O livro A farsa Ianomami continua atual mesmo após décadas de trabalho de antropólogos e políticos na defesa da tribo Yanomami e de tentativas de refutá-lo. Lançado em 1995, de autoria do coronel do Exército Alberto Lima Menna Barreto, o livro que difunde a teoria da invenção branca da tribo Yanomami com o objetivo de relativizar a soberania nacional por meio de demarcações de terras indígenas. Tornada questão nacional após o início do governo Lula, através da “descoberta” da crise humanitária que assola a região há décadas, os Yanomamis viraram assunto nacional e não foram poucas as matérias jornalísticas que recorreram ao livro de Menna Barreto, associando-o a uma espécie de cartilha do governo Bolsonaro. O problema é que nenhuma reportagem sobre o tema ofereceu uma refutação suficiente da tese do coronel.
Em 1987, deputados tentaram instalar uma CPI para apurar o tema, que foi denunciado nos jornais. Mas a CNBB, junto do CIMI, conseguiu desconversar e os jornais terminaram acusados de “fake news”.
De acordo com a tese do coronel, a tribo Yanomami teria sido inventada por antropólogos para impulsionar a agenda de demarcações em terras produtivas e ricas em minério.
Desde 2019, início do governo Bolsonaro, reportagens tentam retratar como caricata ou conspiracionistas todas as preocupações com a integridade e os interesses na Amazônia, fazendo-as parecer apenas paranoias militaristas remanescentes do período militar.
Em recente matéria da BBC News Brasil, antropólogos consultados acabaram quase confirmando a tese de Menna Barreto, embora pensassem que a estavam refutando.
“Ele [Menna Barreto] ignora toda a produção antropológica contemporânea a ele. Essa produção mostra que os yanomâmi são um supergrupo e que tem divisões dentro desse supergrupo”, afirma Garcez.
Ora, mas a crítica do autor é justamente a estes antropólogos. Como poderia ele criticá-los e, ao mesmo tempo, ignorá-los? Na verdade, a sua tese é a de que as teses antropológicas contemporâneas a ele estavam embasadas em uma invenção.
Mas continuam os antropólogos:
A antropóloga e indigenista Hanna Limulja explica que os indígenas que compõem o grande território yanomami podem até se referir com outras palavras a seus subgrupos, mas que a consideração deles como yanomami pelos especialistas não é nada arbitrária.
Quer dizer que o fato de os próprios índios se referirem com outras palavras aos seus grupos não indica que essa classificação é arbitrária? Ela indica, pelo menos, que não veio dos próprios índios, mas dos antropólogos, o que não resolve o problema apontado pelo autor no livro, mas apenas o disfarça sob meios retóricos.
“Por que esse povo é considerando yanomami? Porque eles compartilham um território, práticas culturais, uma língua. O yanomami é uma língua isolada, é um tronco, e dentro disso você pode ter variações. Por exemplo, o latim é um tronco, e aí você tem variações como o português e o espanhol, que são próximos”, aponta Limulja.
Mais uma vez, a antropóloga confirma que o critério usado para segmentar ou criar o povo Yanomami é um critério que vem da própria antropologia, isto é, alheia aos indígenas. Já podemos chamar os antropólogos de colonizadores? Essa é uma questão complexa, mas definitivamente não chega nem perto de ser respondida por essas frases que apenas concedem ainda mais verossimilhança à tese de Menna Barreto.
“O fato de a gente catagorizar os yanomami ou não não quer dizer que a gente invente um povo. O povo está lá. A gente o define da maneira que a gente consegue, com nossos estudos, dentro das nossas categorias.”
CPI foi sepultada
Em 1987, os deputados Gérson Peres (PDS-PA) e José Carlos Sabóia (PMDB-MA) tentaram instalar uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para apurar a tese do “estado Ianomami”. Já na época, parlamentares buscavam evitar a CPI dizendo que as demarcações de terras indígenas não afetariam a soberania. Os deputados alertavam sobre o interesse de grandes empresas multinacionais sobre os recursos da região.
Os jornais Estadão e Globo deram ampla atenção para uma denúncia, publicada inicialmente no jornal O Estado de S.Paulo, de 9 de agosto de 1987, repercutida em outros jornais, como O Globo, de 11 de agosto de 1987, que pode ser lido no registro do arquivo do Senado pelo link.
A matéria do Globo diz o seguinte:
“Segundo o jornal está rem marcha uma conspiração, patrocinada pelo Conselho Mundial de Igrejas e pelo Conselho Indigenista Missionário (Cimi), para que seja criado um “Estado lanománi” que afetaria a soberania brasileira sobre o território daquela nação indígena na região Norte do País. A soberania do Brasil seria afetada pela encampação, pela Constituinte, da sugestão enviada pela entidade Juventude Cristã”.
Ou seja, o jornal denunciava a infiltração da sugestão globalista e intervencionista na própria Constituínte, que ocorreria no ano seguinte.
“Na matéria, O Estado de São Paulo afirma que estaria nos objetivos do Cimi “impedir a presença militar, inclusive quartéis e pistas de pouso nas fronteiras onde vivessem nações indígenas”. Este é precisamente a essência do Projeto Calha Norte; com o qual o Exército espera ocupar toda a Amazónia”.
Na matéria, de 1987, a garantia dos membros do governo era que o Estado brasileiro se manteria no controle e que os militares não seriam retirados da região.
Ainda em 1987, o assunto esquentou naquela semana, tendo o então ministro da Justiça, Paulo Brossard, classificado a sugestão do CIMI à Constituinte uma “ameaça à soberania nacional”, em uma declaração noticiada pelo mesmo jornal O Globo daquele ano.
O Ministro da Justiça, Paulo Brossard, classificou como uma ameaça à soberania nacional e ao futuro do
País a proposta de emenda enviada à Constituinte pelo Conselho Indigenista Missionário (Cimi) e o documento de apoio a essa proposta, assinado por 47 mil estudantes católicos da Áustria. Reproduzindo a conversa
que teve anteontem com o Presidente da CNBB, D. Luciano Mendes de Almeida, para debater o tema, Brossard negou que tivesse discutido com o Bispo, afirmando que apenas foi claro e firme na exposição de suas opiniões.
Após a conversa, membros da CNBB foram à imprensa se queixar do ministro por sua grosseria, acusando o jornal Estadão de “fake news” sobre as denúncias de ameaça à soberania e o plano de infiltrar-se entre índios para fomentar uma alteração da soberania.
Para retirar o foco da denúncia, o bispo Dom Moacyr queixou-se de que o governo estaria impedindo o trabalho com índios e reclamou da Funai, dizendo ser “impossível continuar trabalhando”. O CIMI saiu fortalecido deste episódio, apelando ao então presidente Sarney contra a “grosseria” do então ministro. Nos meses seguintes, a CNBB distribuiu uma cartilha com uma teoria conspiratória intitulado “A verdadeira conspiração contra os povos indígenas, a Igreja e o Brasil”, devolvendo a acusação aos acusadores e mudando de assunto, convertendo-se em vítima de maus tratos pelo ministro.
A CPI do “estado ianomami”, que queria ser instalada para apurara as denúncias de infiltração na Constituinte, foi sepultada depois de diversos debates deste tipo, sendo os denunciadores do risco acusados de suspeitos de estarem, eles mesmos, interessados em usurpar o território rico em minério. Hoje diversas empresas lucram com a exploração via ONGs e entidades como o CIMI.
O CIMI é financiado por entidades que recebem dinheiro de grupos controversos e pouco católicos, como a Misereor, mantida por grandes empresas alemãs, além de entidades como a Fundação Bill e Melinda Gates, Fundação Ford, UN Foundations, entre outras, a Embaixada da Noruega, e o fundo Adveniat. Todos eles são mantidos por doações bilionárias.
Algumas das principais empresas alemãs que apoiam a Misereor incluem a Deutsche Bank, a Siemens, a Bayer, a Daimler, a Audi, a Lufthansa, a SAP e a BMW. Organizações não-governamentais (ONGs): A Misereor colabora com várias ONGs em todo o mundo, incluindo a Caritas, a Diakonie, a Kindernothilfe, a Oxfam e a Save the Children. Fundações e organizações de caridade: A Misereor recebe apoio de várias fundações e organizações de caridade, incluindo a Fundação Bill e Melinda Gates, a Fundação Ford, a Fundação Heinrich Böll e a Fundação Konrad Adenauer.