Em defesa do aborto, um artigo da ativista feminista Nina Roxburgh, publicado no site do Australian Institute of International Affairs, relativiza o conceito de humanidade usando, para isso, as violações de direitos humanos contra aborígenes, que relativizavam a sua dignidade humana no passado. Com isso, pretende dizer que o conceito de humanidade é uma construção social, assim como o gênero.
Nina explica: “Com base na tese dos direitos de David Luban e mantendo uma posição feminista sobre o aborto, este artigo apresenta a “humanidade” como uma construção social, em que nenhum escritor ou filósofo conseguiu identificar o que realmente torna alguém humano, a não ser aquele atribuído por outros grupos de pessoas.”
Nina Roxburgh começa apresentando que o não reconhecimento dos direitos humanos dos aborígenes australianos, nos séculos anteriores, ilustraria como ‘humanidade’ é algo relativo. Ou seja, ela utiliza uma violação de direitos humanos como argumentação em seu favor. Aqui fica evidente a semelhança do raciocínio abortista com o escravocrata, e quem está dizendo isso não sou eu, mas ela própria, recorrendo a David Luban. Ela explica que Luban, a partir disso, afirma “que ‘humanidade’ é uma questão de lei” e que “nossa humanidade deriva do nosso caráter como animais políticos“.
E complementa:
“A concepção da natureza humana é contestada entre diferentes disciplinas, onde os psicólogos veem os humanos como essencialmente semelhantes, enquanto os sociólogos e antropólogos veem as vastas diferenças em culturas e crenças que constituem a nossa ‘humanidade’.“
Portanto, não só o episódio histórico da lamentável violação de direitos humanos é usado como precedente, mas também, as diferentes visões entre especialistas.
Em seguida, o ataque aos direitos humanos fica mais evidente, quando Roxburgh cita novamente David Luban:
“A identidade de um ser humano é determinada por sua associação com um grupo social ou comunidade, sugerindo que pertencer a uma espécie não é suficiente para determinar a personalidade.”
Na visão destes, parece-nos que os seres humanos não precisam ser tratados com a dignidade de ser humano apenas por ser da espécie humana, mas por fazerem parte de uma “comunidade”.
Diz a autora:
“Uma mulher é humana por causa de seus relacionamentos e seu status político que transmitem sua identidade como um indivíduo que tem direitos e responsabilidades.” (…) “Com relação à questão do aborto, os direitos das mulheres evidentemente superam os direitos possíveis ou futuros do feto. É ilegítimo valorizar os direitos da pessoa potencial, em detrimento da mulher ” (…) “O aborto não deve mais ser um debate sobre os direitos do feto, é sobre a mulher individualmente e, mais amplamente, sobre a saúde pública e a igualdade das mulheres.”
Fica claro aqui que argumentos usados por defensores do aborto como sensibilidade à dor, atividade cerebral, viabilidade fetal e tantos outros, não passam de narrativa temporária, usada quando lhes convém, afinal, eles possuem uma premissa hierarquicamente superior, que é o conceito subjetivo de “humanidade” e a defesa de uma suposta “autodeterminação”, que ocorre em detrimento da eliminação da vida do feto, que nada pode fazer contra isso.
Essa análise complementa a que fizemos em outro artigo quando analisamos as obras de Giubilini e Minerva e Peter Singer, ao falar do “aborto pós-nascimento”.
A luta para definir quem é humano
Se humanidade é uma construção social, quem define o que é humanidade? A elite que detém o poder de estabelecer as leis. Foi assim em todos os regimes de escravidão e situações em que se retirou direitos humanos de grupos sociais, seja contra aborígenes da Austrália, negros aqui no Brasil, na África; ou durante o nazismo. A premissa é a mesma: o conceito de ‘humanidade’ é definido por alguém e não simplesmente respeitado e aceito por conta do ser vivo ser da espécie humana.
Tudo é construção social
Tudo seria construção social, seja a ‘humanidade’ ou o ‘gênero’. Enquanto supostamente se defende a ciência, o que vira critério absoluto para determinar as regras da sociedade é a ideologia [deles].
Nina Roxburgh diz que pessoas contrárias a institucionalizar a morte de seres humanos no ventre materno (o aborto), representam uma opressão às mulheres. Roxburgh então fantasia que seria culpa do cristianismo a atual construção de papéis de gênero, no tradicional mix entre ideologia de gênero e ideologia abortista, que hoje andam sempre juntas, já que a não permissão ao aborto seria um ‘problema de gênero’.
Diz a ideóloga: “Os defensores pró-vida representam a opressão ao longo da vida dos direitos, independência, liberdade sexual e igualdade das mulheres”. E continua: “Isso reflete a doutrina cristã dominante da procriação, que influenciou o desenho dos papéis de gênero em ambientes sociais.”
Assim, a ideologia feminista criou a fantasia de que gênero são papéis criados socialmente e, em seguida, trabalha um “inimigo comum”, o cristianismo. Parece-nos que ela crê piamente que tudo é construção social, mas o cristianismo elaborou tais construções sociais de maneira equivocada ou inconveniente para certos grupos. Em seguida, a abortista arroga para si e a sua ideologia, o poder supremo de criar da forma correta as construções sociais que a sociedade deveria estar submetida referente aos supostos papéis de gênero e o conceito do que é humanidade.
Imputa-se quase que um crime, de suposta ‘opressão de direitos’, às pessoas que sejam cristãs ou que não concordem que gêneros sejam papéis criados pela sociedade, mas inclinações de condição biológica. Criminaliza-se, desse modo, qualquer não adesão ao total relativismo e à ideologia. Assim, o relativista conseguiu chegar ao ápice da histeria e da fantasia, tornada real em quase toda a sociedade, por meio de leis e instituições de poder que sua elite conquistou em praticamente todas as áreas.
Para justificar a cultura da morte, conseguiram a façanha de absolutizar o relativismo; relativizaram a condição humana; defendem direitos humanos retirando direitos de seres humanos; e a violação dos direitos de aborígenes tornou-se argumento para relativizar a vida de nascituros em nome dos direitos humanos.
Nessa visão torpe de que tudo é relativo e subjetivo, só é objetivo o relativismo escolhido pela elite. Deve ser aceito de forma absoluta. Defendem, assim, que não existe verdade, mas você deve obedecer a única verdade que é que o relativismo a eles conveniente como único modo de organizar a sociedade.
Vivemos hoje no reinado absoluto do relativismo. É absolutamente proibido não ser relativista, por isso, progressistas defendem com absolutismo, o relativismo. Essa é uma complexa situação de confusão lógica, mas bastante nítida hoje em dia e que afeta as leis e questões bioéticas no mundo.