Um relatório publicado em dezembro de 2022, com 51 páginas e hospedado no site da ONG Campanha pela Educação, busca associar o fenômeno de ataques em escolas à ascensão da direita e de conservadores nas redes sociais. O documento, que já circula nas redes sociais ligado ao massacre ocorrido nesta quarta, foi apresentado na transição do governo petista e pode ser utilizado como arma política contra o discurso opositor da esquerda.
O plano de criminalizar a direita por meio de associações falsas já vem sendo implementado por influenciadores da esquerda, como Janones, Flávio Dino, além de jornalistas da grande mídia que imediatamente após o ocorrido passaram a associar de maneira forçada a tragédia aos seus desafetos políticos. Mas o documento, descoberto e divulgado pela comentarista Steh Papaiano, pelo Twitter, pode ser lido neste link, e dá tanto aos políticos quanto aos jornais o fundamento teórico para implementar esse objetivo.
O relatório elaborado no ano passado foi publicado após o ataque a uma escola em Suzano. Sob a justificativa de combater extremismo e ao neonazismo, o relatório amplia o espectro para incluir discursos conservadores e mira influenciadores e até deputados da oposição petista. O documento não esconde a intenção de influenciar em medidas de criminalização da opinião conservadora, associada pelos autores a ideias nazistas e fascistas.
O relatório diz em seu resumo executivo:
O primeiro objetivo deste relatório é apresentar como esses ataques violentos às escolas está relacionado com um contexto social imerso na escalada do ultraconservadorismo e extremismo de direita no país e a falta de controle e/ou criminalização desses discursos e práticas, bem como de sua difusão através de meios digitais. Em segundo lugar, este relatório pretende apresentar subsídios para ações governamentais efetivas.
A associação feita pelo documento entre conservadorismo e discursos extremistas se dá por meio de jogos de palavras sem a sua devida conceituação e se vale da autoridade de órgãos internacionais como as Nações Unidas e a Unesco.
A preferência pelo uso do termo “extremismo de direita” – em vez de, por exemplo, “radicalização” se dá por dois motivos: primeiro, é o termo que vem sendo utilizado pela literatura especializada e pelo sistema da Organização das Nações Unidas (ONU). Segundo, a definição deste fenômeno está pautada na concepção de que a extrema-direita fundamenta-se em perspectivas políticas que incluem a defesa de um pensamento deturpado de “lei e ordem”, da justificação do abuso da força policial como solução estrutural para “o problema de violência”, do antiparlamentarismo, do antipluralismo, da perseguição a qualquer pensamento de esquerda, do racismo, da misoginia e da xenofobia.
No trecho seguinte, fica evidente a justificativa para a perseguição das ideias e não dos atos, o que é feito através da escolha de termos como “extremismo de direita” ao invés de “terrorismo”.
É importante não tratar como “terrorismo” todos os casos de cooptação de adolescentes pelo extremismo de direita, pois ao focalizar exclusivamente na prevenção de atentados, exclui-se a possibilidade de prevenir que adolescentes sejam cooptados por grupos e discursos de extremadireita que não necessariamente incentivam o cometimento de atos terroristas.
É necessário compreender que o processo de cooptação pela extrema-direita se dá por meio de interações virtuais, em que o adolescente ou jovem é exposto com frequência ao conteúdo extremista difundido em aplicativos de mensagem, jogos, fóruns de discussão e redes sociais.
Alguns truques retóricos são bastante conhecidos, como a mistura entre racismo e feminismo, transformando em crime e em misoginia a mera crítica aos discursos violentos do feminismo ou a mera oposição às pautas como aborto e imposição do ensino das ideologias de gênero para crianças.
Nessa linha, o documento chega a dizer que “parlamentares da direita criam projetos para impedir a diversidade nas escolas”, uma clara manipulação que visa associar a oposição à imposição ideológica a crianças como se fosse um tipo de cerceamento à diversidade. Pais e familiares ficam sem qualquer liberdade ou direito à diversidade de suas crenças diante da imposição da ideologia, mas o relatório consegue distorcer pra criminalizar justamente quem visa proteger os direitos das famílias.
Com isso, o documento mostra o anseio de criminalizar mais do que um espectro político, mas a mera crítica à esquerda e suas pautas comportamentais, que na concepção deles deve gozar de consentimento obrigatório.
Apesar da politização evidente, o relatório chegou a alcançar aspectos mais profundos, embora de maneira superficial, ao citar grupos como o Nova Resistência, abertamente opostos aos conservadores, mas sem mencionar os vínculos formais do grupo com movimentos ligados ao ideólogo Aleksandr Dugin, como vem sendo denunciado neste site há alguns anos.
Ao final do documento, consta uma lista de links com matérias citadas no texto, que dissemina teorias conspiratórias conhecidas pela esquerda, como a de que o impeachment de Dilma Rousseff, em 2016, foi um “golpe”. Isso nos permite compreender toda a ênfase dada no documento aos grupos e discursos conservadores, uma vez que o pressuposto da pesquisa feita é de que toda a onda de violência que tem sido vista, culminando com os ataques às escolas, faz parte de um processo que tem o “golpe de 2016” como princípio e fato iniciador, seguido da prisão considerada ilegal e política, do presidente Lula, em 2017.
Quem redigiu o documento
A autoria do relatório está disponível na parte final, onde são listadas 13 autoras, em sua imensa maioria ligadas a ONGs que são mantidas por recursos de grandes fundações apoiadoras de pautas da esquerda ultraradical, como gênero e aborto, dentro do Brasil.
Uma delas é Andressa Pellanda, que é coordenadora geral da Campanha Nacional pelo Direito à
Educação e integrante da Rede de Ativistas pela Educação do Fundo Malala no Brasil, entidade financiada por entidades polêmicas como a Fundação Bill e Melinda Gates, ligada tanto à defesa do aborto em países africanos como à indústria farmacêutica. No relatório, a pesquisadora é associada a “Pesquisa arquitetura de governança e complexo de regimes da educação, grupos de interesse, advocacy e políticas educacionais, especialmente as temáticas educação política”.
Entre as autoras também se incluem jornalistas de agências de esquerda, como El Coyote, e Daniel Cara, um dos coordenadores que fez parte da equipe de transição do atual governo Lula-Alckmin.
Todos os pesquisadores autores do relatório podem ser classificados como pertencentes à esquerda política, acadêmica e cultural, o que demonstra o interesse na associação entre o discurso conservador e o extremismo violento com fins na criminalização do contraditório.
O documento foi publicado no site da ONG Campanha Nacional pelo Direito à Educação, uma plataforma que surgiu em 1999, impulsionada por um conjunto de “organizações da sociedade civil” (ONGS financiadas no exterior) que participaria da Cúpula Mundial de Educação em Dakar (Senegal), no ano 2000. O objetivo da Campanha era “somar diferentes forças políticas, priorizando ações de mobilização, pressão política e comunicação social, em favor da defesa e promoção dos direitos educacionais”.
Em outras palavras, a ONG mantida e apoiada no exterior se dedica ao famoso “advocacy”, palavra bonita para ativismo político de esquerda direcionado às estruturas governamentais como o Legislativo e principalmente o Judiciário.
Uma das bandeiras da campanha é a “educação laica”, termo que para o jargão esquerdista dominante significa restrições crescentes ao ponto de vista religioso, ao ensino da religião e à própria influência cristã na sociedade.
A rede é fundadora da Campanha Global pela Educação (CGE), da Campanha Latino-Americana pelo Direito à Educação (Clade) e idealizadora e fundadora da Rede Lusófona pelo Direito à Educação (ReLus). A governança da Campanha é sustentada por um Regimento Interno e suas políticas por uma Carta de Princípios.
Confira abaixo a análise completa do documento pela comentarista Steh Papaiano, que descobriu o relatório como base de reportagem da Folha de S. Paulo.