ANÁLISE: A opinião de um povo sobre a morte de um grupo da sociedade não importa para fins de legitimar qualquer lei. Mesmo que 100% fosse a favor da liberação, isso seria apenas mais lamentável.
Agora, esse dado nos serve para certas análises:
1. Em maio de 2002, o DataPoder fez pesquisa e afirmou que (APENAS) 59% do brasileiro seria contra. A pesquisa do DataPoder destoou da maioria das demais pesquisas de opinião feitas anos antes, em que mostram sempre um percentual de rejeição ao aborto na ordem de 70 a 80%. Isso parece-nos um indício de que houve viés na pesquisa do Datapoder. Somente as pesquisas do DataPoder mostram este percentual baixo, inclusive, em 2021 o DataPoder também apurou 58% de rejeição ao aborto, mostrando reprodutibilidade apenas dentro deste Instituto.
2. É estranho que em período eleitoral um candidato que recentemente reafirmou compromisso de liberar o aborto, seja cotado como favorito nas pesquisas para presidência da República, considerando o cenário de 70% da população contrária a essa ideia.
3. Dados de pesquisa de opinião reforçam que o status legal do aborto influencia a incidência. No livro Precisamos falar sobre aborto: Mitos e verdades, comparei prevalência do aborto e a opinião pública sobre o tema e notamos que, em geral, onde há maior percentual da população a favor do aborto, há maior percentual de gestações terminando em aborto.
4. A análise de que a opinião sobre liberação (ética) do aborto afete sua incidência além de ser bastante lógica, também encontra respaldo em uma pesquisa acadêmica brasileira, que inclusive possui um viés pró-liberação do aborto, quando se analisa em profundidade o texto. Trata-se de uma dissertação de mestrado feita em São Paulo, em que a pesquisadora percebeu isso e inclusive calculou a probabilidade das mulheres favoráveis a liberação do aborto, de cometerem um aborto. Calculou-se que ser favorável ao aborto aumentou de 6 a 27 vezes a propensão de cometer um aborto clandestino no Brasil. Se é assim no contexto de aborto criminalizado, com difícil acesso e maiores riscos, tudo leva a crer que o comportamento é similar onde a prática é legalizada e supostamente com menores riscos (de ser presa e de ter complicações pelo aborto).
5. Assim, pode-se concluir que o manejo e a manipulação de dados acerca do tema, na mídia e no debate público como um todo, possam afetar a opinião pública, a opinião de homens e mulheres. Por isso, promover ou desestimular o aborto como proposta legislativa, afeta sua incidência, de aborto clandestino ou legal. O estímulo ao direito ao aborto pode portanto, expor mais mulheres e seus bebês ao risco de aborto (clandestino), já que convencendo-as, elas têm maior propensão a cometê-lo. Uma política de desestímulo da proposta legislativa de liberação do aborto poderia ser vista como um meio para reduzir abortos clandestinos e promover a tal falada saúde reprodutiva.