Como bem destacou a Dra. Lenise Garcia em entrevista ao portal Sempre Família, a argumentação pelo direito ao aborto até 12 semanas é tão incoerente que é até difícil contra-argumentar, pois deve-se dizer o óbvio: o feto não passa por qualquer alteração significativa no seu desenvolvimento entre as semanas 11 e 13, por exemplo.
Isso conflita em termos lógicos com todo o debate sobre legalização do aborto, sendo incoerente para com as demais teorias que defendem o aborto legal até 20 semanas ou até nove meses. Trata-se de uma incoerência interna do discurso pró-acesso ao aborto.
A argumentação toda pela liberdade de abortar busca definir parâmetros e condições para caracterizar o feto como indigno de direito à vida em determinados momentos, em função de seu desenvolvimento ou capacidades. Embora desumanize o feto e negligencie uma série de aspectos, ainda assim ela tem essa “lógica”. Porém, quando se fala em aborto até 12 semanas de gestação, o critério muda. A única “justificativa” apresentada, nesse caso, seria “um menor risco no procedimento para a saúde da mulher”, excluindo então toda a análise das capacidades e características do feto, presente nas demais argumentações. Nas palavras da Dra. Lenise Garcia, a definição do limite em 12 semanas “não tem relação com o desenvolvimento do embrião, porque realmente suas características já estão bastante definidas desde muito antes”.
O que isso significa? Na verdade, mostra que o defensor do aborto até 12 semanas deseja apenas ganhar terreno, e em breve irá reivindicar o aborto até fases posteriores da gestação. A estratégia sempre é desenvolvida em etapas, para que então se consiga a legalização até 9 meses, como ocorreu recentemente em Nova York. Isso é feito porque se o lobby apresentar o que realmente pretende de cara, seu pleito jamais será aprovado. Trata-se de um ardil, um estratagema, que esconde o destino final do desfiladeiro da relativização do valor da vida humana, que se pretende legalizar.
O abandono de critérios lógicos para reivindicar o aborto é algo recorrente nesses processos. Veja, por exemplo, que embora muitos argumentem, no Brasil e em outros países, que o aborto deveria ser legal até a idade gestacional em que não há sensibilidade à dor ou “atividade cerebral”, a história mostra que isso também não é um critério que o lobby abortista realmente considere válido. Trata-se de um argumento de ocasião, já que, uma vez obtida essa permissão, mudam de argumentação e exigem o aborto após 20 semanas de gestação baseando-se apenas na “autonomia da mulher”. Assim, chega-se à legalização do aborto até as vésperas do nascimento do bebê. O caso de Nova York foi emblemático, mas existem outros.
A incoerência e falta de base científica do pleito pela legalização do aborto até 12 semanas mostra quais são os objetivos e a estratégia: ganhar terreno, uma fase por vez, até ter o aborto legal durante os nove meses – ou, ainda, após o nascimento.
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