Diversos estudos já se debruçaram sobre as possíveis causas de ataques em escolas por crianças, adolescentes e jovens. Problemas mentais, psicossociais e outros são, em geral, suscitados como agravantes ou determinantes. Mas o que dizem os especialistas e como podemos elencar os fatores de maior potencial danoso aos jovens nos últimos anos?
Uma série de imposições feitas a crianças nos últimos anos pode ter um efeito determinante no aumento da ansiedade, depressão e, consequentemente, comportamentos violentos que levam a fugas para alternativas de identificação nem sempre saudáveis. Entre elas estão a imposição do isolamento na pandemia, responsável por grande aumento de casos de depressão, conforme estudos. Além disso, o apelo de ideologias que são impostas como conteúdo de disciplinas nas escolas e oferecidos como modelo de novas identidades, como a ideologia de gênero, amplamente defendida na atualidade.
Problemas mentais ou ambientais?
Ao contrário do que imediatamente se pensa diante das cenas terríveis dos massacres contra crianças indefesas ocorridos em escolas, a doença mental ou psicopatia não está entre as causas mais comuns, de acordo com psicólogos e pesquisadores que estudaram o perfil de vários agressores deste tipo ao longo dos últimos anos. No entanto, nos casos em que há doenças ou vulnerabilidade mental precedente, os efeitos ambientais e sociais têm o poder de potencializar, levando a níveis imprevisíveis.
Segundo os estudos sobre violência adolescente, fatores ambientais e traumas, ligados à estrutura familiar ou condições atípicas, como a que levou jovens ao isolamento forçado e estresse emocional durante a pandemia, reúnem mais chances de levar a comportamentos como os que tem sido observados nesses casos de violência.
Desde 1955 até 2011, foram 66 ataques no mundo e estudos estimam que, nos EUA, onde ocorreram mais casos, mais de 160 mil estudantes faltam aulas com medo de situações humilhantes, revelou Timothy Brewerton, psiquiatra que tratou de alguns dos estudantes sobreviventes do massacre de Columbine, que matou 13 pessoas em 1999 nos EUA.
Embora fatores psiquiátricos subjacentes possam levar a casos extremos como estes, os fatores sociais e condições ambientais têm grande poder de transformar crianças e adolescentes, afetando a sua afetividade, sociabilidade, levando a fugas para caminhos perigosos de comportamento violento. Isso pode levar a problemas mesmo entre pessoas consideradas saudáveis.
“O que sabemos é que mesmo pessoas biologicamente saudáveis podem desenvolver problemas assim quando submetidas a condições adoecedoras, ou quando inseridas numa cultura doente, pelo fato de que nossas crenças, nosso modo de interpretar e compreender a realidade não é algo imutável, fixo, rígido”, explica o doutor em Psicologia e professor do Instituto Federal de Goiás Timoteo Madaleno Vieira, autor de um artigo em que revisou dezenas de estudos internacionais sobre o perfil dos atiradores e concluiu que classificá-los como psicopatas ou doentes pode ser impreciso.
Bullying e o tratamento ao tema
Uma dessas condições ambientais e sociais de grande estresse e pressão psicológica é o bullying, conforme apontam os estudos, que representaram 87% dos casos associados a ataques nos últimos anos. Em um segundo nível, o próprio assunto leva a uma comoção que nem sempre ajuda, além da exploração do tema para fins ideológicos. O bullying começou a ser estudado na década de 70 por psicólogos e, desde então, tem sido tema de debates, reportagens e estudos. A maior atenção ao tema também produz efeitos nos jovens sobre a condição social de estudantes, o que antes de virar tema de estudo era visto com normalidade e, em geral, enfrentado de maneira diferente.
O sociólogo norte-americano David Riesman, em sua célebre obra A multidão solitária, fala de mudanças de caráter social predominante, determinadas pelo crescimento, estagnação ou redução populacional. Segundo a sua análise, houve períodos históricos em que o caráter social era determinado de dentro para fora, com o chamado caráter “introdirigido”, o que deu sequência posterior ao que vivemos atualmente, o denominado “alterdirigido”, isto é, dirigido ou orientado pelo entorno social. Isso deu ao bullying um papel mais relevante na formação da personalidade.
A temática do bullying foi apropriada nos anos recentes por agendas identitárias, que exploram situações de conflito, vitimização, para ampliar e avançar ações jurídicas de interesse dos grupos envolvidos a partir de um reforço ao pertencimento de novas identidades. Crianças e adolescentes se vêem no centro da questão, cujos efeitos psiquiátricos não são de interesse desses grupos ideológicos que exploram suas vidas, com reportagens, disseminação de vídeos e imagem, nomes e histórias de menores ou pessoas vulneráveis como forma de promoção de suas agendas.
Pandemia
Entre essas condições sociais a que crianças ficam expostas, a ansiedade é um dos fatores de risco para o desenvolvimento de isolamentos, indiferença e comportamentos agressivos. A pandemia ofereceu grande condição para este tipo de problemas em crianças, que foram deixadas de lado em nome de um bem coletivo duvidoso, amparado pela politização de temas sanitários nos jornais.
De acordo com um estudo publicado pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), uma em cada quatro crianças e adolescentes ouvidos apresentou ansiedade e depressão em níveis clínicos durante a pandemia. Isso significa que houve necessidade de intervenção e tratamento por especialistas, o que foi, porém, negligenciado amplamente durante o período. Esses dados foram apresentados à Comissão Externa de Enfrentamento à Covid-19 da Câmara dos Deputados, em junho de 2021, pelo coordenador da pesquisa, o psiquiatra de crianças e adolescentes Guilherme Polanczyk. A pesquisa monitorou a saúde mental de 7 mil crianças e adolescentes de todo o país desde junho do ano passado. Polanczyk salientou que a pandemia é uma situação de estresse que pode levar ao desenvolvimento ou ao agravamento de transtornos mentais em indivíduos suscetíveis. Os efeitos piores são esperados em crianças mais vulneráveis.
Problemas familiares e ideologia em escolas
O caso recente da atiradora trans que matou seis pessoas, entre elas três crianças, em uma escola cristã de Nashville, EUA, chamou a atenção para o problema da ideologia de gênero como fator estimulador de violência nos últimos anos. O ódio ao conceito natural de família, visto como raiz de preconceito e abusos, tem produzido frutos desastrosos ao longo dos anos. Ativistas assumem o desejo de “destruir a família”, enquanto jornais e revistas especializadas tratam como “teoria conspiratória da extrema-direita” e mantém o estímulo à imposição dessa ideologia em salas de aula para crianças cada vez menores.
O desejo de remodelação da estrutura familiar natural também encontra eco na violência de gênero contra cristãos e famílias tradicionais, mulheres grávidas ou com crianças que são hostilizadas por gays militantes em ambientes públicos, entre outros problemas, começaram a ser verbalizados após o ataque em Nashville. Isso chamou a atenção para problemas provocados por condições sociais muitas vezes resultado de uma atividade de grupos de interesse e que explora o sofrimento e as situações difíceis de crianças e jovens vulneráveis.
Um estudo, desenvolvido pela especialização em psicologia da Universidade do Ceará, mostrou como os problemas ligados à estrutura familiar podem gerar problemas ligados à afetividade, geradores de outros problemas.
Entre os problemas, a pesquisa elencou a “separação, o desemprego e os diferentes modelos de organização familiar”, com ênfase para este último, que contou com o crescente incentivo por parte de meios de comunicação ligados a grupos de pressão para a imposição de ideologias que reforçam modelos alternativos e condutas sexuais destoantes com o sexo biológico como disciplina escolar.
Ao propor novas identidades, colocando-as contra todo o resto da sociedade a partir de uma condição de “luta social”, os promotores do identitarismo substituem o papel desagregador e pressionador do bullying e conduzem ao aumento da ansiedade.