No filme Adorável Vagabundo (Meet John Doe, 1941), de Frank Capra, uma jornalista movimenta uma cidade inteira ao criar uma falsa história sobre um homem que promete se suicidar na noite de Natal. Para manter as vendas dos jornais, ela e o editor pagam um mendigo para se passar pelo personagem, que acaba se tornando um símbolo da luta dos “John Does” (zé ninguém) por uma sociedade mais justa. Interessado em aproveitar-se politicamente, um poderoso político da cidade alimenta a farsa e conduz o mendigo a uma verdadeira turnê de palestras e agitações sociais. O filme mostra como é fácil criar mitos políticos através de apenas duas forças: o jornalismo e o dinheiro.
Essa história, como diria Marx, se repete como tragédia e, depois, como farsa. A vereadora Marielle Franco não virou símbolo político simplesmente por ter morrido como morreu. Ela se tornou um ícone depois que o PSOL criou a Fundação Marielle Franco, com o dinheiro das fundações Ford, Open Society, de George Soros, e Instituto Ibirapitanga, do cineasta bilionário Walter Salles. Foi graças unicamente a esse aporte financeiro que a vereadora psolista virou rua, livro, fundação e dinheiro na mão para centenas de militantes.
Assim como no filme de Capra, milhares de Marielles passaram a existir mediante um comando que não teria sido possível sem grandes esforços de gente grande. O mito pode ser popular, é verdade. Mas desde que surgiram os primeiros mitos e sua força popular, o dinheiro veio em seguida capitalizar e direcionar a energia para as causas “certas”. Ao final do filme, o mendigo só vê uma forma de parar a indústria política que se formou em torno do seu nome: suicidando-se de fato na noite de Natal. Mas ele é impedido pela jornalista que o criou, quando ela diz que ele não precisa sacrificar-se pelo povo, pois um primeiro “John Doe” já fez isso (Jesus Cristo). Todos os líderes revolucionários buscam uma paródia da imitação de Cristo. Mas o máximo que conseguem é oferecer aquilo que os judeus esperavam da profecia: um líder político, símbolo das insatisfações mundanas que afetava a todos. Aquilo que Cristo veio oferecer, porém, uma água da qual quem beber jamais sentirá novamente sede, nenhum líder revolucionário jamais ofereceu. Muito embora o ideário revolucionário ambicione nada menos que um fim da história e dos sofrimentos.
No caso de Marielle, assim como John Doe, um nome se torna sinônimo de todos. Milhares de John Does, milhares de Marielles. O mesmo se disse quando Lula discursou antes de ser preso: somos todos Lula. Essa tentativa de encarnação forçada de um homem ou mulher em um povo como força única e pessoalizada nada mais é que uma sede de uma água que jamais sacia.
Diz o site da Open Society, que:
“Em homenagem à falecida Marielle Franco, a Fundação Ford, a Open Society Foundations e o Instituto Ibirapitanga anunciam uma iniciativa para fomentar e apoiar mulheres negras que aspiram à liderança política no Brasil. Com uma doação de R$ 3 milhões ao Fundo Baobá, instituição dedicada à luta pela igualdade racial no Brasil, a iniciativa conta com o trabalho da vereadora para ampliar a voz da mulher negra e seu acesso ao poder no Brasil.
O diretor da Open Society no Brasil, Pedro Abramovay, justifica o aporte financeiro pela nobreza da causa.
“Marielle mostrou que uma mulher negra e bissexual da favela pode ter e exercer o poder. Seu assassinato brutal foi uma tentativa de negar essa verdade. Anunciar ao mundo que o Brasil vai produzir novas Marielles é fundamental. Esse fundo garante que as mulheres negras das favelas ocupem espaços de poder e que não haja volta ao tempo em que isso era visto como impossível.”
Ou seja, o dinheiro foi investido para a criação de novas Marielles, uma maneira singela de pregar a simples reprodução fidedigna de um discurso por meio do dinheiro, mas com nobres justificativas emancipatórias. Quem diria que a final libertação dos oprimidos viria pelo dinheiro dos bilionários. Os Psolistas devem chorar de emoção ao pensar sobre isso. Principalmente quando conferem a conta bancária.
Já conhecemos bem a Open Society e seu proprietário, assim como as ideias que ele encarna. O mesmo podemos dizer da Fundação Ford. Mas quem é o tal Instituto Ibirapitanga? Ele pertence ao segundo cineasta mais rico do mundo, o esquerdista Walter Salles, que só perde em fortuna para os lendário George Lucas. Além de Central do Brasil, de 1998, o cineasta também é responsável pelo filme Diários de Motocicleta, que conta parte do diário do guerrilheiro comunista Che Guevara.
Walter é irmão do também cineasta, João Moreira Salles, acionista histórico do Itaú Unibanco. De acordo com um site sobre cinema, que levantou dados sobre a família, além do Itaú, a família também cuida da Companhia Brasileira de Metalurgia e Mineração, maior produtora mundial de nióbio, que fica a cargo dos outros dois irmãos, Fernando Roberto e Pedro Moreira Salles.
Embora não tenha produzido nenhum filme campeão de bilheteria, Walter Moreira Salles Júnior é o segundo cineasta mais rico do mundo, graças ao patrimônio herdado do pai. A Forbes aponta George Lucas, da franquia Star Wars, em primeiro com cerca de US$ 5,5 bilhões. Steven Spielberg (Titanic e A Lista de Schindler) ocupa a terceira colocação, com US$ 3,6 bilhões.
Foi pensando em como gastar de forma esquerdista o seu dinheiro que a família Moreira Salles criou o Instituto Ibirapitanga, unindo-se às famílias Soros e Ford no financiamento para a criação de personagens esquerdistas e sua elevação a mitos evangélicos para a inspiração de políticos de esquerda. Com essas fundações, a esquerda angaria apoio político, apoia a criminalização de críticos e avança em projetos cada vez mais ousados.
Frank Capra retratou não apenas uma possibilidade, como uma tendência dos poderosos no uso da opinião pública para simular uma redenção, sempre representada em um nome que encarne o povo e ofereça alento aos desamparados, favorecendo, ao mesmo tempo, o oportunismo dos políticos profissionais e a manutenção de um estado de graça revolucionário. Este é um dos principais motivos pelos quais o nome do único Redentor que existiu precisa ser esquecido e substituído por esses novos profetas. Aquele que ofereceu a única água que sacia representa a verdadeira libertação contra os que oferecem água a quem tem sede, mas cobra caro pelo acesso ao poço.
Abaixo, o filme mencionado. Vale a pena