A independência é um dos valores do jornalismo. Todo jornalismo precisa ser independente. No entanto, as circunstâncias da atividade de cada veículo pode influenciar nesse valor e torná-lo relativo. Hoje temos o jornalismo tradicional dos grandes jornais e o autointitulado “jornalismo independente” das agências de fact-checking e sites como o Intercept. Mas, afinal, esse jornalismo é mesmo independente? E porque os jornais são considerados menos independentes?
Jornalismo tradicional
O jornalismo tradicional se diz independente de acordo com a política editorial da redação, uma espécie de afirmação que depende da credibilidade social associada ao veículo. Ou seja, um jornal se diz independente e as pessoas acreditam se quiserem.
As críticas a essa suposta independência, em geral, mencionam o fato do jornal ser uma empresa jornalística, que pode ter compromisso com a verdade, mas também tem com o lucro da empresa. Isso, teoricamente, influenciaria na tomada de decisões de um editor-chefe, já que o cargo possui grande proximidade com outros diretores da empresa, fazendo com que haja possível omissão ou preferência por certas pautas.
“Jornalismo independente”
Em vista disso, surgiu recentemente o autointitulado “jornalismo independente”, que busca se distinguir do jornalismo tradicional por uma suposta estrutura de independência e por ser “sem fins lucrativos”. Mas, como para manter uma estrutura mínima para uma redação é preciso dinheiro, esses sites, jornais ou agências, se valem do financiamento do Terceiro Setor. Em resumo, eles criam uma ONG ou entidade semelhante.
Por definição, as ONGs não têm fins lucrativos em seus estatutos. Elas são mantidas por doações, que podem ser de leitores, que são pessoas privadas, ou de empresas, governos e uma variedade de fontes.
Na prática, os maiores e principais doadores de agências e jornais que dizem praticar o “jornalismo independente”, são os mesmos: fundações internacionais como Ford Foundation, Open Society, Oak Foundation, Knight Center, entre outras. Sites especializados em dar consultoria para essas entidades afirmam que a maior parte do financiamento vem, de fato, dessas fundações internacionais de propriedade de famílias e bilionários.
A pergunta é: essas fundações são independentes? Elas possuem objetivos ou princípios que os impediria de publicar alguma coisa ou influenciariam a publicar certo tipo de pauta? A resposta é: óbvio que sim. Mas não é só isso.
As grandes fundações internacionais, que acumulam no mundo um poder financeiro incomparável, possuem pautas bem específicas, todas elas identificadas com a extrema-esquerda, isto é, a defesa reiterada e aberta do aborto, ideologia de gênero, que incluem pautas LGBT, meio ambiente, racialismo, liberação de todas as drogas, entre outras pautas utilizadas pela esquerda há décadas como forma de “explorar as contradições do sistema capitalista”.
Neste caso, o autointitulado “jornalismo independente” não parece tão independente assim. Alguns jornalistas ainda poderiam alegar que, diferente de uma redação empresarial, na qual o editor e diretores fazem pressão direta para repórteres e editores sob a ameaça velada da demissão, o jornalista independente não presta contas diretamente aos financiadores, que além de estarem a quilômetros de distância em outros países, sempre alegam que não interferem nas pautas.
Acontece que, numa rápida pesquisa, qualquer um pode constatar que, para ser aprovado e financiado, um projeto de jornalismo independente precisa se adequar a uma das linhas de financiamento oferecidas pela entidade. Além disso, os contratos são por projetos, por cerca de 1 ano. A fundação financiadora ainda oferece uma “consultoria editorial” para acompanhar o andamento.
Alguém acredita mesmo que um jornalista que trabalha em uma dessas agências iria confrontar a orientação de pauta e comprometer a continuidade do financiamento da agência? Caso isso acontecesse, o jornalista não iria perder o emprego porque o seu trabalho é freelancer. Não há nenhuma garantia empregatícia ou direito trabalhista, já que ele optou por fazer o seu jornalismo independente das malignas empresas.
Por definição, esse tipo de jornalismo propaga a “independência” e a “liberdade” do jornalista para trabalhar por livre demanda, em regime de freelancer, e sem exclusividade (pode atuar em várias dessas agências). No entanto, isso só é verdade para jornalistas de esquerda, que acreditam estar “mudando o mundo” ao fazer reportagens investigativas contra quem tenta impedir abortos ou parlamentares que cometem o “crime” de defender legislações mais punitivas para traficantes.
Afinal, se o jornalismo independente surgiu justamente da crítica das empresas jornalísticas devido a uma dependência financeira empresarial, isso significa que as agências assumem esse risco de influência econômica em sua atividade. Mas a resposta para isso é que elas não ligam, já que a dependência vai para o lado ideológico que as agrada.
Como funciona a “independência”
Outro detalhe que reduz a independência deste tipo de jornalismo, é o fato de que ele pertence a um “ecossistema” de informação baseado no fornecimento permanente de pautas para a grande mídia das empresas jornalísticas.
Os “escândalos”, em geral, começam no site de uma ONG, como o Portal Catarinas, que em 2022 trouxe o caso da juíza que estava dificultando um aborto em uma menina de 11 anos, grávida supostamente por violência sexual. Na sequência, o site The Intercept Brasil repercutiu e, dali, foi para a Folha de S. Paulo ganhando repercussão nacional. Foi a partir dessa repercussão nacional que houve a perseguição à juíza e a “ordem” de uma procuradora do MPF para que o hospital eliminasse o fruto daquela relação entre adolescentes que, até onde se apurou, era consentida.
A matéria do Portal Catarinas, que originou todo o caso, foi escrita não por uma jornalista, mas por uma das advogadas envolvidas no caso, uma feminista que queria usar a menina de 11 e seu bebê para promover a agenda do aborto e favoreces a causa mediante discussão na opinião pública para levar a uma decisão que, ao final, iria aumentar a idade gestacional do assassinato intrauterino mediante jurisprudência.
Este caso resume e demonstra a verdadeira função do chamado “jornalismo independente”.
Portanto, respondendo à pergunta do título, sim, existe jornalismo independente. Mas não falamos dele aqui.