve aumento após o início da guerra da Ucrânia, quando jornais passaram a ser vigiados quanto à maneira de tratar a invasão militar. No país governado por Putin, apenas 29% das pessoas confia nos meios de comunicação. Nesta segunda-feira, um jornalista opositor de Putin foi preso por criticar a invasão à Ucrânia.