O mundo ocidental ficou chocado com a recente polêmica envolvendo um vídeo em que o considerado líder espiritual, Dalai Lama, beija uma criança. Celebridades, como a apresentadora Xuxa, pediram a prisão do tibetano e as redes sociais foram varridas por uma onda mista de decepção e indignação.
Conhecido por ser dissidente do regime comunista da China, no Tibet, Dalai Lama já fez, no passado, declarações elogiando o marxismo, embora nos últimos anos tenha sido acusado por chineses e russos de ser um “agente secreto da CIA”.
Já há 20 anos, em 2003, o filósofo Olavo de Carvalho comentou uma declaração do líder espiritual em que o tibetano se dizia “meio marxista e meio budista”.
Tenzin Gyatso, o Dalai-Lama, pode imaginar-se o que bem entenda, ou metade do que bem entenda, mas, para mim, a partir dessa declaração, é impossível não pensá-lo como meio mentiroso, meio idiota. O sujeito está exilado há cinqüenta anos e ainda mente em favor da ideologia que o expulsou, que matou um milhão de seus compatriotas e que fez tudo para destruir a tradição budista no Tibete.
No artigo O Dalai-Lama adere, o filósofo notou a contradição entre a perseguição pelo regime chinês e o elogio à ideologia revolucionária e apontou o erro cometido na declaração pública do Dalai Lama.
Quem quer que tenha lido Karl Marx e os teóricos do liberal-capitalismo sabe que, nestes últimos, as preocupações morais vêm em primeiro lugar, enquanto naquele estão ausentes por completo. De John Locke a Bertrand de Jouvenel, de Adam Smith a Alain Peyrefitte, de Aléxis de Tocqueville a Russel Kirk, a justificação do capitalismo é de ordem essencialmente moral. Já Marx não esconde seu desprezo por leis morais de qualquer espécie, às quais nega toda substancialidade, fazendo delas meras superestruturas da economia, isto é, discursos de legitimação do interesse de classe, seja escravista, feudal, burguês ou proletário. Só o que Marx alega contra o capitalismo é que, a partir de um certo ponto, ele freia o desenvolvimento dos meios de produção que ele próprio criou, isto é, se torna improdutivo. Não é um argumento moral, é econômico, histórico e técnico. Ademais, é falso: o que freia o desenvolvimento das forças produtivas é a burocracia estatal socialista (que o digam nossos 41% de impostos).
O professor Olavo de Carvalho comentou o seu artigo em outra oportunidade, durante a gravação do curso História Essencial da Filosofia, ministrado no Paraná, também em 2003, enquanto morava em Curitiba, e pode ser visto no link abaixo.
O fato é que após a divulgação do vídeo que causou indignação nas redes sociais, perfis de celebridades e sites noticiosos passaram a repercutir informações e postagens que elogiavam o papel da China como força “moralizadora” do Tibet.