Partiu no último dia 24 de janeiro o professor de todos nós, Olavo de Carvalho. Conhecido por sua intrepidez e irreverência, é adorado por milhares de alunos em todo o Brasil, também no exterior e, dele, o que mais se ouve contar resume-se na seguinte frase: o professor Olavo salvou a minha vida.
E é fato, o professor Olavo salvou a vida de muita gente. E continuará salvando. Na verdade, ele salvou a vida do povo brasileiro, ele salvou a vida da cultura no Brasil, ele despertou milhares de inteligências e consciências, ele aguçou o senso crítico e o espírito de liberdade em cada um de nós, ele subverteu a lógica do monopólio do discurso. Ele, sozinho, derrubou exércitos. Exércitos muito bem aparelhados. E ele continuará fazendo tudo isso. Agora ainda mais.
Olavo foi o responsável por devolver ao povo brasileiro a possibilidade de ler grandes autores e obras, calados pela cartilha imposta pelos grupos editoriais e elites universitárias. Graças a ele, tivemos acesso aos melhores escritos em filosofia, arte, literatura, comportamento, religião. Ele nos trouxe autores aos quais não teríamos acesso e, sem os quais, hoje, não poderíamos viver: Louis Lavelle, Ortega Y Gasset, Eric Voegelin, Padre Sertillanges, Jean Guitton, Mário Ferreira dos Santos, Otto Maria Carpeaux, George Bernanos, François Mauriac e muitos, muitos outros…
Ele construiu um pensamento próprio, original, e tivemos o imenso privilégio de ser espectadores de um filósofo vivo, em pleno erguimento de sua filosofia. Ele nos ensinou sobre humildade, amor ao próximo, à Verdade e ao conhecimento, e que não existe outro caminho a não ser o da autoeducação. Ele devolveu a cada um de nós a chance de lermos (e escrevermos) obras literárias fincadas na dimensão humana, fazendo-nos esquecer dos conceitos de estrutura textual e das bobagens desconstrucionistas, as quais, por muitos anos, embotaram nosso senso crítico e nossa sensibilidade como leitores. Ele nos devolveu a sensibilidade literária, o domínio da língua e da linguagem.
Ele nos devolveu a consciência de nossa imortalidade, a necessidade de um trato constante de júbilo e gratidão para com Cristo, Nosso Senhor, através da oração. Ele nos instruiu a aceitar a realidade tal como é, e amá-la, e pararmos de perder tempo com coisas que simplesmente não existem. Ele nos disse para deixarmos de ser idiotas. Ele nos chacoalhou, nos perturbou, nos desinstalou.
Ele fez tudo isso, e muitíssimo mais. Seria impossível descrever, neste ou em qualquer outro texto, tudo o que ele fez. Ele despertou o brasileiro de um sono profundo, o sono da ignorância, da hipocrisia e da mera pose.
Mas, desse homem enorme, cuja obra escrita já soma dezenas e dezenas de livros, sem falar das milhares de horas de aulas gravadas que, com certeza, irão formar uma bibliografia de centenas de obras, tudo o que se diz nas colunas, nos jornais e nessa “mídia”, resume-se a apelidinhos, alcunhazinhas, títulos cujo alcance reduzido espelha o da inteligência de seus criadores. “Guru bolsonarista”, “pseudofilósofo”, autointitulado filósofo, astrólogo. São esses os rótulos erguidos como escudos por pessoas que têm medo.
No fundo, é claro que eles sabem que Olavo não é nada disso… seria impossível não saber, a menos que sejam perfeitos retardados mentais. É óbvio que, em seu íntimo, perguntam-se: mas por que tanta gente afirma, com veemência, que Olavo mudou sua vida? Por que tantos afirmam que Olavo os salvou? Por que tantos desses alunos deram tamanho salto em suas vidas pessoais e carreiras?
Mas permanecerão, infelizmente para eles, sem saber. É preciso ter humildade para se aproximar de um homem tão grande…
Essas pessoas não têm humildade para se atrever a olhar de novo para Olavo e sua obra; por isso, protegem-se sob a carapaça desses ridículos epítetos. No fundo sabem que, se o fizerem, seu mundo irá desmoronar, pois assentado sobre a mentira, o erro e o engano. Verão, aflitos, que tudo o que fizeram até aqui não passa de “perfumaria” das mais baratas, e se tiverem um compromisso existencial consigo mesmos, terão que recomeçar do zero. E isso dá medo, meus amigos. É preciso muita coragem para ser humilde.
E o professor partiu em 24 de janeiro, dia de São Francisco de Sales, padroeiro não apenas dos jornalistas, mas também dos ESCRITORES. O Céu impôs um intercessor para Olavo e sua obra. E, mais uma vez, vemos Deus que nos fala, a todo momento, através dos acontecimentos.
São Francisco de Sales viveu entre dois séculos, o XV e o XVI, e conquistou milhares de corações para Cristo e sua Igreja. Enfrentou calúnias, injúrias e perseguições de todos os tipos, dominou, com muita luta interior, o próprio temperamento. Ensinou com a irresistível doutrina do amor, que traz consigo a liberdade. Ensinou que devemos temer a Deus por amor, e não O amar por temor.
Sozinho, converteu de volta ao catolicismo toda a região de Chablais, ao sul do lago de Genebra. Totalmente tomada pelo calvinismo, havia nela um exército que não deixava os habitantes católicos viverem em paz. São Francisco de Sales foi provocado, vilipendiado, achincalhado, caluniado, ridicularizado, mas, ainda assim, converteu muitos, como ele mesmo contou em carta ao Papa Clemente VIII: “quando chequei aqui, podia-se contar uns cem católicos numa população de cerca de trinta mil pessoas. Hoje, restam apenas uns cem hereges”.
As vitórias de São Francisco de Sales foram decorrência de que, para ele, o amor ao próximo e à Igreja de Cristo não eram pregados como mero adorno ou jogo de palavras, mas na luta incansável pela conquista real da Verdade, a busca pela vida verdadeira, e seus estudos e escritos comprometiam seu ser integralmente, não apenas sob uma ótica temporal, mas envolvendo inclusive seu destino eterno.
São flagrantes as semelhanças com Olavo e seu apostolado (não vou colocar apostolado entre aspas). Olavo também viveu entre dois séculos, o XX e XXI, e, como São Francisco de Sales, reconciliou a cultura de um enorme país, o Brasil, com a tradição. Pregou e converteu pela doutrina da realidade do amor e devolveu-nos o espírito de liberdade.
Olavo também não ensinou através da manipulação de palavras, joguetes de linguagem ou silogismos vazios, mas, como ele mesmo dizia, educou-nos “com o coração na mão”. Prezou a sinceridade como valor máximo, comprometendo-se integralmente com sua doutrina e filosofia, entregando-se, de corpo e alma, aos seus alunos, e a todos, com comprometimento vital, com o risco de sua própria pessoa, envolvendo nisso TUDO, até seu destino eterno.
Mas, como disse São Paulo Apóstolo, eu estou bem certa de que os sofrimentos suportados por Olavo na presente vida não guardam proporção alguma com a Glória agora desfrutada por ele. Antes de partir, ele sofreu muitas perseguições, calunias, injúrias, várias internações hospitalares, sofreu física e moralmente. Deus o preparou, e por isso estamos certos de que para ele já estava reservada a coroa dos justos, depositada em sua cabeça por Nosso Senhor Jesus Cristo, a quem ele tanto nos ensinou a amar, sob o olhar amoroso de Maria.
E eis que, ao que tudo indica, o Céu nos imporá um santo de boca suja, precedido por ninguém menos que o grande São Francisco de Sales. Quem pode frear o Espírito? Ele sopra aonde quer, e que ninguém ouse limitá-lo. Olavo vive eternamente, e agora está mais próximo de nós do que nunca. E mais poderoso do que nunca.