O ataque que matou 4 crianças em Blumenau (SC) nesta quarta-feira (4) está longe de ser um fenômeno isolado. O jovem de 25 anos confessou que o massacre era parte de um desafio online e que haveria outros. Ele fez uma postagem nas redes sociais após o ocorrido para comprovar que cumpriu o desafio.
Aparentemente, um certo ressentimento social e indiferença com valores morais ajuda a explicar o problema, o que o constante patrulhamento ideológico aprofunda e instrumentaliza. Imediatamente após o massacre, o ex-deputado Jean Wyllys culpou os evangélicos pelo ocorrido, aproveitando-se do sofrimento das famílias para reduzir o problema ao seu mundo de disputas narrativas.
De acordo com a polícia, o ataque ocorrido em Blumenau se insere no período crítico de 14 dias após massacres em escolas, que é quando surgem potenciais imitadores. Pelas semelhanças no uso de arma branca, especialistas dizem que o atentado imita o massacre de outra creche, em Saudades, também em Santa Catarina, em 2021.
Há poucas semanas, uma ativista trans entrou em uma escola cristã, em Nashville, matando seis pessoas, entre crianças e adultos. A designer gráfica Haudrey Hale, que se dizia homem e passou a se chamar Aiden Hale, foi a responsável pelo massacre. Ela pedia aos colegas que a chamassem pelos pronomes masculinos. Imediatamente, ativistas trans acusaram a escola de provocar o massacre, ou seja, as vítimas.
Há menos de uma semana, em Inhumas, Goiás, estudantes começaram a escrever ameaças na parede do banheiro de uma escola. Nas redes sociais, estudantes combinavam ataques também em Iporá e Campos Verdes.
A delegada responsável pelo caso, Silvana Nunes, disse à imprensa que a partir da ameaça em Inhumas foram identificados mais dois supostos ataques em Iporá e Campos Verdes. Os alunos estavam combinando os massacres pelas redes sociais, como uma espécie de desafio, disse a delegada.
Após o aviso do massacre, a polícia começou a monitorar as redes dos adolescentes, um deles com 13 anos. Foram identificados nada menos que 49 estudantes, sendo que três assumiram a ameaça. No final, eles alegaram que tudo não passou de uma brincadeira e que nada iria ser feito.
“Um tem perfil em rede social onde se intitula como ‘faccionado’. Essa geração é virtual. Eles combinavam essa ação conjunta por meio de rede social, como se fosse um desafio de ataque a três escolas”, disse a delegada, que esclareceu ainda que as ações foram despertadas por conversas entre os adolescentes em aplicativos, mas não foram revelados quais os aplicativos.
No caso de Blumenau, o massacre foi levado a efeito, matando 4 crianças e deixando outras feridas. A única informação sobre a motivação do ataque foi dada pelo próprio criminoso, em sua referência ao suposto desafio online, também sem revelar em que rede social ou aplicativo se davam essas conversas.
O ataque em Blumenau utilizou uma machadinha, arma que não tem sido incomum neste tipo de ataque. Em 2019, outro homem também usou a mesma arma contra crianças em uma escola em Charqueadas (RS).
Ódio e confusão moral em ebulição
A circunstância ligada à polarização ideológica tem certamente uma ligação profunda com a situação na qual se encontram jovens cada vez mais conectados à internet e, consequentemente menos conectados às pessoas concretas em sua volta, como familiares. De um lado, a mídia e a cultura dizem que há um preconceito naturalizado contra quem é ou pensa ser diferente. Do outro, pensar diferente da maioria é proibido e pode levar à total execração pública. Não é difícil imaginar que os adolescentes que se encontram na internet para falar livremente de gostos e preferências vão ficando, aos poucos, mais fechados em seu próprio mundo.
Teses como a ideologia de gênero criam uma confusão tão profunda em crianças e adolescentes, ao ponto de apartá-los da própria identidade. Essa perda de identidade é obviamente respondida com ressentimento, confusão moral e, por fim, violência. Uma violência que começa sendo estimulada no próprio discurso. Evidentemente, nada justifica ou desculpa a ação dos terroristas. A maldade humana, que nasce da própria limitação moral, é, porém, reforçada pelo relativismo moral que, de um lado, estimula e, do outro, pune e pressiona para o esvaziamento de toda a identidade. A culpa, inevitavelmente, é do indivíduo e de sua fraqueza. Mas as condições sociais da instrumentalização da juventude para pautas ideológicas é evidente e será um problema cada vez maior quanto mais negada a sua existência.
O caso da emergente violência física vinda de militantes gays é efeito direto do discurso LGBT, marcadamente antissocial e contrário às estruturas naturais como a família, religião e à própria sociedade como ela é, reforçando o anseio por atos de violência. Além disso, a simpatia dos meios de comunicação com essas causas e a proteção jurídica de que gozam favorecem à percepção de impunidade.
Recentemente, uma loja virtual foi flagrada vendendo artigos que pregavam a violência gay contra não-gays, o que no entanto não foi objeto de reportagem ou noticiado por jornais como um contexto relevante frente ao ataque em Nashville.
Em 2018, o então candidato à presidência Jair Bolsonaro foi atacado por um ex-militante do PSOL. À polícia, ele se justificou utilizando os mesmos rótulos associados a Bolsonaro pelos jornais. O criminoso foi declarado psicologicamente incapaz pela polícia.
Recentemente, uma matéria do UOL buscou sondar as razões deste tipo de massacre entre jovens e, apesar da tentativa clara de polarizar ainda mais e culpar a direita ou a “masculinidade tóxica” pelos eventos, trouxe algumas reflexões interessantes.
Psicanalista autor de vários trabalhos sobre o cenário político dos últimos tempos, o professor da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) Tales Ab’Sáber destaca a formação de uma guerra fantasiosa na cabeça desses jovens. “O campo da violência é predominantemente masculino. Isso é uma questão mais profunda dos problemas envolvendo gênero e civilização. O que acontece nesses casos é a produção de uma guerra. É uma cena de guerra sem guerra”, afirma. Da imaginação para as ações reais, como fazer ameaças e planejar ataques, é um passo. Ao que parece, cada vez menor.
Na impossibilidade de culpar as armas de fogo, já que o massacre usou uma machadinha, o especialista preferiu culpar a “masculinidade”. Os jornais apressam-se a identificar as vítimas como mulheres ou gays, muito embora inexista registros de ataques que tiveram esses grupos como alvos preferenciais.
Mas o psicanalista não está totalmente errado quando fala da masculinidade, mas a razão para isso é, ao contrário do que ele diz, a rejeição da masculinidade como valor natural e a progressiva transformação dessa natureza em algo proibitivo, o que aprofunda a sensação de inadequação e comportamentos antissociais em jovens.
Isso é feito por meio de exemplos extremados e violentos, identificando homens de maneira exclusivamente violenta. Essa verdadeira lavagem cerebral de gênero, que é repetida diuturnamente na mídia e principalmente nas escolas para crianças pequenas e adolescentes sem estrutura para lidar com isso, vai convencendo e polarizando de maneira viciada uma dinâmica social, fazendo dos adolescentes potencialmente violentos para adequarem-se ao estereótipo mais próximo de como se sentem. Somado a isso, há o problema do relativismo: a teoria de gênero prega liberdade de comportamento baseada na vontade, no desejo e nas emoções, sem dar instrumentos para que jovens lidem com maus hábitos e sentimentos ruins.
O mesmo se pode dizer do aparecimento de células nazistas, que embora existam há bastante tempo, tiveram o seu papel remodelado com a cooptação de novos movimentos políticos de “terceira posição”, neofascismos, cuja motivação inicial é o desejo de resistência contra a modernidade, que atualmente aparece capitaneada pela esquerda culturalista.
Como os ideólogos, celebridades e políticos de esquerda costumam classificar como fascistas e nazistas os seus opositores, jovens com um profundo sentimento de inadequação acabam se identificando com essas ideologias extremistas para afastar-se dos comunicadores e professores que os fazem se sentir assim.
A guerra cultural ou espiritual, referida pelo psicanalista consultado pelo UOL, passa a ser respondida com um convite ao recrutamento de uma milícia contracultural, de terceira posição e ligada ao “iluminismo das trevas”, cooptada facilmente por antigas correntes que têm demonstrado grande capacidade adaptativa quando associada às posturas críticas da pósmodernidade.
Antiocidentalismo e violência
Após o ataque em Blumenau, um dos grupos admiradores da invasão russa à Ucrânia e seguidores do neofascista e ocultista Aleksandr Dugin, apressaram-se em se afastar das motivações antissociais desses adolescentes, recorrendo à culpa da “americanização” do Brasil.
Mas uma análise rápida das ideias por trás desses massacres, tanto nos EUA quanto na Europa, irá revelar que em sua grande maioria seus atores são anticapitalistas, antiocidentais e antiamericanos, quando não abertamente muçulmanos, assim como os seguidores ideológicos de Dugin, proponentes de uma “guerra civilizacional”.
A resistência violenta contra a modernidade como guerra civilizacional já está presente na própria motivação da invasão à Ucrânia, e é aprofundada permanentemente por grupos de discussão eurasianistas e neofascistas nas redes sociais. Eles tratam o Ocidente como uma “civilização decadente”, enquanto justificam invasões a países como ações “preventivas” e defesa contra uma suposta perigosa ameaça. A Rússia vê, todos os dias, jovens do mundo ocidental sendo recrutados para a guerra real e concreta contra os ucranianos, na qual o regime já sequestrou crianças, separando-as de seus pais, mostrando como a indiferença com a vida humana pode falar alto e seduzir mentes ressentidas e carregadas de ódio.