Periodicamente, o jornalismo se vê amarrado a compromissos e dependências, determinações estruturais, políticas ou ideológicas, não raro econômicas, que o definem e o dirigem a determinadas funções sociais. Em um tempo de confusão informativa, desinformação praticada por grandes grupos, a prática jornalística que se pretenda independente deve questionar e propor novas importâncias dentro do quadro geral de omissões e maus hábitos de um jornalismo decadente e moralmente comprometido.
Saber o que de fato importa em uma dada situação é uma tarefa nem sempre fácil e a atividade jornalística usual não dá condições para o julgamento adequado, dada a sua dispersão e simultânea necessidade de adequação linguística, o que acaba impondo uma homogeneização da linguagem e consequentemente das descrições dos fatos. Disso resulta um fenômeno antigo: o efeito pauta sobre pauta, no qual os novos fatos são interpretados conforme um número limitado de interpretações disponíveis e repetíveis.
A inspiração do jornalismo nas ciências naturais deu nisso: enquanto as ciências humanas tendem ao irrepetível e à singularidade histórica, o empirismo dava conta de captar da realidade apenas aquilo que podia ser repetido e, com isso, confirmado, legitimado. A opinião pública frequentemente padece do efeito dessa vigência social quando se afasta ou fica indiferente aos meios tradicionais de apreensão da realidade, como a literatura, as artes etc. Deixada a cargo somente do jornalismo, uma sociedade tende a se esterilizar e a repetir chavões, comportamentos padronizados e, o que é pior, tenderá a perseguir e estigmatizar toda forma de diferença.
É por isso que a missão do jornalismo independente não deve ser adequar-se, muito embora carregue em sua essência a comunicabilidade extrema com o maior número de pessoas, o que demanda óbvia adaptação linguística. Deve questionar os critérios de relevância, mostrando ao maior público e com a maior clareza a verdadeira estrutura de poder e de definições existente. Um exemplo disso foi o governo anterior, que muito embora fosse o centro do poder institucional, não era ele o centro do poder de fato. Se uma das instituições mais caras ao jornalismo é justamente a atenção e o foco ao poder, esse foco e essa atenção deveriam ter sido dirigidos aos verdadeiros atores que hoje se mostram detentores dos reais meios de ação.
Cabe ao jornalismo independente sempre apontar para um fato mais relevante que aquele das manchetes, principalmente quando estas se dedicam diuturnamente a simular uma relevância enquanto ocultam e omitem a verdadeira razão, o real contexto e motivação por trás dos atores mais poderosos, cuja receita de seu poder está justamente na discrição e no segredo de suas ações mais importantes.
Isso nada tem a ver com conspirações ou teses misteriosas, mas com ações, declarações e fatos públicos e notórios que são diariamente deixados de lado por parecerem irrelevantes. O segredo que importa não está escondido às sete chaves em algum grupo, canal do Telegram ou fórum de aficionados, mas apenas ausente dos grande jornais e consequentemente da mente pública e do olhar daqueles que são mais afetados pelas ações discretas do poder constituído.