A suspensão ou abandono das vacinas da Astrazeneca e da Jansen, no Brasil, ocorreu em dezembro de 2022, através de uma portaria do Ministério da Saúde que não recomendava as vacinas de vetor viral como reforço. O fato foi divulgado somente agora, dois anos depois das primeiras denúncias que levaram familiares de vítimas, jornalistas e médicos a serem difamados pela grande mídia.
Publicada em 27 de dezembro, a portaria dizia que “do total de 40 casos prováveis e confirmados de Síndrome de Trombose com Trombocitopenia distribuídos por dose de vacina para covid-19, notificados no e-SUS Notifica Brasil (excluindo-se São Paulo), 34 foram atribuídos à vacina da AstraZeneca”.
De acordo com o documento, “os incidentes foram registrados entre janeiro de 2021 e 17 de setembro de 2022. A maioria deles ocorreu cerca de duas semanas após a vacinação”. A mudança, feita discretamente, não foi notada pelos checadores de fatos que costumavam chamar de “antivax” quem mencionasse os riscos ao longo da pandemia.
Os casos de trombose começaram a ser mais amplamente denunciados em abril de 2021, por agências europeias após a confirmação da associação com as vacinas. Ainda assim, no Brasil não houve ação das autoridades sanitárias. Agências de checagem e o clima persecutório gerado pelos jornais impedia que as denúncias fossem feitas, censurando e rotulando jornalistas e médicos como “antivacina” ou “negacionistas” que ousassem dar a informação.
A campanha de difamação midiática contra as denúncias agora confirmadas obteve a proteção de médicos e autoridades sanitárias, como a então presidente da Fiocruz, Nísia Trindade, que hoje é ministra da Saúde: como presidente da entidade, a médica decretou sigilo de 15 anos sobre as negociações entre a instituição e a farmacêutica Astrazeneca.
“Depois de ser suspensa em mais de 18 países, a vacina da AstraZeneca é silenciosamente retirada dos postos de saúde pelo governo da Austrália. Já no Brasil, a mulher que decretou sigilo de 15 anos no contrato da AstraZeneca com a Fiocruz virou ministra da saúde”, criticou a jornalista Paula Schmitt, uma das que denunciou o problema na época e foi tachada de “negacionista”.
Os “negacionistas”
O caso do advogado Bruno Graf, morto apenas 12 dias após ter tomado a vacina da Astrazeneca, teve a causalidade confirmada por laudo médico, divulgado no site Estudos Nacionais à época. Ainda assim, sua mãe, Arlene Graf, que passou a denunciar o silêncio sobre o assunto, foi rotulada de antivacina e de espalhar “fake news” enquanto tentava alertar outros pais para que não sofressem o que ela sofreu. Ela chegou a ter a conta do Twitter suspensa por divulgar os riscos da vacina que agora foi abandonada pelo governo devido aos riscos de trombose e AVC, causa da morte de Bruno Graf.
Poucos jornalistas tiveram coragem de denunciar o caso dos Graf. Entre eles estão o comentarista Guilherme Fiuza e a jornalista Paula Schmitt, que escreveu sobre o caso de Arlene Graf em sua coluna e comentou o caso após a suspensão da vacina.
“A Arlene foi condenada a usar um megafone, literalmente, para poder contar a outras mães que ela perdeu seu filho. Tem um vídeo daquela mãe sozinha, na calçada, tentando ser ouvida. Foi inominável o que fizeram com ela”, escreveu Schmitt no Twitter. Ela escreveu a respeito em sua coluna no site Poder360, com o título O dia das mães e o amor que não morre.
No artigo, a jornalista denuncia a falha grave do jornalismo no tratamento do tema.
Neste mundo de um lado só, Arlene é chamada de “negacionista”, “anti-vaxxer,” “bolsomínia” e todos os outros rótulos que com uma única palavra agem como choque elétrico em humanos de Pavlov. Mas sua história já foi mais do que vindicada. O fato de seu caso ser desconhecido de uma parcela tão grande da população, e de sua versão estar até hoje em cheque, é a prova mais obscena de que a pequena imprensa falhou.
Ex-fake news
Durante todo o ano de 2021, quando surgiram os primeiros alertas, diversos sites e publicações tentaram minimizar os alertas e defender a vacinação em massa, incluindo obstetras.
Em abril de 2021, o secretário municipal de Saúde do Rio de Janeiro, Daniel Soranz, garantiu que as vacinas Oxford/AstraZeneca e CoronaVac eram seguras, “ao rebater a divulgação de fake news relacionando casos de trombose à vacina Oxford/AstraZeneca”, publicou o site governamental da EBC na ocasião.
“A vacina AstraZeneca é segura. Todas as autoridades sanitárias do Brasil têm reforçado. É um erro alguém deixar de se vacinar por conta da insegurança de tomar a vacina. A AstraZeneca e a CoronaVac são seguras. A gente faz uma forte vigilância vacinal na cidade do Rio de Janeiro de efeitos adversos. A gente não tem nenhuma notificação de casos graves nas pessoas que tomaram tanto AstraZeneca quanto a CoronaVac. A gente aplicou dois milhões de doses das vacinas no Rio, sem nenhuma reação vacinal grave. Sem nenhum caso de trombose”, assegurou.
Até mesmo o renomado médico Drauzio Varela divulgou a perigosa fake news em um vídeo com a infectologia dra. Vivian Avelino. A publicação não tem data, mas o vídeo continua no ar, com o título:
A infectologia dra. Vivian Avelino explica por que as vacinas são seguras mesmo para pessoas com maior risco de trombose
No vídeo, a infectologista afirma que os casos de trombose foram “raríssimos” e recomendou o uso até mesmo para mulheres grávidas, que comprovadamente possuem risco maior de trombose.
Até o momento, não houve registro de pedido de desculpas de agências checadoras por terem classificado os alertas como falaciosos e “desinformação”. Ainda que justifiquem pela pouca informação existente na época, a rotulação de pessoas, perfis, páginas de jornalistas e médicos, alavancou um efeito massivo de difamação que contou com a ajuda de algoritmos de redes sociais para reduzir o alcance, trazendo prejuízos para inúmeros profissionais, incluindo médicos e jornalistas que lidam com informações de interesse público.
Ações judiciais
As farmacêuticas poderão pagar caro pelo silêncio e omissão sobre as denúncias, o que contou com a participação ativa de jornais de governos interessados em fazer boa imagem diante da histeria coletiva por vacinas alimentada nas notícias. Diversas ações judiciais já estão em andamento desde 2021.
Em maio de 2021, a jornalista e apresentadora britânica, Lisa Shaw, da Radio Newcastle, morreu uma semana após sua primeira dose. Um legista determinou em agosto do mesmo ano que a mulher de 44 anos havia morrido de uma “trombocitopenia trombótica induzida por vacina”, uma condição rara ligada à vacinação.
O viúvo de Lisa, Gareth Eve, diz ter tentando contato com o governo, deputados e três primeiros-ministros do país, mas que ninguém deu atenção, o que motivou Eve a iniciar os procedimentos legais contra a empresa, o que fará junto de um grupo de pessoas que se juntaram para processar a AstraZeneca, após a morte de familiares associada a efeitos secundários da administração da vacina.
Na Alemanha, segundo o jornal Die Welt, 185 pessoas estão processando algumas empresas farmacêuticas responsáveis pela vacina. O primeiro julgamento dos casos está marcado para acontecer em julho de 2023.