O governo Lula, através do Ministério dos Direitos Humanos, extinguiu a medalha Princesa Isabel, criada pelo ex-presidente Jair Bolsonaro em dezembro de 2022 para premiar pessoas ou entidades pela luta por direitos humanos e homenagear a libertadora dos escravos.
No lugar da homenagem à primeira mulher a comandar o país, o governo criou o prêmio Luiz Gama, em homenagem ao abolicionista e republicano do século 19, opositor do Império. O governo entendeu que citar uma mulher branca passaria uma “imagem equivocada”.
“Não se trata de afirmar que uma pessoa branca não possa integrar a luta antirracista, mas de reafirmar o símbolo vital que envolve essa substituição: o reconhecimento de um homem negro abolicionista enquanto defensor dos direitos humanos”, diz a secretária-executiva do ministério, Rita Oliveira, ao justificar a preferência pela homenagem masculina à feminina.
O preconceito com a primeira mulher a liderar o país, responsável pela assinatura da Lei Áurea, vem de longa data e veio crescendo em blogs de esquerda que mantém vivo o velho revisionismo republicano contra a “carola”, como era chamada pela elite econômica que ganhava com a escravidão. Historiadores são unânimes quando dizem que a derrubada da monarquia teve grande influência da abolição, o que a família imperial tinha plena consciência.
Luiz Gama foi um ex-escravo que conseguiu atuar como advogado de outros escravos, negociando suas liberdades. É considerado um dos patronos do abolicionismo. Gama foi defensor da gratuidade das cartas de alforria, entre outras coisas. Era republicano e defendia um mundo “sem reis nem escravos”.
Em sintonia com os movimentos racialistas financiados por grupos estrangeiros, no Brasil, Lula preferiu mudar a homenagem. Até o momento, movimentos feministas não reclamaram da troca de uma mulher por um homem para simbolizar a medalha, apesar de algumas falas de Lula consideradas “machistas” já tenham sido alvos de crítica do movimento feminista.
Filha do Imperador, Isabel é considerada a primeira mulher a governar o país, o que fez no período em que o pai viajava à Europa. Católica e profundamente piedosa, segundo historiadores, a princesa era contrária à escravidão e assinou a sua abolição durante o período em que estava no comando do Império. Um processo pedindo a canonização da princesa aguarda apreciação no Vaticano desde 2011.
Além do prêmio da ordem do mérito em homenagem à princesa, durante o governo Bolsonaro a Fundação Palmares também chegou a homenagear a princesa pela assinatura da Lei Áurea, recuperando um costume histórico do Brasil que se manteve durante a maior parte do tempo, sendo gradativamente abandonado.